A paraense Gaby Amarantos é uma das responsáveis por trazer o tecnobrega e outros ritmos tradicionais da Amazônia para o pop nacional. O primeiro álbum, Treme (2012), foi um marco para a música, com hits dançantes e divertidos que mostraram para o Brasil o que a periferia de Belém estava consumindo e produzindo naquele momento.
De lá para cá, Gaby ganhou espaço na mídia e estreou como apresentadora no Saia justa, do GNT, ao lado de Astrid Fontenelle, Pitty e Mônica Martelli, além de inúmeras participações em outros programas de televisão. Dona de um vozeirão, a cantora sempre usou a sua visibilidade para levantar bandeiras, como o feminismo e a luta contra o racismo, nunca deixando de lado a sua origem humilde no bairro do Jurunas, periferia da capital paraense.
Após o sucesso de Treme, Gaby vinha sofrendo pressão dos fãs para o lançamento de um segundo trabalho de estúdio. Com uma “gestação de elefante”, como ela mesma define, o Purakê, já nas plataformas digitais, vinha sendo maturado pela artista há alguns anos. “Eu não cedi à pressão dos meus fãs. Esperei o momento certo e as parcerias certas para lançar o meu trabalho”, afirma Gaby, que é compositora de todas as 13 faixas do álbum.
Leia mais:Chama a atenção a quantidade de parcerias no disco. São, ao todo, 11 cantores dividindo os vocais com Gaby ao longo do álbum. A primeira faixa, Última lágrima, une a santíssima trindade de mulheres negras da música brasileira: Elza Soares, Alcione e Dona Onete.
Amor pra recordar, parceria com Liniker, uma das maiores vozes da nova geração e que está incluído no álbum, foi lançado mês passado com um clipe cinematográfico, de arrancar lágrimas, em uma homenagem comovente às mulheres ribeirinhas, com participação da irmã, da sobrinha e do filho de Gaby.
Outras duas faixas do álbum também foram apresentadas anteriormente, como Vênus em escorpião, um brega punk lançado em novembro de 2020, com participação de Ney Matogrosso e Urias, e Tchau, com Jaloo, que assina a direção musical de Purakê. Também participam do disco Luedji Luna, na faixa Opará; Potyguara Bardo, em Sangrando; e Leona Vingativa e Viviane Batidão, no fervoroso Arreda, um grito de afirmação do tecnobrega. “Abre a roda, tecnobrega é foda”, diz o refrão.
Um fato interessante é que metade das canções do álbum estavam compostas até a chegada da pandemia. A outra metade foi feita a bordo de um barco no Rio Tapajós, onde também foi elaborada a produção musical do Purakê. “Esse álbum foi feito a partir de experiências imersivas na floresta”, detalha Gaby.
O nome do álbum é uma alusão ao poraquê, peixe-elétrico pré-histórico amazônico, cuja descarga pode chegar a 860 volts, conceito presente na estética visual da obra, que mistura a natureza com a tecnologia. “A proposta é pensar em uma Amazônia futurista e afroindígena. É pensar nessa Amazônia para além dos estereótipos. A gente gosta de servir conceito para a galera!”, brinca Gaby, ao comentar sobre a capa do disco, que a exibe num figurino assinado pelo paraense Fabrício Neves, envolvida por fios elétricos e aningas, vegetação comum às margens dos rios amazônicos e típica da região de Belém.
Para além da sonoridade ímpar de Gaby Amarantos, que parte do imaginário das paisagens e vivências da região norte do Brasil, Purakê é um álbum visual. Cada faixa conta com um conteúdo animado feito à mão, conhecido pelo conceito de clipelizer, e produzido por profissionais como o paraense Lucas Gouvêa e Luan Zumbi.
A artista ressalta que o álbum tem como proposta mostrar para as pessoas que a Amazônia é mais do que aquilo que elas sabem convencionalmente. “As pessoas conhecem calypso, tecnobrega e o carimbó, mas o álbum propõe mostrar para além disso. Quem são essas pessoas que vivem ali e com o que elas estão conectadas?”, questiona Gaby. “A mensagem é essa: nós da Amazônia estamos propondo música para o futuro, propondo coisas que ninguém ainda pensou, com muita coragem e autenticidade, sempre conectados com a nossa essência”, acrescenta. (Correio Braziliense)