Correio de Carajás

Há 30 anos, Marabá sofria maior incêndio florestal de sua história

Incêndio na Fazenda Taboquinha destruiu mais de 300 alqueires próximo à área urbana. Queimada deixou Marabá coberta de fumaça por mais de duas semanas

Jornal Correio noticiou o incêndio florestal sem precedentes registrado em Marabá. Diamantino era o dono da área

Quem assiste Marabá ser consumida pelas intensas queimadas e densas cortinas de fumaça ano após ano durante o verão amazônico, talvez não lembre ou não estivesse por aqui em 1994, quando o maior incêndio florestal da cidade foi registrado. Cerca de 300 alqueires de mata de uma fazenda próximos à cidade foram destruídos pelo fogo. “A fumaça foi tão densa que se transformava em nuvens das mais variadas formas, tornando um espetáculo de desolação para os olhos dos curiosos”, descreveu o jornal Correio do Tocantins, à época.

A queimada aconteceu na Fazenda Taboquinha, localizada às margens da Rodovia PA-150, no sentido de Eldorado do Carajás. A propriedade pertencia ao empresário e pecuarista José Francisco Diamantino (falecido em 2013) e ainda está sob a gestão de seus herdeiros.

Na ocasião, ele afirmou às autoridades que o incêndio foi acidental e que não houve nenhum dano ecológico. Contudo, a prática já havia sido autorizada pelo Ibama. Diamantino declarou que alguém colocou fogo acidentalmente em uma extremidade da área e por conta do vento, que estava a favor, o fogo se alastrou.

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O projeto que havia sido autorizado pelo Ibama, permitia a queima de 200 alqueires de roçado na área onde o incêndio aconteceu.

Em retrospecto, colocar fogo em áreas de mata já era uma prática comum há 30 anos. Até hoje, criadores de gado e produtores rurais utilizam o recurso para abrir espaço para o pasto ou para limpar o terreno.

Na época, o então promotor do Meio Ambiente, Ernestino Roosevelt Silva Pantoja, manifestou interesse no posicionamento do Ibama, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, para tomar as medidas adequadas em relação aos danos causados ao meio ambiente. Rumores daquele período indicavam que duas pessoas haviam morrido no incêndio, mas os relatórios do Corpo de Bombeiros não acusaram nenhum óbito.

TUFÃO ARRASADOR

O fogaréu teve início no final da tarde de uma quinta-feira, dia 18 de agosto de 1994 e, na manhã seguinte, 19, o incêndio já era devastador.

“Houve uma tempestade de vento daquelas de torcer e derrubar árvores”, disse Diamantino naquele tempo.

Devido a violência das chamas, casas e um estoque de madeira cortada foram ameaçadas pelo fogo. Faíscas chegaram a pular para o outro lado da PA-150, numa distância de mil metros.

Após a chegada do Corpo de Bombeiros, pessoas que estavam nas proximidades foram removidas para longe do perigo e uma estratégia chamada de “contrafogo”, para conter o avanço do incêndio, foi colocada em ação.

Cerca de 80 homens colocaram fogo em uma área, em direção contrária ao vento, com espaçamento de dois metros entre cada bloco. Esta é uma técnica de combate a incêndios florestais e consiste em provocar um incêndio menor e controlado em uma área estratégica, com o objetivo de criar uma barreira que impeça o avanço das chamas do incêndio principal.

A ideia é que o fogo menor consuma o combustível (matéria orgânica seca) disponível, encontrando assim um terreno já queimado e sem material para se propagar quando se encontrar com a queimada maior.

 

CURIOSIDADES

A luta pela preservação do Meio Ambiente já era forte naquela época e o grande incêndio na Fazenda Taboquinha chamou a atenção de manifestantes que lutavam em prol da ecologia. A palavra meio ambiente ainda não tinha tanta força naquela época. Um grupo chegou a realizar um protesto no local, portando faixas contra a queimada.

O jornal Correio registrou, ainda, que uma equipe da Nasa estava na cidade fazendo um levantamento de focos de incêndio e derrubada de árvores. Eles sobrevoaram a fazenda durante o incêndio.

A reportagem também apurou que proprietários de áreas adjacentes à Taboquinha aproveitaram do sinistro para colocar fogo em suas derrubadas nos dias seguintes ao fato, sem serem incomodados pelo Ibama.

Depois desse episódio e a grande repercussão nacional que ele teve, o pecuarista José Francisco Diamantino doou uma área de 20 alqueires para criação da Fundação Zoobotânica de Marabá (FZM), para preservação de espécies da fauna regional. A entidade foi estabelecida em 1997, após reunião entre um grupo de ativistas ambientais do município.

ATUALIDADE

Nenhum outro incêndio, em Marabá, foi tão grandioso quanto este. Entretanto, anualmente a cidade e sua circunvizinhança sofrem com constantes queimadas durante o período de estiagem (verão amazônico).

Somente no mês de julho deste ano, a Defesa Civil atendeu 49 ocorrências de queimadas na área rural e urbana do município.

Em muitos casos, o fogo é usado para limpar terrenos, em outros a combustão pode ser espontânea em áreas extremamente secas.

Para prevenir queimadas, o Corpo de Bombeiros recomenda que a população evite colocar fogo no lixo e, no caso das propriedades rurais, adote medidas de contenção antes de iniciar qualquer foco de incêndio. Limpar o terreno e fazer a abertura ao redor da área a ser queimada são práticas essenciais para evitar que o fogo se espalhe, alerta a corporação.

(Luciana Araújo)