Correio de Carajás

Indígenas bloqueiam BR-153 horas antes da inauguração da ponte sobre o Araguaia; PRF intermedeia negociação

Por: Kauã Fhillipe

Horas antes da inauguração da nova ponte sobre o Rio Araguaia, que liga Xambioá (TO) a São Geraldo do Araguaia (PA), um grupo de indígenas da Aldeia Sororó realizou um protesto na manhã desta terça-feira (18), aproximadamente 50km do local da solenidade, bloqueando a BR-153 para reivindicar demandas históricas relacionadas ao território e às condições da rodovia.

Durante a ação, um comboio da Polícia Militar e da Polícia Rodoviária Federal chegou ao local para dialogar e tentar garantir a liberação da pista, que só aconteceu por volta do meio-dia. Segundo os manifestantes, enquanto representantes da PRF conversavam com os caciques, policiais militares avançaram sobre o bloqueio sem acordo prévio, o que elevou a tensão no local.

Um dos líderes indígenas gravou um vídeo após o momento de maior conflito: “A gente conseguiu conter a entrada deles. Não aceitamos intimidação. Somos cidadãos de direito, respeitamos as autoridades, mas também queremos respeito”, afirmou.

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Apesar do clima tenso, a situação foi posteriormente contornada. A PRF propôs a formação de uma comissão indígena para ir até Xambioá (onde ocorreria a cerimônia de inauguração da ponte) a fim de apresentar oficialmente suas reivindicações, que, segundo eles, são debatidas há mais de 30 anos em relação às condições da BR-153 e às demandas específicas da comunidade.

Inauguração da ponte marca novo capítulo para a região

Mesmo após o protesto, a inauguração da ponte ocorreu como programado e reuniu autoridades como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador do Pará, Helder Barbalho, e o governador em exercício do Tocantins, Laurez Moreira.

A estrutura, com 2.010 metros de extensão e investimento final de R$230 milhões, promete transformar a dinâmica rodoviária da região, eliminando a necessidade das balsas e facilitando o transporte de cargas e passageiros. A expectativa é beneficiar mais de 1,5 milhão de pessoas e impulsionar a economia do Matopiba.

Durante o evento, Lula lembrou o passado difícil da travessia: “Não era justo alguém pagar para atravessar a balsa. Agora o Estado está garantindo o direito do povo de ir e vir”.

Helder Barbalho destacou que a obra inaugura “um novo momento para a economia do sudeste do Pará”, enquanto Laurez Moreira disse que o empreendimento “vai mudar o destino de muita gente”.

Manifestação expõe demandas antigas em meio a celebração histórica

O protesto indígena, apesar de breve, chamou atenção para a necessidade de diálogo e resolução de pautas que se arrastam há décadas. A comissão formada deve apresentar as demandas diretamente às autoridades federais e estaduais.

Assim, o dia que celebrava um marco na infraestrutura regional também revelou tensões persistentes na relação entre comunidades tradicionais e o poder público, e abriu espaço para que essas vozes fossem ouvidas no momento de maior visibilidade.