Correio de Carajás

Gestante denuncia HMI por tortura física e psíquica, risco à saúde e humilhação

“Só entendi que era uma violência obstétrica porque uma enfermeira me informou”, disse, agradecendo a atitude da profissional

Uma mulher grávida de 41 semanas e 6 dias, denunciou o Hospital Materno Infantil de Marabá junto ao Ministério Público do Estado do Pará pelos crimes de exposição de risco à saúde, tortura física e psíquica, violência obstétrica e humilhação.

Segundo a parturiente, ela deu entrada na maternidade na madrugada da última quinta-feira, 22 de junho, para fazer parto cesariano, já que o bebê era grande demais para nascer de parto normal.

Ao CORREIO, ela detalha que chegou ao HMI com todos os encaminhamentos médicos de Eldorado do Carajás, munícipio onde reside, para que fosse feita a cesariana.

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“Quando o médico, o doutor Valdir Rosado, me atendeu, ele disse que eu poderia ter sim o parto normal. E me encaminharam pra uma sala onde as mulheres ficam aguardando pra ter o bebê. Quando entrei pra lá, não tive mais comunicação com meu acompanhante que foi comigo. Nem com telefone eu pude entrar. Isso é um absurdo, como a gente vai dar notícia da gente para os parentes”.

Em seu relato, ela conta que na manhã de quinta, 22, o médico realizou uma avaliação e disse que iria começar a fazer a aplicação de comprimidos para dilatar o colo do útero para que o parto fosse realizado por via normal.

“Falei pra ele que não tinha condições de ter o bebê normal porque ele era grande. Ele disse que esse era o procedimento do hospital e tinha que seguir. Ainda me aplicaram dois comprimidos. Só que aí, eu percebi que estava sofrendo uma violência obstétrica e entendi que estava errado. Não tem lei nenhuma que obriga o paciente a tomar comprimido pra ter filho normal, sendo que não tinha condições”.

Para a reportagem, ela conta que foi informada por uma enfermeira que o hospital estava se negando a fazer a cesariana e que isso era uma violência obstétrica.

“Quando falei pro médico que não ia mais aceitar os comprimidos e que minha família tinha feito a denúncia contra o hospital. Ele disse que eu tinha que assinar um termo de que estava querendo cesariana. Assinei, tive o parto cesariana depois de muita luta e muita briga da minha família. Só fizeram o meu parto porque a minha sobrinha, que era minha acompanhante denunciou lá da recepção mesmo. Ela ligou pro Ministério Público e eles ouviram. Graças a Deus deu tudo certo na cirurgia”, fala agora, aliviada.

A cesariana foi realizada às 9 horas da manhã de sexta-feira, dia 23 de junho, após a equipe do hospital ser avisada da denúncia.

Ainda de acordo com a denunciante, que é moradora da zona rural de Eldorado, ela foi impedida de ter acompanhante e alimentação.

“Fui humilhada e obrigada a fazer procedimentos que não desejava. Fiquei sozinha sem direito a acompanhante”, finaliza.

O bebê nasceu com 4.470kg e passa bem. Mãe e filho tiveram alta neste domingo, 25, e já estão em Eldorado do Carajás.

VERSÃO DA PREFEITURA

Procurada pela Reportagem do CORREIO, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Marabá enviou a seguinte nota:

“O Hospital Materno Infantil repudia, veementemente, esta afirmação e provará juntos aos órgãos competentes que esta denúncia não procede. No geral, a grande maioria dos pacientes que vem de cidades vizinhas não traz qualquer tipo de acompanhamento e sequer são reguladas.

As cidades simplesmente colocam numa ambulância e entregam o paciente na porta dos nossos hospitais. Um fato importante onde podemos constatar a total falta de verdade na denúncia é que quem indica a forma de nascimento é o médico do HMI e não o médico do município origem. A Secretaria de Saúde vai agir na apuração e processar as falsas informações contidas na denúncia. Os profissionais do HMI fazem cerca de 600 partos por mês, boa parte de fora do município. Municípios estes que, em sua maioria, praticamente se “livram das suas gestantes” por falta de estrutura e condição médica de atendimento.

(Da Redação)