Correio de Carajás

Homicidas fazem vídeo durante uma execução

Amigos e familiares do ex-presidiário João Pedro Souza Curvina, de 20 anos, estavam na 21ª Seccional Urbana de Polícia na manhã de ontem, para pedir que a Polícia Civil tentasse localizar o corpo de João Pedro, inclusive usando auxílio do Corpo de Bombeiros se fosse o caso. Ele foi morto na noite da última sexta-feira, dia 8, em uma área de mata, na Folha 1, ocupação urbana da Nova Marabá que fica nas margens do Rio Tocantins. A execução de João Pedro foi filmada pelos próprios criminosos.

O vídeo que filma o momento exato da execução tem apenas 10 segundos de duração e está circulando em vários grupos de WhatsApp. Nele, a vítima já aparece amarrada com as mãos para trás, vestida de camisa e apenas de cueca, deitada no chão e sendo chutada por um dos assassinos.

João Pedro ainda questiona um dos seus algozes, dizendo que lhe conhece, mas seu apelo é em vão. Um dos acusados, provavelmente o que está com a arma do crime nas mãos, pergunta se aquele é o momento para matar João Pedro. “Já é? Já é, doido?”, pergunta duas vezes, ao que um dos comparsas responde: “Já é”, ordenando a execução.

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Em seguida, o atirador dispara nada menos de oito vezes na direção da vítima, que está indefesa no chão. Os disparos são direcionados no rosto e na cabeça de João Pedro, cujas últimas palavras são: “Eu te conheço”, uma forma de apelar para não ser morto. A arma usada parece uma submetralhadora.

OUTRO VÍDEO

Para aumentar a agonia da família da vítima, no início da tarde de ontem, pescadores gravaram um vídeo de 1 minuto e 19 segundos registrando o momento em que encontram um cadáver boiando nas águas do Rio Tocantins. Tudo leva a crer que se trata do corpo de João Pedro, pois a vítima está com as mãos amarradas para trás, uma camiseta aparentemente da mesma cor da que João Pedro usa no vídeo em que foi morto; e também está com um pano de cor verde enrolado no pescoço, exatamente igual ao que ele usava quando foi metralhado.

Corpo encontrado boiando no rio ontem à tarde possivelmente é o de João Pedro

Mas os pescadores, provavelmente por não terem uma corda e também não saberem como se portar diante do achado inusitado, deixam o corpo boiando no rio. “Bora subir, macho! Deixa esse cabra aí”, diz uma das pessoas que gravaram o vídeo.

Contatado ontem à tarde pela reportagem do jornal CORREIO, o delegado Tiago Carneiro, superintendente de Polícia Civil, disse que manteve contato com o delegado de Itupiranga, Toni Vargas, para que este verificasse se o corpo havia aparecido naquela cidade, já que esse é o caminho natural do rio, mas até ontem ninguém tinha visto nada parecido em Itupiranga.

Parentes do morto – que pediram para não ser identificados – comentaram com a reportagem que João Pedro morou muito tempo na Folha 33, mas mudou-se para a Folha 8. No dia em que desapareceu, ele disse para sua mãe que iria receber um dinheiro na Folha 1. Era por volta das 17h quando ele saiu de casa.

A última vez que ele visualizou o WhatsApp foi por volta às 20h30 daquela sexta. Depois disso, os parentes não souberam mais notícias de João Pedro. A preocupação ia aumentando à medida que ele não dava notícias. Até que no dia seguinte, sábado, o vídeo começou a circular nos grupos de WhatsApp e chegou às mãos de familiares e amigos da vítima.

Agora, a única coisa que eles querem é saber onde está o corpo para poder dar ao rapaz um enterro digno. “Não queremos nem saber quem fez isso e nem por que, pois essa gente é muito perigosa. Não queremos nem aproximação”, disse uma pessoa próxima da vítima, que pediu para não ser identificada. (Chagas Filho com informações de Josseli Carvalho)

SAIBA MAIS

João Pedro chegou a ser preso acusado de roubo majorado, mas respondia ao crime em liberdade. Ele tinha um filho pequeno e deixou uma mulher grávida de dois meses.