Dar voz às pessoas com deficiência auditiva é promover a inclusão delas no ambiente escolar e social, desenvolvendo políticas que garantam a compreensão de conteúdos educacionais e da convivência social. Em Marabá, como bem explica a coordenadora do Centro de Atendimento Especializado na Área da Surdez (Caes), ligado à Semed, Iracelma Silva Costa, alunos surdos ainda sofrem com a ausência de intérpretes dentro da sala de aula regular. No entanto, ela garante que sobra disposição para mudar a realidade dos estudantes que dependem desse atendimento.
O Caes foi criado em 2013, mas só em junho do ano passado começou a funcionar efetivamente na Escola Municipal Professor Jonathas Pontes Athias, na Folha 22. Iracelma conta que o departamento dispõe de duas salas para desenvolver o plano educacional junto aos 25 alunos com deficiência auditiva matriculados na unidade.
“A nossa proposta é trabalhar as duas línguas: a portuguesa e a libras. Nós já temos um quadro de funcionário de professores surdos, que trabalham com a educação em relação à primeira língua (Libras). Em outro momento eles estão com professor de português, aprendendo a segunda. Nós temos também professores de outras disciplinas, que atendem os alunos em momentos diferentes, geralmente em horários alternativos aos da sala de aula”, explica.
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Ela observa que a dificuldade enfrentada pelos educadores da escola é fazer com que os estudantes entendam o conteúdo explicado nas salas regulares, já que muitas vezes os alunos só copiam as lições passadas e no contraturno vão para o centro especializado para compreendê-las melhor. As dificuldade porque passam muitos alunos especiais foi por eles mesmo aos serem entrevistados pela reportagem com o auxílio da coordenadora. Thiago Sousa da Conceição tem 15 anos e contou que desde bem pequeno estuda na escola Jonathas. Segundo ele, todo o apoio que recebe vem dos profissionais do Caes, já que tem dificuldade de compreender as lições de português e matemática ensinadas pelos demais professores.
Ele diz que é difícil entender as explicações sem um intérprete, mas que tem o apoio de outras pessoas para aprender as lições. Jhermerson Mendes de Souza, de 17 anos, revela ter o mesmo problema. Segundo ele, até falta já levou durante a chamada de presença porque não respondeu ao professor. Além disso, o aluno afirma que enfrenta discriminação dos próprios colegas de classe, que muitas vezes se recusam a incluí-lo em um grupo de trabalho escolar.
Educação bilíngue
Estabelecida pelo Ministério da Educação em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva orienta professores, diretores e pedagogos quanto à garantia do ingresso de alunos com surdez nas escolas públicas e privadas. Dentre suas normativas, está a necessidade de oferta da educação bilíngue, tradutores intérpretes de Libras/Língua Portuguesa e do ensino da Língua de Sinais no âmbito educacional.
No entanto, nesta segunda-feira, 23 de abril, Dia Nacional da Educação de Surdos, ainda é preciso aprimorar os sistemas de ensino para incluir com totalidade as pessoas com deficiência auditiva.
Porém, a rede municipal de ensino dispõe apenas de cinco interpretes para acompanhar as pessoas surdas dentro das escolas, além de estagiários que dão apoio nas atividades, mas ainda assim não é suficiente. O ideal para Iracelma seria colocar um intérprete em cada sala, mas isso ainda não é possível, inclusive pela dificuldade em se encontrar profissionais formados em libras em todo o Brasil.
“Como é uma escola de referência, a gente tenta, junto com o gestor da instituição, trabalhar de uma maneira mais flexível. No momento em que o professor tem dificuldade de passar uma informação para a compreensão de toda a turma, incluindo os surdos, a gente tira o interprete do Caes e leva ele para essa sala”.
Embora, os professores intérpretes não tenham essa função, a equipe não mede esforços para promover a inclusão dentro da escola, acrescenta a coordenadora. “Tem alunos que desistem por não oferecer esse tipo de profissional na sala”, diz ela, que os incentiva a ficar na instituição para vencer aos poucos as barreiras do ensino.
Para tanto, Iracelma diz usar como exemplo os dois professores deficientes auditivos que são intérpretes do Caes. “Eles estudaram aqui desde o ensino infantil até o fundamental. Quando saíram foram para o ensino médio, conseguiram terminar os estudos e depois procuraram uma faculdade. São pessoas que servem de referência para os alunos que enfrenta as mesmas limitações, E exemplos que mostram que quando a gente quer a gente consegue, mesmo com todas as dificuldades”.
