Correio de Carajás

Indígena venezuelana morre em Marabá de covid-19 e acende alerta

Parentes de Tereza Palácio entraram em desespero durante o sepultamento dela/Fotos: Evangelista Rocha

Foi sepultada na tarde desta terça-feira (25) o corpo da indígena Tereza Palácio, da etnia Warao, que vivia em Marabá. Ela vinha sofrendo com uma úlcera havia semanas e acabou morrendo na madrugada de hoje, depois de ter contraído covid-19 no Hospital Municipal de Marabá.

O sepultamento da indígena, que ocorreu no Cemitério da Saudade, foi marcado por desespero e revolta por parte dos familiares que moravam com a idosa em seis quitinetes na Folha 33 (Nova Marabá). Ao todo, cerca de 40 indígenas moram no local. Muitos deles passam o dia pedindo esmolas nos semáforos da cidade.

De acordo com Irmã Zélia, do Conselho indigenista Missionário (CIMI), que acompanha a situação, os indígenas vinham apresentando problemas de saúde e o quadro clínico de Tereza Palácio piorou, sendo necessário recorrer ao Ministério Público Federal (MPF).

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Tereza apresentava uma úlcera que se alastrou por um dos tornozelos. O CIMI informou ao MPF que a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, foi procurada para tratar desse caso, e que o órgão relatou não atender indígenas da etnia Warao.

“O caso dessa senhora que veio a óbito é que ela estava com uma úlcera na perna há muito tempo e a suspeita era leishmaniose. Nós recorremos ao Ministério Público Federal, aí o poder público foi acionado, para assistência médica e acompanhamento, mas não foi dado o cuidado necessário”, relata Irmã Zélia, acrescentando que na última sexta-feira a indígena passou mal e foi levada ao hospital pelos próprios filhos. Mas de lá ela não saiu mais com vida.

OAB acompanha o caso

Como representante da Comissão de Direitos Humanos da OAB de Marabá, o advogado Adebral Favacho Júnior fez muitas críticas ao poder público em relação ao tratamento dado aos indígenas Warao que estão no município, especialmente à prefeitura.

“Já requeremos junto à Secretaria (de Assistência Social e Assuntos Comunitários – Seaspac), o aluguel social, um abrigo, um acolhimento para essas famílias e até hoje não foi providenciado a contento, bem como eles não foram acompanhados para a questão da legalização em nosso País. Então, nós, enquanto OAB, estamos vagarosamente acompanhando um e outro lá junto à Polícia Federal para conseguir o protocolo deles aqui e assim eles possam ter acesso a alguns benefícios”, declarou.

Pedido de resposta

O Correio enviou pedido de informação à Assessoria de Comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mas nenhuma resposta havia sido dada até o final desta tarde. Por outro lado, a Seaspac marcou uma entrevista com o Grupo Correio para esta quarta-feira para falar sobre o assunto.

Não conseguimos contato com a Sesai, órgão do Ministério da Saúde. A Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa) e a SMS têm até sexta-feira, dia 28, para apresentar os esclarecimentos ao MPF sobre o assunto.

Quem são?

Os Warao são indígenas refugiados e migrantes de origem venezuelana. Em Marabá, eles estão há um ano, mas os primeiros registros da chegada desse povo ao Brasil são de 2014, segundo informação da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para refugiados.

No município, eles sobrevivem com o apoio de doações financeiras, de voluntários que formaram uma rede de atendimento, que inclusive informou o CIMI sobre a situação dos Warao. De acordo com a estimativa mais recentemente publicada, de junho deste ano, no Pará vivem cerca de 1 mil indígenas Warao. Em Marabá são cerca de 40.

Segundo a agência da ONU, os Warao enfrentam um cenário de risco muito alto. Um dos indicadores mais preocupantes é a alta taxa de mortalidade desse grupo no Brasil devido, em grande parte, a doenças como pneumonia, tuberculose, covid-19 e sarampo. Desde 2017 foram identificadas 80 mortes de indígenas Warao, das quais 40% ocorreram no Pará. (Chagas Filho – Com informações do MPF)