Quando se fala em sorte, alguns pensam em trevos-de-quatro-folhas, outros em ferraduras penduradas na porta. Mas em Marabá, a sorte tem nome e sobrenome: Zé Maria, o garimpeiro que encontrou não apenas ouro, mas um caminho de fé e prosperidade. Inspirada por essa história local de superação e riqueza, a junina Fogo no Rabo reluziu no 37º Festejo Junino, levando ao público um espetáculo de tirar o fôlego, com o tema “O Garimpeiro da Sorte.” A quadrilha fez com que a tradição encontrasse a modernidade, e a história de um homem se transformou na metáfora perfeita para a busca incessante por um futuro dourado.
Na apuração das notas, a Fogo no Rabo brilhou como uma pepita de ouro recém-descoberta. Com uma performance impecável em todos os quesitos, a junina bamburrou e obteve notas máximas em evolução, figurino, criatividade e animação, deixando o grupo extasiado à medida que as notas eram apuradas. A precisão das coreografias, a riqueza dos detalhes nos figurinos e a força da narrativa sobre o garimpeiro Zé Maria garantiram uma vitória indiscutível.
TEMÁTICA LOCAL
Leia mais:Com 11 títulos municipais, 27 intermunicipais, três estaduais pela seletiva Arraiá Brasil e um vice-campeonato no Arraiá Brasil 2023, a Fogo no Rabo não é apenas uma junina, é uma instituição de orgulho marabaense. Este ano, o grupo trouxe à cena o tema “O Garimpeiro da Sorte,” uma homenagem honrosa a Zé Maria, um dos lendários garimpeiros da Serra Pelada. A escolha do tema não poderia ser mais simbólica e carregada de emoção, retratando a saga de um homem cuja vida foi marcada pelo sucesso sem os excessos que acompanham muitas vezes a fortuna fácil.
Zé Maria, natural do Ceará, encontrou em Marabá a terra prometida, tanto para seu enriquecimento quanto para constituir família. Ao contrário de muitos garimpeiros que sucumbiram às tentações do dinheiro fácil, Zé Maria se destacou por sua fé, foco e objetivos claros. Nunca bebeu, nunca fumou e evitava as farras, características que o diferenciaram e permitiram que ele quebrasse a maldição do garimpeiro, que diz que o dinheiro nunca traz um futuro sólido.
O espetáculo da Fogo no Rabo foi um show à parte, com uma narrativa rica e envolvente que transportou o público desde a descoberta da Serra Pelada até a diáspora de homens em busca do ouro. O casal de noivos, Saymon Clokie e Valéria Oliveira, representou o grande amor de Zé Maria por sua esposa e família, enquanto o casal majestade, Lucas Dias e Geovana Farias, roubou a cena com uma rainha vestida dos pés à cabeça com dourado, simbolizando a pepita de ouro de 1,5 metros de comprimento, 80 cm de largura e 300 kg, encontrada por Zé Maria.
Os figurinos, assinados pelo Ateliê Machado e estilizados por Márcia Cristina e Isabel Pereira, eram um espetáculo visual à parte. Os cavalheiros usavam roupas que representavam as temidas escadas chamadas “adeus mamãe,” enquanto as damas ostentavam chapéus decorados com picaretas e machados em miniatura. Cada detalhe era uma homenagem à dura realidade e ao esplendor da vida no garimpo.
A representação dos cafetões e das damas da noite, com Ricardo Macedo e Adriely Cardoso no papel, trouxe à tona a atmosfera decadente e sedutora da Serra Pelada, especialmente na cidadezinha conhecida como “30,” apelidada de Las Vegas do garimpo. A montagem capturou a sedução e a armadilha que muitos garimpeiros enfrentavam, perdendo suas fortunas nas distrações noturnas.
Em entrevista ao Correio de Carajás, logo após à classificação, Cleiton de Souza, marcador e campeão municipal, expressou a emoção de trazer à vida a história de Zé Maria. “A junina Fogo no Rabo ensaiou por três meses para entregar este espetáculo junino. É uma alegria imensa mostrar a vida de um homem temente a Deus, que, ao contrário de muitos, investiu no futuro e permanece rico até hoje,” afirmou Cleiton, destacando o orgulho e a emoção de ser parte deste grupo vencedor.
Ademar da Santa Rosa, coordenador desde a fundação da junina, expressou sua gratidão a todos os envolvidos. “É um sentimento de gratidão a Deus e a todas as pessoas que tornam este festejo possível. A Fogo no Rabo tem dado oportunidades para muitos produtores culturais locais, o que fortalece nossa comunidade e enriquece nossa cultura,” disse Ademar, bastante emocionado com mais uma conquista.
O espetáculo da Fogo no Rabo foi um tributo à perseverança, ao amor e à cultura popular. A riqueza de detalhes, desde a representação dos barros coloridos até a execução impecável da técnica do giro pela rainha Geovana Farias, fez o público vibrar. A Fogo no Rabo, com seus 36 anos de história, mais uma vez leva o título, sem tirá-lo da Santa Rosa. (Thays Araujo)