Retomo esta coluna para dizer o óbvio. Sim! porque de tempos em tempos precisamos dizer o óbvio.
Precisamos dizer que a Terra não é plana. Precisamos dizer que a vacina não mata. Precisamos dizer que ninguém tem o direito de fazer justiça com as próprias mãos!
O que ocorreu em Guarujá é mais uma amostra das milhas e milhas de distância que estamos de ser um País minimamente sensato. Parece que existe um desejo irrefreável por justiçamento, por matar bandidos pobres, em grande parte dos brasileiros.
Leia mais:Bastou ver um catador de lixo em cima de uma moto para supor que o veículo era roubado, pois ele não tinha o direito de estar pilotando a motocicleta.
Bastou isso para que ele merecesse o espancamento até a morte. O tribunal da rua, julgou, condenou e executou a pena.
Ah foi um engano! A moto que ele pilotava era emprestada por um amigo.
O que faremos agora? Ressuscitaremos o morto? Impossível.
O caso de Guarujá é a repetição de uma tragédia. Nove anos atras uma mulher, também alvo de fake News, foi espancada e morta, igualzinho ao homem assassinado agora, na mesma Guarujá.
Será um problema específico daquela cidade no litoral paulista? Claro que não!
É fruto da falta de humanidade; da falta de zelo pela vida do outro; da falta de civilidade; do desejo pela morte; é fruto de espantalhos como “bandido bom é bandido morto”; da falta de educação, no sentido mais amplo que essa palavra possa ter.
Vale dizer, ainda, que não se vê toda essa sanha de matar bandidos quando são ricos. Prova disso é que existem diversos casos de corrupção na esfera municipal da política em Guarujá, mas nunca se viu uma multidão enfurecida a perseguir os políticos e linchá-los após uma denúncia qualquer.
O alvo é sempre o pobre, a mulher, a minoria.
Enfim, episódios como esse precisam ir além da punição aos culpados. É preciso que exista algum efeito pedagógico; é preciso que sirvam como um apelo à civilidade; chega de linchamentos, chega de fazer justiça com as próprias mãos; o Brasil precisa mudar; nós, brasileiros, precisamos virar gente, antes que seja tarde, até porque para o catador de latinhas, morto esses dias, e para a mulher assassinada em 2014, já é tarde demais.
Quem será o próximo alvo dos justiceiros de plantão, ávidos por manchar as mãos com o sangue alheio!?