A dor da incerteza tem sido companheira diária de Leidiane Leite dos Reis desde 16 de outubro de 2019, data em que o filho, Mychael dos Reis Andrade, então com 16 anos, desapareceu misteriosamente em Parauapebas. Quase seis anos depois, a angústia continua, sem qualquer resposta das autoridades sobre o paradeiro do adolescente.
Naquele dia, Mychael saiu de casa, na Rua Airton Sena, no Bairro Nova Vida lI, dizendo que iria jogar futebol. Vestia short, camiseta e levava o celular. Não levou mochila, documentos ou qualquer outro pertence.
Quando anoiteceu e o horário habitual de retorno passou, Leidiane foi até o local onde ele costumava jogar, mas não o encontrou. Procurou câmeras de segurança nas redondezas, mas não havia nenhuma imagem que mostrasse o trajeto do filho. Desesperada, foi até a Delegacia de Polícia Civil, mas ouviu que somente após 24 horas poderia registrar um boletim de ocorrência. Desde então, não teve mais nenhuma resposta.
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A Polícia Civil, questionada pelo Correio de Carajás sobre o andamento do caso, informou por meio de nota enviada pela assessoria de comunicação que um inquérito policial foi concluído e encaminhado à Justiça. No entanto, o conteúdo dessa conclusão permanece inacessível para quem mais precisa: a mãe de Mychael. O documento também não foi compartilhado com a reportagem.
Leidiane afirma que nunca foi informada sobre o resultado das investigações. “Até hoje ninguém me chamou para dizer o que aconteceu com o meu filho. Eu só quero a verdade. Só quero poder descansar dessa angústia”, desabafa.
Em busca de esclarecimentos, a reportagem entrou em contato também com o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), responsável por analisar o inquérito encaminhado pela Polícia Civil. Três e-mails foram enviados para a assessoria de imprensa sem resposta.
Na quarta tentativa, via WhatsApp, o contato foi protocolado com sucesso. Contudo, até o momento desta publicação, o MPPA não retornou as informações solicitadas.
A ESPERA
Sem respostas, Leidiane carrega a ausência como uma ferida aberta. Ela relata que todos os dias ainda olha para o portão de casa esperando que o filho volte. “O tempo passa, mas a dor não. Eu espero todos os dias pelo abraço do meu filho, se for o caso, se ele ainda estiver vivo. Mas eu preciso saber.”
Ela pede a quem souber de informações que levem até o filho que faça uma denúncia anônima pelos contatos do Correio de Carajás ou da Polícia Civil.
O Correio de Carajás segue acompanhando o caso e continuará cobrando transparência em relação à investigação.
DESAPARECIDOS
Entre janeiro de 2024 e maio de 2025, o município de Parauapebas registrou 106 pessoas desaparecidas. Somente em 2024, foram 74 ocorrências, enquanto entre janeiro e maio de 2025 já foram contabilizados 32 novos casos.
Dos 106 desaparecimentos registrados no período, 66 pessoas continuam desaparecidas — sendo 42 referentes ao ano de 2024 e 24 ao ano de 2025. Isso representa um índice de 62,26% de casos ainda sem solução.
Os dados foram obtidos com exclusividade pelo portal Correio de Carajás por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI). Os registros oficiais são da Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (SEGUP), Secretaria Adjunta de Inteligência e Análise Criminal (SIAC), Diretoria de Estatística e Análise Criminal (DEAC) e Coordenação de Tecnologia e Qualificação de Dados (CTQD).
(Theíza Cristhine)