Correio de Carajás

Indígenas expulsam 170 invasores da TI Mãe Maria

Membros da Terra Indígena Mãe Maria tiveram de agir no último sábado para conter invasões em sua propriedade

Quando inimigos em comum aparecem, os indígenas se unem para sair em defesa de seu território. Foi o que aconteceu no último final de semana na Terra Indígena Mãe Maria, mobilizando as mais de 30 aldeias do povo Gavião que vivem na área vizinha a Marabá, no município de Bom Jesus do Tocantins.

Eles realizaram uma ação de monitoramento e proteção territorial no último sábado, 25, e durante a operação, foi descoberto um acampamento de invasores dentro do território.

Um cacique ouvido pela reportagem do CORREIO e que pediu reserva de seu nome, revelou que eram em torno de 170 pessoas, que derrubaram árvores pra construir barracas no local. Questionado sobre o perímetro exato desse “acampamento”, ele explicou que é na entrada do Bacabal, próximo à Ladeira Vermelha, “pra cá da Praia do Sossego”, disse ele.

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Na conversa, os invasores teriam mostrado um documento antigo, que não teria mais validade, argumentando que a terra pertencia a João Anastácio de Queiroz, ex-prefeito de Marabá.

Os indígenas explicaram que ali era Terra Indígena e mostraram o decreto que formaliza essa configuração. Segundo o cacique, os invasores “entenderam” que foram enganados e aceitaram sair do local.

Ele disse, também, que a conversa foi tranquila e os acampados se retiraram de forma pacífica. Todavia, pediram um ônibus para sair do local. A informação é de que a maioria das pessoas é oriunda de Itupiranga e algumas de Marabá.

Em nota divulgada no Instagram, a comunidade indígena informou que após tomarem conhecimento da invasão, lideranças indígenas foram até o acampamento para defender a TI e garantir a segurança da comunidade, como explica um comunicado da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa).

Além disso, a Funai e a Polícia Federal também foram acionadas, conforme apurou a reportagem. O número exato de pessoas envolvidas na invasão não foi divulgado, contudo, lideranças indígenas indicam que havia muitas pessoas no local.

O povo Gavião relata que durante os períodos que antecedem eleições, é comum que candidatos façam retirada de madeira na TI, visando à doação para eleitores, o que teria acontecido nesse caso. Informações apuradas pela reportagem contam que castanheiras tinham sido derrubadas e estavam sendo removidas para confecção de tábuas. Os indígenas acreditam que os produtos florestais seriam distribuídos a mando de candidatos a cargos eletivos.

“Com a abertura que a Vale fez para duplicação da ferrovia, o acesso ficou ainda mais fácil para eles entrarem”, desabafa um dos indígenas ouvidos pela Reportagem e que pediu reserva de seu nome.

Para o povo Gavião, o evento reforça a necessidade constante da vigilância do território, uma vez que essa ação – retirar invasores -, por parte dos povos indígenas, para proteger suas terras ancestrais, coloca suas vidas em risco.

“O povo Gavião reitera seu compromisso em defender seu território e sua cultura, e continua a chamar a atenção das autoridades competentes para a importância de medidas efetivas de proteção e respeito aos direitos indígenas”, diz a publicação da Fefipa no Instagram.

A Reportagem do CORREIO procurou a assessoria de imprensa da Vale para comentar a suspeita dos indígenas de que a duplicação da ferrovia estaria facilitando o acesso às suas terras, mas a empresa informou que não se pronunciaria sobre o assunto.

(Luciana Araújo)