Morreu na manhã desta quarta-feira (17), no Hospital Regional de Redenção, o chefe caiapó Paulinho Paiakã. Ele foi uma das mais vibrantes vozes do movimento indígena no período da redemocratização, mas marchou ao desprezo após se envolver em um rumoroso caso de estupro. Conforme apurou o CORREIO junto ao Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (DSEI), o corpo do nativo foi trasladado para Ourilândia do Norte — onde fica sua aldeia de origem — à tarde. A morte repercute na imprensa nacional e internacional.
Paiakã tinha cerca de 68 anos — ele não possuía registro de nascimento — e passou dez dias internado em leito de tratamento intensivo após ser acometido pela covid-19. Antes disso, ele passou pela ala clínica do Hospital Municipal de Redenção, mas precisou ser regulado para a unidade de referência após o agravamento do seu quadro clínico.
Paiakã tornou-se mundialmente conhecido na década de 1980, quando passou a ter envolvimento mais ativo em defesa das causas indígenas, tendo como aliadas grandes estrelas internacionais, entre elas o cantor Sting.
Leia mais:Ao lado de nomes como Mário Juruna, Tuíra Kayapó, Ailton Krenak, Álvaro Tukano e Raoni Metuktire, Paiakã atuou como ferrenho defensor da demarcação das terras indígenas e da expulsão de garimpeiros e madeireiros. Essas lideranças tiveram papel decisivo no processo da Constituição de 1988, que consagrou aos povos indígenas o direito ao território.
Levado por missionários a Altamira quando era adolescente, Paiakã se tornou um dos primeiros caiapós a aprender português e a conhecer o mundo dos brancos. Em 1972, o jovem foi contratado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) para ajudar na aproximação com indígenas que estavam no caminho da construção da Transamazônica.
O indígena realizou diversos protestos contra o avanço da hidrelétrica de Belo Monte. Em 1988, ele e Kube-i, outra liderança caiapó, estiveram em Washington — sede dos Estados Unidos —, onde se reuniram com representantes do Banco Mundial, da Casa Branca e do Congresso.
O ciclo de sucesso do indígena foi abreviado em 1992, quando Paiakã foi acusado de estupro pela estudante Sílvia Letícia Ferreira, à época com 18 anos, em Redenção. O processo gerou uma acirrada batalha judicial em torno da imputabilidade do indígena. Ele acabou condenado pela 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Pará, por unanimidade, a seis anos de prisão em regime fechado.
Irekrã, esposa de Paiakã, acusada de ter agredido Letícia para facilitar a ação do marido, também foi condenada. Ela recebeu pena de quatro anos de detenção em regime semiaberto.
A Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa) lamentou a morte do líder indígena e informou que Paiakã apresentava quadro de insuficiência respiratória e resultado positivo para o novo coronavírus.
De acordo com o coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena na região Kayapó, Lázaro Marinho, o órgão está prestando toda a assistência necessária à família do cacique.
“O DSEI está dando apoio à família. Nos termos da covid-19, ele deveria ser enterrado imediatamente, mas entendendo que ele é uma liderança Kayapó, nós articulamos com a família que ele fosse enterrado na aldeia A-Ukre, que é a aldeia de origem dele”, sustenta Marinho.
O enterro de Paiakã não terá manuseio do corpo. É um costume da cultura Kayapó que, durante um enterro, o corpo do indígena passe por um ritual fúnebre e receba pinturas. O procedimento traria risco de contaminação para outros membros da tribo.
REPERCUSSÃO
A imprensa nacional e internacional repercute a morte de Paiakã. Conforme o jornal belga “La Libre”, o cacique caiapó foi ofuscado por outros líderes indígenas, a exemplo do chefe Raoni Metuktire, com sua famosa bandeja labial. Segundo o veículo, Paiakã havia retomado o ativismo nos últimos anos, se manifestando contra o presidente Jair Bolsonaro.
No México, o periódico “El Siglo de Torreón” estampa na manchete que Paiakã foi um ‘importante líder indígena da década de 80 no Brasil’. Em texto repleto de adjetivos, o jornal de língua espanhola afirma que o cacique atuou para defender a floresta amazônica de ‘usurpadores’.
Na Espanha, a “Agência EFE” pondera que Paiakã foi um dos líderes do Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, que aconteceu em Altamira em 1989. O veículo também cita que o polêmico cacique foi preso e condenado por violar uma estudante com a ajuda da esposa.
A “Folha de São Paulo”, na seção “Obituário”, narra a história do cacique da etnia Kayapó. O jornal argumenta que o indígena ajudou a demarcar terras de seu povo, liderou ato contra garimpeiros, mas teve seu nome envolvido em estupro. Segundo a Folha, Paiakã deixa a viúva, Irekrã, e três filhas.
O portal “Último Segundo”, do provedor Internet Group (IG), elenca que Paiakã foi um militante ecológico que lutou contra garimpeiros e, em 1992, se envolveu em polêmica. O veículo confirma que o cacique foi vítima de uma severa insuficiência respiratória.
O “Metrópoles”, de Brasília, expõe no lead da matéria que Paiakã foi condenado a seis anos de prisão por estuprar uma estudante branca. No corpo do texto, há uma mensagem de pesar do deputado federal e ex-governador do Amapá Camilo Capiberibe (PSB). O órgão de imprensa recebeu as informações da Funai.
No mesmo rumo, o site “O Antagonista” alega que Paiakã era defensor da demarcação de terras e da expulsão de garimpeiros e madeireiros. Além disso, prega que ele teve papel importante na inclusão de direitos dos povos indígenas na Constituição de 1988.
Em Belém, o portal de “O Liberal” destaca que Paiakã morreu vítima da covid-19 em Redenção. Conforme o veículo, o chefe caiapó teve grande protagonismo na luta indígena do país. A fonte de informações da reportagem foi a “Revista Fórum”, que é ligada a movimentos de esquerda no país. (Vinícius Soares)