Correio de Carajás

Instituições se unem para educar Warao em Marabá

Da educação infantil à EJA, indígenas venezuelanos estão estudando em escolas de Marabá para se apropriarem do Português como língua de acolhimento

Há mais de dois anos, um grupo de indígenas da etnia Warao (imigrantes da Venezuela) chegou a Marabá e resolveu permanecer na cidade por um longo tempo. Embora não cheguem a duas centenas, eles não passaram despercebidos, porque têm como característica a mendicância, levando até mesmo crianças para pontos estratégicos da cidade com esse intuito.

O fato chamou a atenção de muita gente em sinais de trânsito. As ajudas vieram de várias pessoas sensibilizadas com a situação, mas ao mesmo tempo apareceram as cobranças às entidades públicas para dar assistência social aos Warao.

A comunicação não é das melhores, porque os indígenas não falam espanhol, mas uma língua distintiva. As crianças foram crescendo e precisando ir à escola também. A Secretaria Municipal de Educação passou a atuar junto a eles, recebendo apoio de outras três instituições de ensino superior: UNIFESSPA, UEPA e IFPA, as quais propuseram desenvolver ações, a fim de garantir que crianças, adolescentes, jovens e adultos Warao fossem inseridos no sistema de educação escolar.

Leia mais:

Na última semana, a Secretaria Municipal de Ensino enviou relatório ao Ministério Público Estadual para mostrar as ações que estão sendo desenvolvidas. Nele, informa que uma equipe multidisciplinar fez visitas à comunidade consultas com as famílias, apresentando o projeto para que conhecessem e que pudessem ser ouvidos a respeito da inserção no processo educacional, dos problemas socioeconômicos pelos quais têm passado além de saber a necessidade imediata do que precisam aprender sobre a Língua Portuguesa para viverem melhor neste município.

Durante as consultas, todos os membros da comunidade Warao em idade escolar, se mostraram interessados em estudar. Dessa forma, pediram que as turmas fossem organizadas respeitando a faixa etária dos alunos, as crianças no período da manhã e os adultos no período da tarde, visto que durante a manhã estão na rua vendendo artesanatos e fazendo coleta para o sustento de todos.

Eles manifestaram o desejo em estudar de imediato, pois precisam aprender a língua para facilitar a venda de produtos alimentícios e artesanatos na cidade, ou seja, uma linguagem prática que os ajude na comunicação com a população marabaense, já que pretendem continuar vivendo nesta cidade.

Para a realização da matrícula dos alunos, as instituições sugeriram a adequação da ficha de matrícula. Para essa adequação, a SEMED, em parceria com as outras três instituições, elaboraram uma ficha anexa a ficha já existente com informações como etnia, língua e outras informações para contemplar a população indígena e outro público diferenciado que possa surgir.

A Secretaria Municipal de Educação criou turmas para o curso de ensino de Língua Portuguesa como segunda língua – PLAc – Português como língua de acolhimento exclusivo aos Warao, no intuito de contribuir com o processo de inserção dos mesmos no ensino regular e realizou a matrícula de 33 alunos Warao na educação infantil, Fundamental I/II e Educação de Jovens e adultos.

Na Marabá Pioneira, os alunos foram inseridos em três escolas no núcleo da Marabá Pioneira, próxima à residência onde estão abrigados, respeitando o critério idade/série. Os alunos da educação infantil foram inseridos no NEI Arco Íris; os alunos do ensino fundamental regular estão na Escola Rufina Nascimento; e os alunos da EJA estão inseridos na Escola Judith Gomes Leitão.

Crianças venezuelanas também compartilham da merenda escolar todos os dias de aula

Há um segundo grupo, que está acolhido em uma residência à Avenida Gaviões, Bairro Laranjeiras, com apoio da comunidade católica. No total, são 10 famílias com 46 pessoas no total. Os alunos da educação infantil foram inseridos no Nei Maria Clara Machado; os alunos do Ensino Fundamental Regular estão na Escola Elinda Simplício Costa e os alunos da EJA estão inseridos na Escola Darcy Ribeiro.

As aulas presenciais começaram no dia 13 de setembro. No entanto, os alunos Warao só começaram a frequentar as aulas dois dias depois, no dia 15 de setembro, pois os professores foram orientados pelo núcleo de Educação Escola Indígena a trabalharem a conscientização com os demais alunos e comunidade escolar no geral sobre a situação dos povos em situação de diáspora para que dessa forma, os alunos Warao fossem melhor acolhidos.

Todos os 37 alunos inseridos na Rede Municipal de Ensino pertencentes a essa comunidade receberam da Secretaria Municipal de Educação, material didático de acordo com a necessidade de cada série, além do cronograma de escalonamento de cada escola, como também orientações sobre os horários e funcionamento escolar.

Ao todo, nas duas casas, vivem 116 indígenas Warao, sendo 43% (66 indivíduos) menores de 18 anos e 47 mulheres e meninas.

Entenda o que é a diáspora, que trouxe indígenas a Marabá

Diáspora é a dispersão de um povo em consequência de preconceito ou perseguição política, religiosa ou étnica. O termo foi cunhado inicialmente para explicar a dispersão dos judeus, no decorrer dos séculos, por todo o mundo.

No caso da diáspora venezuelana, não é um processo novo, se iniciou ainda durante o governo do presidente Hugo Chaves e vem se agravando com o governo Maduro. Não é um processo fácil de estudar, pois desde o ano 2000 não existem dados oficiais publicados pelo governo venezuelano sobre o trânsito de seus cidadãos, o que força os pesquisadores a olhar os dados de cada um dos países que recebem os migrantes.

Criada em fevereiro de 2018, com o objetivo de proteger os venezuelanos que atravessam a fronteira, prestando auxílio humanitário a imigrantes, a Operação Acolhida contabiliza mais de 55 mil refugiados e migrantes interiorizados para 675 municípios brasileiros. A estratégia de interiorização é coordenada pelo governo brasileiro e conta com o apoio da Agência da ONU (Nações Unidas) para Refugiados (Acnur) e de outras Agências da ONU, bem como de entidades da sociedade civil.

Por meio dessa estratégia, busca-se garantir a inclusão socioeconômica daqueles que deixaram a Venezuela e encontraram no Brasil uma chance de recomeçar a vida. (Ulisses Pompeu – com informações da Agência Brasil)