Correio de Carajás

Governo não abre mão de manter COP30 em Belém e critica hotéis

Em reunião da ONU Clima (UNFCCC), nesta semana, representantes da África, países-ilha e América Latina pediram para que a COP30 não aconteça em Belém por causa dos altos preços de hospedagem

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, admitiu que alguns países pediram que o evento não seja em Belém e criticou o que chamou de preços “extorsivos” e “abusivos” cobrados pelo setor hoteleiro da capital paraense — Foto: Divulgação/G.Lab

Apesar da pressão internacional para que o Brasil não realize a COP30 em Belém (PA), diante da falta de infraestrutura hoteleira, o governo brasileiro não cogita, no momento, mudar a cidade sede.

Fontes do governo diretamente ligadas à organização da Conferência do Clima da ONU disseram ao Valor que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz questão de cumprir o compromisso de promover o encontro global na Amazônia. E que o encontro ocorrerá na capital paraense, mesmo com as sérias restrições de hospedagem reconhecidas pelas próprias autoridades brasileiras.

O governo brasileiro aposta em estratégias como separar a cúpula dos chefes de Estado da conferência, disponibilizar dois navios de cruzeiro para acomodar 3,9 mil pessoas e quartos de hotel “mais baratos” — entre US$ 100 e US$ 200 — para aliviar a pressão por hospedagem em Belém. No entanto, há preços mais elevados sendo praticados, o que pode comprometer sobretudo a participação de delegações de países em desenvolvimento e com menos condições de pagar.

Leia mais:

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Em uma reunião de emergência convocada na terça-feira (29) pela ONU Clima — mais conhecida pela sigla UNFCCC—, representantes de três regiões — África, países-ilha e América Latina — pediram formalmente para que a COP30 não aconteça em Belém.

Na ocasião, o governo brasileiro foi duramente questionado por representantes pela falta de acomodação na cidade paraense e preços extorsivos da rede hoteleira e de donos de imóveis. A expectativa é que o Brasil proponha uma solução até 11 de agosto, data em que haverá uma nova reunião para tratar dos preparativos da conferência.

As críticas se deram durante a reunião do Bureau da COP, um órgão de alto nível da UNFCCC que reúne representantes de países africanos, do Leste Europeu, da América Latina e Caribe, da Ásia-Pacífico e da Europa Ocidental com Austrália, Canadá, Islândia, Nova Zelândia, Noruega, Suíça e Estados Unidos, além do grupo das nações insulares. E contou com representantes do governo brasileiro, do governador do Pará, Hélder Barbalho, e os principais órgãos responsáveis pela organização da COP30.

“Uma nova reunião está agendada para o próximo dia 11 de agosto, com o objetivo de dar continuidade ao diálogo sobre o conjunto de ações para a realização da COP30. Estarão em pauta temas como acomodação, transporte, segurança, alimentação e outros aspectos essenciais para o sucesso da conferência”, disse em nota a Secretaria Extraordinária para a COP, comandada por Valter Correia da Silva e ligada à Casa Civil.

“O plano de acomodação está sendo implementado em fases, com prioridade, nesta etapa, para as delegações que participarão diretamente das negociações oficiais da COP30”, acrescentou a secretaria, reiterando ainda seu compromisso com a realização de uma conferência climática ampla, inclusiva e acessível.

“Sensação de revolta”

Nesta quinta-feira (31), o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, admitiu que alguns países pediram que o evento não seja em Belém e criticou o que chamou de preços “extorsivos” e “abusivos” cobrados pelo setor hoteleiro. Ele também disse que “há uma sensação literalmente de revolta dos países por essa insensibilidade”.

“A Casa Civil está coordenando um grupo de trabalho, é um esforço muito grande do governo de conseguir fazer os hotéis baixarem o preço porque a legislação brasileira não pode impor isso aos hotéis”, afirmou Lago em entrevista a correspondentes estrangeiros. “Eu acredito talvez que os hotéis não estejam tomando conta da crise que eles estão provocando.”

(Fonte: O Globo/Valor)