Dia Nacional da Libras será comemorado com palestras
Sancionada em 24 de abril de 2002, a Lei 10.436 criou e reconheceu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão. Para celebrar a data, a coordenação do CAES preparou uma programação dedicada às pessoas com deficiência auditiva na Escola Prof. Jonathas Pontes Athias nesta terça-feira (24). A abertura do evento começa às 14h30 com apresentação de slide e vídeo sobre “A importância da Libras”. Às 15 horas, os alunos vão participar da palestra “Diga sim à vida”, ministrada pela psicóloga da Semed, Josilene Teixera Santos.
Em seguida, às 16 horas, será exibido um vídeo sobre a Lei de Libras e depois a coordenadora Iracelma Silva Costa falará sobre a educação dos surdos em Marabá. A comemoração será encerrada com lanche às 17 horas. Segundo dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 9,7 milhões de pessoas no país têm algum grau de deficiência auditiva. Desse número, aproximadamente dois milhões têm deficiência auditiva em situação severa e 344,2 mil são surdos.
Mudança de estrutura
Segundo a coordenadora, Iracelma Costa, a equipe do Caes e do CIL aguarda realocação para um novo prédio escolar com mais estrutura e integralização de serviços para atender ao público com deficiência auditiva. Os departamentos vão ser realocados na Escola Municipal Coronel Magalhães Barata, na Marabá Pioneira, onde irá funcionar tanto o setor pedagógico quanto o clínico. “Esse centro vai integrar a todos”. Quando ocorrer a mudança, que está prevista para o fim do ano, mais pessoas poderão ser atendidas.
“Acredito que, com a mudança, haverá mais possibilidade deles terem uma educação de qualidade, um atendimento melhor em todos os locais em forem inseridos, porque esse atendimento não será só para o município, mas para a região. A gente está muito ansioso para começar o trabalho e ver essa qualidade na educação para eles, porque a voz deles somos nós, eles só conseguem aprender e ter conhecimento do mundo quando a gente se torna igual a eles”, confirma.
(Nathália Viegas)
Dar voz às pessoas com deficiência auditiva é promover a inclusão delas no ambiente escolar e social, desenvolvendo políticas que garantam a compreensão de conteúdos educacionais e da convivência social. Em Marabá, como bem explica a coordenadora do Centro de Atendimento Especializado na Área da Surdez (Caes), ligado à Semed, Iracelma Silva Costa, alunos surdos ainda sofrem com a ausência de intérpretes dentro da sala de aula regular. No entanto, ela garante que sobra disposição para mudar a realidade dos estudantes que dependem desse atendimento.
O Caes foi criado em 2013, mas só em junho do ano passado começou a funcionar efetivamente na Escola Municipal Professor Jonathas Pontes Athias, na Folha 22. Iracelma conta que o departamento dispõe de duas salas para desenvolver o plano educacional junto aos 25 alunos com deficiência auditiva matriculados na unidade.
“A nossa proposta é trabalhar as duas línguas: a portuguesa e a libras. Nós já temos um quadro de funcionário de professores surdos, que trabalham com a educação em relação à primeira língua (Libras). Em outro momento eles estão com professor de português, aprendendo a segunda. Nós temos também professores de outras disciplinas, que atendem os alunos em momentos diferentes, geralmente em horários alternativos aos da sala de aula”, explica.
#ANUNCIO
Ela observa que a dificuldade enfrentada pelos educadores da escola é fazer com que os estudantes entendam o conteúdo explicado nas salas regulares, já que muitas vezes os alunos só copiam as lições passadas e no contraturno vão para o centro especializado para compreendê-las melhor. As dificuldade porque passam muitos alunos especiais foi por eles mesmo aos serem entrevistados pela reportagem com o auxílio da coordenadora. Thiago Sousa da Conceição tem 15 anos e contou que desde bem pequeno estuda na escola Jonathas. Segundo ele, todo o apoio que recebe vem dos profissionais do Caes, já que tem dificuldade de compreender as lições de português e matemática ensinadas pelos demais professores.
Ele diz que é difícil entender as explicações sem um intérprete, mas que tem o apoio de outras pessoas para aprender as lições. Jhermerson Mendes de Souza, de 17 anos, revela ter o mesmo problema. Segundo ele, até falta já levou durante a chamada de presença porque não respondeu ao professor. Além disso, o aluno afirma que enfrenta discriminação dos próprios colegas de classe, que muitas vezes se recusam a incluí-lo em um grupo de trabalho escolar.
