Correio de Carajás

Gigantes do Norte une tradição e vanguarda em figurinos que custam R$ 90 mil

Os figurinos da Gigantes do Norte custaram cerca de R$ 90 mil, conforme Rayr Wanderson/Fotos: Evangelista Rocha

Quem passou pela arena do 36º Festejo Junino na noite de terça-feira, 27, viu o colorido das roupas dos brincantes da junina Gigantes do Norte. Paetê, lantejoula, filó, organza e galão são materiais utilizados na confecção dos coloridos, alegres e brilhantes figurinos dos grupos juninos de Marabá. Mas para que este espetáculo visual seja realizado, as juninas precisam desembolsar milhares de reais.

O CORREIO conversou com Rayr Wanderson da Silva Sales, 35 anos, professor e coordenador geral do grupo, que deu detalhes sobre as despesas da quadrilha.

Somando o valor gasto para confecção dos figurinos dos 18 casais de brincantes que integram a junina, Rayr estima que em 2023 o custo gira em torno de R$ 90 mil. Conforme ele, só o material das vestimentas chega a R$ 60 mil, e a mão de obra é cerca de R$30 mil. Este último só não é maior porque o próprio Rayr, e sua mãe, Maria Deuzirene de Souza da Silva, realizam o trabalho de corte e costura.

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Rayr e a mãe, Deusa, são os responsáveis pela confecção das roupas da junina

“Não entra aí nessa lista o sapato, a meia e o aplique das meninas, que é o cabelo. São tantos os detalhes que compõem, que às vezes a gente não coloca no caderno, na ponta da caneta”, detalha.

Com isso, é perceptível que as juninas de Marabá operam verdadeiros milagres para levar à arena figurinos bonitos e bem feitos. Para auxiliar os custos, a Prefeitura repassa para cada junina do grupo A, o valor de R$ 20 mil; o grupo B recebe R$ 12 mil; e as mirins, R$ 8 mil. O valor até pode ser considerado alto, mas quando comparado com o montante gasto pelos grupos (principalmente aos do grupo A), a quantia não é suficiente.

“É muito caro, são os mínimos detalhes. E tem cenografia ainda, tem o pessoal de apoio, os fogos, o papel picado, enfim são tantas coisas que não dá pra contar. É muito dinheiro envolvido”. Para arcar com os custos, Rayr conta que a Gigantes do Norte fez uma rifa, ainda no início do ano, e mais recentemente, realizaram um arraial na praça São Félix de Valois.

“É com esse dinheiro que a gente vai iniciando. Tem uma empresa de tecidos da cidade que trabalha com uma forma de crédito, uma parceria. A gente faz a compra com ele e quando o recurso da prefeitura sair, a gente paga”, detalha.

Além de coordenador da junina, Rayr também é o figurinista, costureiro e artesão

Mesmo com o esforço empregado todos os anos, quitar as dívidas de uma temporada junina para a outra não é tarefa fácil. “Vai só aumentando, infelizmente é algo que a cada ano que passa, a gente tenta sanar as contas. Acredito que não é só a minha quadrilha, mas todas as outras juninas e grupos, a gente faz um pouquinho de sacrifício para poder apresentar o melhor, mas sempre fica com pendências financeiras a cumprir”, desabafa Rayr.

Para além dos materiais das roupas, e da mão de obra, soma-se aos gastos da junina, elementos como a água consumida nos ensaios; a gasolina que abastece os veículos que vêm e vão à serviço da junina; o ônibus fretado para levar os brincantes aos arraiais de Marabá e dos municípios vizinhos. E, inclusive, eles não recebem nenhum valor para realizar tais apresentações.

A UNIÃO FAZ A FORÇA

Nem só de recurso financeiro a apresentação é feita. No caso da Gigantes do Norte, quem costura as vestimentas é o próprio Rayr, que também faz todo o trabalho de artesanato dos adereços utilizados pelos brincantes. Além disso, a parte cenográfica é confeccionada pelos integrantes da quadrilha.

Logo após sua fundação, todos aqueles que entraram para a junina fizeram isso sem gastar nenhum real. “Eles tinham vontade de participar, de brincar, de dançar quadrilha, mas sem dinheiro. São meninos, meninas, ainda crianças, que eram do Bairro Santa Rosa, aqui do Cabelo Seco, da minha rua”, relembra.

Com isso, Rayr explica que logo começou a fazer um curso de corte e costura, uma maneira de ajudar os jovens brincantes, costurando as roupas usadas por eles nas apresentações. No presente isso é um pouco diferente, pois agora que são adultos, muitos dos integrantes da Gigantes do Norte colaboram financeiramente com a junina. Apesar disso, a casa de Rayr continua sendo o ateliê do grupo, seu quarto é a sala do artesão e o quintal se transformou no barracão de estruturas.

FIGURINO

Na noite de terça-feira, 27, a Gigantes do Norte foi a terceira junina a entrar na arena. Para este ano, um figurino duplo foi confeccionado, uma mescla entre referências das raízes da festa junina e as características de vanguarda. A dobradinha do figurino é um dos fatores apontados por Rayr, para que este quesito tenha ficado mais caro em 2023. Se em 2022 o gasto girou em torno de R$ 60 mil, na temporada atual, ele se aproxima dos R$ 90 mil.

A roupa de abertura remete às quadrilhas roceiras

A vestimenta inicial remeteu às quadrilhas roceiras, com cores fortes e brilhantes, além da tradicional estampa quadriculada. Homens e mulheres trouxeram o chapéu de palha para a arena e os meninos resgataram o velho bigode, um dos elementos marcantes das quadrilhas de antigamente.

“O material mais caro do figurino é o paetê de metro. O paetê, a lantejoula. Na verdade, as quadrilhas estão evoluindo, mas a gente não pode deixar de falar que não é um carnaval”, expressa.

Ele reflete que as quadrilhas estão ficando mais modernas e recebem influência das juninas do Nordeste.

A segunda vestimenta traz elementos de vanguarda, como o paetê de metro e as lantejoulas

Na arena, a Gigantes desfilou um figurino cheio de cores e brilho. Com saias volumosas e muita lantejoula nos corpetes femininos, coletes e calças masculinas.

“A gente procura ter o melhor tecido, a melhor cor, para estar dentro do tema, ter originalidade, consonância dentro da harmonia da quadrilha”.

Coletes e calças masculinas brilharam na arena

Para além de gerar gastos, os grupos juninos de Marabá também injetam dinheiro na economia da cidade. Rayr reflete que é uma cadeia que gera emprego e renda no comércio local.

“A palavra-chave é o amor pela dança e pelo São João. Nesse momento a gente se doa, para a junina e para o festejo, para apresentar algo para a comunidade. Com isso, o gasto se torna muito maior do que é repassado, do que é dado pra gente, porque um detalhe a mais já faz uma grande diferença”, compartilha ele.

(Luciana Araújo)