A visão do presidente dos EUA, Donald Trump, de uma Faixa de Gaza sem os habitantes palestinos e transformada em um resort de praia internacional sob o controle dos EUA remonta a uma ideia lançada por seu genro Jared Kushner há um ano.
A ideia, delineada por Trump em uma coletiva de imprensa na terça-feira (4), provocou reações de choque tanto dos palestinos quanto de críticos ocidentais, que afirmam que isso equivaleria a uma limpeza étnica e seria ilegal de acordo com o direito internacional.
Mas essa não foi a primeira vez que Trump falou de Gaza em termos de oportunidades de investimento imobiliário. Em outubro do ano passado, ele disse a um entrevistador de rádio que Gaza poderia ser “melhor do que Mônaco” se fosse reconstruída da maneira correta.
Leia mais:A ideia de uma reconstrução radical de Gaza foi ventilada logo depois que Israel iniciou sua campanha no território palestino após o ataque liderado pelo Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, principalmente por Kushner, que, como enviado especial para o Oriente Médio no primeiro mandato de Trump, ajudou a conduzir os “Acordos de Abraão”, normalizando as relações entre Israel e vários países árabes.
“Um imóvel à beira-mar de Gaza poderia ser muito valioso”, disse Kushner, que certa vez descreveu todo o conflito árabe-israelense como “nada mais do que uma disputa imobiliária entre israelenses e palestinos” em um evento em Harvard em fevereiro de 2024.
“É uma situação um pouco infeliz, mas acho que, do ponto de vista de Israel, eu faria o possível para tirar as pessoas de lá”, disse ele. O próprio Kushner era um promotor imobiliário em Nova York antes do primeiro mandato de Trump.
Um porta-voz de Kushner não respondeu imediatamente a um pedido de comentário para esta reportagem.
‘Impossível de ser implementada’
Também havia dúvidas sobre como a proposta de Trump deveria ser entendida, dada a sua reputação de negociador, acostumado a perturbar seus parceiros de negociação com ataques de ângulos inesperados.
A Arábia Saudita, a potência predominante no mundo árabe, “não levará essa declaração muito a sério”, disse uma fonte próxima à corte real em Riad. “Ela não foi bem pensada e é impossível de ser implementada, portanto, ele acabará percebendo isso.”
Em um comunicado nesta quarta-feira (5), o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita disse que o reino rejeitou qualquer tentativa de deslocar os palestinos de suas terras. Tanto a Autoridade Palestina quanto o Hamas também condenaram os comentários.
A Reuters não conseguiu determinar se Kushner, cuja empresa de private equity recebeu investimentos de países do Golfo, incluindo US$ 2 bilhões da Arábia Saudita, se envolveu em alguma discussão na região sobre o investimento em Gaza.
Para os palestinos, por mais improvável que possa parecer a ideia de Gaza como um resort à beira-mar, esse tipo de conversa lembra a “Nakba”, ou catástrofe após a guerra de 1948, no início do Estado de Israel, quando 700 mil pessoas fugiram ou foram forçadas a deixar suas casas.
(Fonte:G1)