Educação bilíngue
Estabelecida pelo Ministério da Educação em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva orienta professores, diretores e pedagogos quanto à garantia do ingresso de alunos com surdez nas escolas públicas e privadas. Dentre suas normativas, está a necessidade de oferta da educação bilíngue, tradutores intérpretes de Libras/Língua Portuguesa e do ensino da Língua de Sinais no âmbito educacional.
No entanto, nesta segunda-feira, 23 de abril, Dia Nacional da Educação de Surdos, ainda é preciso aprimorar os sistemas de ensino para incluir com totalidade as pessoas com deficiência auditiva.
Porém, a rede municipal de ensino dispõe apenas de cinco interpretes para acompanhar as pessoas surdas dentro das escolas, além de estagiários que dão apoio nas atividades, mas ainda assim não é suficiente. O ideal para Iracelma seria colocar um intérprete em cada sala, mas isso ainda não é possível, inclusive pela dificuldade em se encontrar profissionais formados em libras em todo o Brasil.
“Como é uma escola de referência, a gente tenta, junto com o gestor da instituição, trabalhar de uma maneira mais flexível. No momento em que o professor tem dificuldade de passar uma informação para a compreensão de toda a turma, incluindo os surdos, a gente tira o interprete do Caes e leva ele para essa sala”.
Embora, os professores intérpretes não tenham essa função, a equipe não mede esforços para promover a inclusão dentro da escola, acrescenta a coordenadora. “Tem alunos que desistem por não oferecer esse tipo de profissional na sala”, diz ela, que os incentiva a ficar na instituição para vencer aos poucos as barreiras do ensino.
Para tanto, Iracelma diz usar como exemplo os dois professores deficientes auditivos que são intérpretes do Caes. “Eles estudaram aqui desde o ensino infantil até o fundamental. Quando saíram foram para o ensino médio, conseguiram terminar os estudos e depois procuraram uma faculdade. São pessoas que servem de referência para os alunos que enfrenta as mesmas limitações, E exemplos que mostram que quando a gente quer a gente consegue, mesmo com todas as dificuldades”.
Dia Nacional da Libras será comemorado com palestras
Sancionada em 24 de abril de 2002, a Lei 10.436 criou e reconheceu a Língua Brasileira de Sinais (Libras) como meio legal de comunicação e expressão. Para celebrar a data, a coordenação do CAES preparou uma programação dedicada às pessoas com deficiência auditiva na Escola Prof. Jonathas Pontes Athias nesta terça-feira (24). A abertura do evento começa às 14h30 com apresentação de slide e vídeo sobre “A importância da Libras”. Às 15 horas, os alunos vão participar da palestra “Diga sim à vida”, ministrada pela psicóloga da Semed, Josilene Teixera Santos.
Em seguida, às 16 horas, será exibido um vídeo sobre a Lei de Libras e depois a coordenadora Iracelma Silva Costa falará sobre a educação dos surdos em Marabá. A comemoração será encerrada com lanche às 17 horas. Segundo dados do Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 9,7 milhões de pessoas no país têm algum grau de deficiência auditiva. Desse número, aproximadamente dois milhões têm deficiência auditiva em situação severa e 344,2 mil são surdos.
Mudança de estrutura
Segundo a coordenadora, Iracelma Costa, a equipe do Caes e do CIL aguarda realocação para um novo prédio escolar com mais estrutura e integralização de serviços para atender ao público com deficiência auditiva. Os departamentos vão ser realocados na Escola Municipal Coronel Magalhães Barata, na Marabá Pioneira, onde irá funcionar tanto o setor pedagógico quanto o clínico. “Esse centro vai integrar a todos”. Quando ocorrer a mudança, que está prevista para o fim do ano, mais pessoas poderão ser atendidas.
“Acredito que, com a mudança, haverá mais possibilidade deles terem uma educação de qualidade, um atendimento melhor em todos os locais em forem inseridos, porque esse atendimento não será só para o município, mas para a região. A gente está muito ansioso para começar o trabalho e ver essa qualidade na educação para eles, porque a voz deles somos nós, eles só conseguem aprender e ter conhecimento do mundo quando a gente se torna igual a eles”, confirma.
(Nathália Viegas)