Correio de Carajás

Gerações em Marabá movimentam o bem viver

Nessa semana, o projeto eco-cultural e socioeducativo, Rios de Encontro do bairro Cabelo Seco contribuiu a eventos inéditos na cidade de Marabá, impactando muito além de sua base comunitária, e transparecendo um destino esperançoso possível para a Amazônia.

Na segunda, quatro jovens artistas do Coletivo AfroRaiz abriram a cerimônia de inauguração das quatro usinas de energia solar do Projeto SINFRA: Gestão com Eficiência Energética, no Campus 2 da Unifesspa. Após a performance Afro-Amazônica, o co-fundador do Rios de Encontro, Dan Baron, informou: “Hoje ativistas de 20 países no mundo, atuando com milhões de jovens do movimento secundarista ‘Sextas pelo Futuro’, estão acompanhando essa inauguração. O mundo está olhando para Marabá hoje, palco em cima do maior depósito de ferro do mundo, no estado com o maior aquífero de água potável, no planeta.”

“Lembro da aula inaugural do Reitor Maurílio Monteiro, quando destacou que Unifesspa não poderia ser comparada com índices de universidades em São Paulo, Cambridge ou New York, não só porque ao longo de séculos faltava um projeto político-pedagógico comprometido com os povos da Amazônia, mas porque Amazônia tem outros saberes, responsabilidades ambientais e potenciais enraizados em sua biodiversidade única no planeta.”

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Katrine Neves (18 anos) relata a situação socioambiental em Marabá, traduzida para uma plateia de lideranças de projetos de 20 países no mundo

“Em 2017”, continua Dan, “perguntei para o Reitor quanto foi a conta de luz da Unifesspa. Quando respondeu 2 milhões de reais, perguntei porque uma universidade amazônica não tinha nenhuma placa solar, e não era liderança em energias renováveis? Hoje, Unifesspa tornou-se liderança pedagógica mundial. Está gerando esperança para gerações onde o maior bioma no mundo que leva chuva à todos os outros, pode ter um futuro sustentável. Unifesspa virou protetora da maior e mais antiga tecnologia no planeta, a Amazônia!”

Na noite, Rios de Encontro participou na Audiência Pública no Centro de Convenções sobre o projeto Rio Navegável no Rio Tocantins. “Foi uma aula extraordinária em governança, cidadania e futuros sustentáveis”, reflete Dan Baron. “A empresa contratada e o DNIT apresentaram o Projeto e o relatório sobre seu impacto ambiental. Depois, eles viraram a audiência de pescadores da comunidade Tauiry e do município Novo Repartimento, das comunidades tradicionais, de estudantes do Direito da Terra, de lideranças do Movimento Contra as Barragens e Movimento da Soberania em Mineração, e de cientistas da Unifesspa. As realidades devastadas e ciências amazônicas sensibilizaram os visitantes. Ficamos em debate até 1h30 da madrugada, na falha tectônica entre dois grandes projetos opostos, de lucro e de vida.”

Na quarta-feira, AfroRaiz apresentou sua auto-pesquisa artística as 20 lideranças estrangeiras, reunidas em Polônia, por skype. “Dez anos atrás, nem sabíamos que Marabá fazia parte de Amazônia”, disse Katrine Neves para iniciar o diálogo virtual. “A grande maioria passa fome, tem medo de se manifestar, não acredita na política. Como vão proteger Amazônia?”. O seminário virtual encerrou com projetos solidários propostos pelo futuro.

A turma 2019 de História se retrata com professor Darlan depois do seminário coletivo sobre a Defesa da Amazônia pelo Bem Viver

Na quinta-feira, Evany Valente, integrante do Rios de Encontro desde 2009, realizou o seminário ‘Defesa da Amazônia para o Projeto Bem Viver’, junto com seu grupo na Turma de 2019 da História. Na mesma noite, estudantes das Empresas Junior de Engenharia Elétrica e Civil da Unifesspa assinaram um contrato com a gestora Manoela Souza de Rios de Encontro para ativar a micro usina comunitária que abastecerá a Universidade Comunitária dos Rios em Cabelo Seco.

“Tenho esperança”, disse Manoela. “Nossas universidades pública e comunitária tem um projeto amazônico na prática”. (Texto: Rios de Encontro)