Correio de Carajás

Indígenas e bombeiros estão há dias lutando contra incêndio na TI Mãe Maria

Os indígenas afirma que estão trabalhando sem EPIs, utilizando ramos e pedaços de árvores para abafar as chamas

Há mais de um mês, incêndios florestais em vários pontos diferentes afetam a Terra Indígena (TI) Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, a 10 km de Marabá. Indígenas e equipes do Corpo de Bombeiros têm se mobilizado para combater o fogo, que atinge tanto as áreas próximas às aldeias quanto a mata fechada.

A situação vem se agravando com a ausência de equipamentos adequados para os indígenas e a dificuldade de acesso a algumas áreas.

Kátia Silene Tonkyre, cacique da aldeia Akratikatejê, relata à reportagem do Correio de Carajás que os primeiros focos foram identificados há mais de quatro semanas, quando o fogo começou a queimar por debaixo da vegetação. “Esse fogo já tem mais de um mês queimando. A gente apaga, mas o fogo vai por baixo das folhas e do mato. Quando menos espera, ele está de novo à nossa frente, porque o vento espalha as chamas e o fogo vai nascendo de novo, muitas vezes em outros pontos que a gente nem vê”, relata ela, em tom desanimador.

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As condições de combate também são motivo de preocupação. Segundo Kátia, os indígenas estão trabalhando sem Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), utilizando ramos e pedaços de árvores para tentar abafar as chamas. “Homens e mulheres têm lutado de dia e de noite, sem nenhum apoio técnico ou equipamento. Não temos EPIs, não temos nada. Só vamos com coragem e com o mato na mão. É perigoso, porque o fogo queima por baixo e às vezes a gente não vê. Pode acontecer de alguém cair em um buraco com fogo embaixo”, complementa.

Ela ainda afirma que a maioria dos indígenas que participa do combate não tem treinamento especializado. “Poucas pessoas aqui fizeram o curso de capacitação do Ibama. Então, estamos apagando fogo sem ter o conhecimento técnico necessário”, adverte.

A situação na TI Mãe Maria se agrava em razão do clima seco e da propagação rápida das chamas. Durante o dia, o fogo intensifica, principalmente nas horas mais quentes. “Quando chega o meio-dia, o fogo fica mais forte. Temos que dividir em turmas para combater o dia todo, e à noite outras pessoas vão para tentar apagar. Mesmo assim, não estamos conseguindo”, lamenta Kátia, por telefone direto com a editoria do CORREIO DE CARAJÁS.

CORPO DE BOMBEIROS

O tenente-coronel Felipe Galúcio, do Corpo de Bombeiros do Pará, informou nesta quinta-feira (12) que as equipes estão em operação há 10 dias, com uma base montada em Bom Jesus, próxima à TI Mãe Maria. “Atualmente, temos 15 bombeiros com duas viaturas especializadas em combate a incêndios florestais. Realizamos operações diárias na região, mas a situação é muito complicada. São 31 aldeias indígenas na área e muitos focos de incêndio que avançam para dentro da mata fechada. Isso torna o trabalho difícil e complexo”, declara.

O oficial explica que a vegetação densa e o acesso limitado são desafios constantes no combate às chamas. Além disso, os focos estão dispersos em várias aldeias, o que exige estratégias específicas para conter o fogo.

Entre as medidas adotadas, o Corpo de Bombeiros planeja a abertura de aceiros — áreas de terra desmatada que funcionam como barreira para impedir que o fogo se alastre. “Estamos estudando o uso de maquinário para criar esses aceiros e evitar que o fogo avance ainda mais para áreas de difícil acesso”, disse o tenente-coronel. (Thays Araujo)