📅 Publicado em 05/08/2025 10h42
Nascido em Chapadinha (MA) e com alma inquieta, Rafael Castro Silva carrega no peito um pedaço do sertão e no cérebro, chips de inovação. Já foi professor, laboratorista da Vale em Parauapebas por quase uma década, e hoje comanda a Gestalt Tecnologia & Educação, uma agência que une inteligência artificial, educação e impacto social no coração da Amazônia mineral.
Mas tudo começou com… cuscuz.
“Eu vendia cuscuz e histórias. As pessoas vinham pela comida, mas ficavam pelo marketing.”
Leia mais:Foi nesse calor humano que Rafael descobriu sua nova paixão: mostrar para pequenos empreendedores que tecnologia não é coisa de multinacional — é ferramenta de sobrevivência e reinvenção.
Como se faz IA na Amazônia?
Na região de Parauapebas, Canaã dos Carajás e Curionópolis, Rafael percebeu logo de cara: falar de automação e IA era como falar em código alienígena. “A promessa era boa, mas ninguém entendia. Então fiz o que a tecnologia ensina: testei, errei, aprendi e evoluí.”
Hoje ele opera 100% em home office com uma equipe espalhada pelo Brasil, e atende mais de 40 clientes ativos, com soluções de consultoria e produtos SaaS (Software como Serviço). O foco? Pequenos negócios que precisam vender — e rápido.
“Trabalhamos com todos os nichos, principalmente o empresarial. O público que mais gera recurso para o nosso empreendimento, por incrível que pareça, é o que não tem dinheiro: são empresas de bairro, pequenas empresas. Isso porque hoje oferecemos um produto, software e catálogos digitais, voltado para pessoas que já entenderam que precisam estar na internet, mas não têm recursos suficientes para estar lá e nem conhecimento. Então oferecemos um produto que já entregamos pronto, onde o usuário entra, compra, e a venda chega feita no WhatsApp desse empreendedor. Ele paga um valor simbólico de R$ 147 e a gente entrega tudo isso pronto, com recorrência de três meses. Vendemos isso em escala”, detalha.
Missão social com propósito
A mágica está nos bastidores: catálogos digitais, automação de vendas, marketing por WhatsApp, vídeos feitos com IA, áudios em Libras e plugins de leitura. “Metade do catálogo é feito com IA. O cliente não precisa saber disso — ele só quer algo que funcione”, emenda Rafael, que compara IA a uma bicicleta elétrica: “Ela não pedala por você, mas te faz chegar mais longe com menos esforço.”
IA na quebrada: como funciona?
Nem só de lucro vive a Gestalt. A agência criou o projeto Futuro Digital, que treina jovens de comunidades da região para oferecer serviços digitais — mesmo sem experiência técnica.
“Eles já entendem de redes. Nós damos a ponte pro mercado e o conhecimento de como vender e ganhar com isso.”
Além disso, Rafael participa de projetos com o Sebrae, o Centro Mulheres de Barro, a Vale, o Instituto Equatorial e iniciativas de turismo com tour virtual em Serra Pelada, onde visitantes já podem explorar locais históricos e comprar diretamente de empreendedores locais — tudo com IA, QR Codes e experiências imersivas.
O maior desafio? A mentalidade.
Apesar do crescimento, Rafael é direto: “O que nos separa da IA não é dinheiro, é mentalidade. A informação chega aqui com 40 anos de atraso.” A solução, para ele, é clara: “Educar. Ensinar. E repetir. A IA não deixa ninguém mais burro nem mais inteligente. Mas faz você ganhar tempo. E tempo, no mundo dos negócios, é dinheiro”, sintetiza.
E o futuro?
Rafael sonha alto, mas com os pés firmes no chão paraense: Ele diz que quer uma região onde o pequeno empreendedor não se sinta pequeno. Onde ele entenda que pode ter acesso às mesmas ferramentas que uma grande empresa tem. E que pode ganhar com isso.
“Muitas vezes, a Amazônia é retratada apenas como espaço de extração de recursos. Precisamos mostrar que inteligência e empreendedorismo tecnológico na região de Carajás ajudam a projetar uma imagem mais completa e conectada ao Século XXI”.