Amarelinha, esconde-esconde, pira-pega, cabra-cega, carrinho. Quem não lembra com saudade da época da infância e gostaria de voltar nem que fosse por um dia para brincar e enxergar o mundo com as lentes coloridas dos pequenos? Evocar a infância é rememorar as brincadeiras, atividades que se atualizam, atravessam gerações e são a própria essência do “ser criança”. Estudos arqueológicos mostram que na Grécia e Roma antiga já existiam alguns jogos semelhantes ao pião. Bonecas datadas do século IX a.C. foram encontradas em túmulos de crianças. Já nas ruínas Incas, arqueólogos encontraram uma diversidade de brinquedos infantis. Exemplos de que os brinquedos e o ato de brincar datam de tempo imemoriais e são manifestações espontâneas da infância.
Desenvolvendo no brincar – O simples ato de brincar, guarda, na realidade, a chave do desenvolvimento infantil. Teorias desenvolvidas por estudiosos como Piaget e Wallon, demonstram que a brincadeira permite a criança acessar o mundo a sua volta e se relacionar com os objetos, afetos e comportamentos humanos.
Para a professora da faculdade de Psicologia da Unifesspa, Dra. Mayara Sindeaus, brincar promove um desenvolvimento integral das crianças. “A brincadeira é associada tanto ao desenvolvimento motor quanto ao social. Nesta fase inicial do desenvolvimento humano, as atividades que envolvem movimento e posturas são importantes para o desenvolvimento psicomotor, afetividade e percepção do meio ao qual ela está inserida, além da construção de memórias afetivas extremamente positivas de quem estava dividindo este momento prazeroso com ela”, explica.
Leia mais:Ainda sobre a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, a professora faz um alerta ao que tange as tecnologias. Em um tempo em que os jogos e equipamentos eletrônicos tomaram espaço em relação às brincadeiras que envolvem presença e materialidade, é importante procurar meios de balanciar as diferentes formas de brincar. “As brincadeiras com equipamentos eletrônicos não suprem a demanda das crianças. Quando elas brincam só com o celular, tablet ou computador, o contato delas com si mesmo e o mundo fica muito limitado. Brincadeiras ao ar livre, mas mesmo dentro de casa, devem ser incentivadas e possibilitadas para que possam promover o movimento, os aspectos emocionais e sociais das crianças”, pontua.
Aprender brincando – Além de contribuir para o desenvolvimento psicomotor, social e afetivo, as brincadeiras abrem inúmeras possibilidades de aprendizado, não fazendo oposição às responsabilidades e ao conhecimento escolar formal. Segundo a coordenadora pedagógica da escola Prince Baby, Meuri Rodrigues, a experiência sensorial das brincadeiras potencializa o processo de aprendizagem das crianças.
“Quando elas aprendem com o brincar, aprendem de forma prazerosa e o estudar não se torna uma obrigação. O aprendizado por meio da vivência, do contexto, do relacional é surpreendente, tornando as crianças muito mais seguras. Uma experiência recente que tivemos foi com o projeto ‘Entre Poemas’, em que trabalhamos com as crianças um poema sobre a cobra utilizando diversos recursos. O desenho, a pintura e o fantoche da cobra, até chegar nas palavras. A mesma coisa fizemos com o tema avião. Antes das crianças associarem a letra ‘a’ ao avião, fizemos juntos um avião de dobradura e brincamos, o que aproximou o conteúdo da realidade deles”, explica.
Brincar é para todas as idades – “Quando eu era criança brincava muito de pique esconde, pega-pega, cabo de aço, bom barqueiro. Como éramos de família humilde, fazíamos brinquedos com chinelas velhas, latas de óleo e sardinha, plástico. E brincávamos no quintal. O quintal era o nosso mundo”, relembra Gabriele Silva.
Hoje, a contadora de Histórias coloca a criança interior dela para brincar em cena a cada performance que faz na cidade, promovendo um resgate e atualização de antigos jogos e brincadeiras. “Eu sempre levo para as contações cantigas de roda, brincadeiras tradicionais, crio os brinquedos poéticos que se relacionam com livros. Nas contações de história, brinco e me sinto criança de novo. A brincadeira constrói nossa identidade, nossa cultura”, resume.
Com a palavra, as crianças! – Os pequenos Caio, 3, e Javier, 4, revelaram suas identidades secretas com exclusividade para o Grupo Correio (rsrsrs). Na realidade, eles são, respectivamente, o Homem-aranha e o Batman, e a principal atividade deles, quando não estão salvando a cidade, é imaginar e brincar. Durante a comemoração do dia das crianças na escola, eles contaram quais são as brincadeiras preferidas deles. “Eu gosto de brincar de balanço, de escorrega, de correr e brincar no pula-pula. Em casa eu brinco bola, carrinho e castelo. Gosto de brincar com meus amigos, minha mãe, meu pai e sozinho”, diz Caio, que é complementado por Javier: “Gosto de brincar com as minhas pedras, cristais, com o carro do Batman e de ouvir histórias. Gosto de ser criança, mas quero ficar logo grande”. Caio concorda com Javier e diz que quer ser grande também. Quando perguntados se ainda vão brincar quando crescerem, eles respondem ao mesmo tempo, sem hesitar: “Sim!”. (Bianca Levy)