Correio de Carajás

“Gabriel Sales Pimenta” vai ganhar documentário pela luta social em Marabá

Gabriel Sales Pimenta, de pé, liderança que perdeu a vida por ativismo

A Escola Estadual “Gabriel Sales Pimenta” localizada em Morada Nova, completou 40 anos de existência, nesta sexta-feira, 14 de março. E como presente, a vida e a luta do advogado “Gabriel Sales Pimenta”, que deu nome à escola, assassinado em 1982, por pistoleiros, vai ser retratada em um documentário, dirigido pelo cineasta Silvio Tindler e produção de Américo Galvão Neto.

A previsão é de que o documentário seja lançado dia 20 de novembro, data que marca o aniversário de Gabriel Pimenta.

A produção cinematográfica será inspirada na pesquisa de dissertação de mestrado, sob o título “Impactos da memória sobre o caso Gabriel Pimenta na luta pela terra no Sul e Sudeste do Pará (1982 – 2023), da estudante de Pós-Graduação em História da Unifesspa, Iná Rodrigues, sob a orientação do professor Dr. Janailson Macedo.

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A pesquisa visa relatar as memórias de Gabriel Sales Pimenta, a partir das memórias das pessoas que conviveram com ele, e de pessoas que o conhecem por relatos de terceiros.

“Estou pesquisando como o Gabriel ficou conhecido nessa região do país, uma região de muita luta camponesa, de muito sangue derramado, de muitos confrontos em relação à mineração, a transamazônica e época do regime militar. Quem foi Gabriel? Como que essas pessoas veem o Gabriel? E vão ter conflitos de memória também”, detalha a pesquisadora, acrescentando que a dissertação tem previsão de ser apresentada em abril de 2026.

Iná Rodrigues ressalta também que “Gabriel Sales Pimenta”, embora leve o nome da escola estadual, de um barco e ainda de sindicato, não é uma figura muito conhecida em Marabá.

O documentário está sendo encabeçado pela família de Gabriel Pimenta, em especial, o irmão dele, Rafael Pimenta, que vive em Minas Gerais, local que Gabriel nasceu.

PRODUÇÃO

“O documentário é composto de depoimentos de pessoas que conheceram o Gabriel quem transitou pela vida dele, o que ele fez em Juiz de Fora (MG), o que ele fez também em Brasília, o que ele fez em Conceição do Araguaia, Belém e Marabá. E o fato do porquê ele foi assassinato”, narrou Rafael Pimenta.

Nos dias 26, 27 e 28 de março, a produção do documentário vai chegar à Marabá para colher depoimentos.

Raimundo Gomes da Cruz Neto, conhecido como Raimundinho, educador popular, foi contemporâneo de Gabriel Pimenta de 1981 a 1982, em Marabá.

“Foi pouco o tempo que convivemos, mas muito produtivo, porque nós tínhamos criado o sindicato dos trabalhadores rurais aqui em 1980, época em que começava aflorar os grandes conflitos aqui na região, principalmente na região de Murumuru, Pau Seco, onde o Gabriel teve grande papel em fazer com que a justiça voltasse atrás da liminar de despejo de camponeses e e fazer retornar para a sua terra aqui. Então foi uma grande vitória do Gabriel e para isso, por isso, a reação foi muito cara, ele pagou com a vida. O Gabriel era muito animado, achava que os camponeses tinham que avançar, não só na luta pela terra, mas politicamente para enfrentar a própria ditadura que ainda vivíamos naquela época, 81, 82, então esse foi o grande legado que nós tivemos do Gabriel, a experiência política que ele nos transmitiu e a esperança de que os camponeses um dia poderiam conquistar as terras aqui nessa região e acabar com o latifúndio nessa região do Pará”, expressou Raimundinho.

A professora Rosemary Resende começou a trabalhar na Escola Gabriel Sales Pimenta em meados da década de 80, e conviveu também com o Gabriel Sales anteriormente.

“O Gabriel era uma pessoa simples, não tinha medo de enfrentar a realidade. Era um mineiro porreta. Eu fiquei muito emocionada em ver a reprodução do júri em forma de teatro pelos alunos da escola. Na época, Morada Nova sofreu muito com os conflitos e tudo que aconteceu”, disse ela.

ANIVERSÁRIO DA ESCOLA

Pelo transcurso do aniversário de 40 anos da escola Gabriel Sales Pimenta, comemorado nesta sexta-feira, 14 de março, a escola além de ganhar um documentário sobre a vida do Gabriel Pimenta, também recebeu extensa programação.

Gincana estudantil estilo torta na cara, dramatização de júri simulado, exposição de murais e cartazes, danças “Maculelé e Quando Honorato lutou contra a canina”, recitação de poesias e o tradicional bolo, “parabéns” e muito mais fizeram parte da agenda de aniversário da instituição de ensino.

O diretor da escola estadual, Fabrício Lima, em sua fala, no início da programação do evento, agradeceu a participação e empenho de toda equipe da escola na festa em comemoração aos 40 anos, como também disse se orgulhar de fazer parte dessa história.

Aniversário da escola que leva o nome do advogado foi comemorado nesta sexta

“Aqui nós somos todos um só, não existe escola se não houver equipe de apoio, vigia, merendeiras, professores, alunos. Todos os servidores devem estar alinhados. Estou muito feliz em fazer parte desse legado na Gabriel Sales Pimenta”, externou o diretor.

A professora em exercício mais antiga escola, Veraildes Ferreira de Souza, está há 27 anos lecionando na Gabriel Pimenta. “Enquanto Educadora da Escola Gabriel venho contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento e aprendizagem dos alunos   e percebo que a Educação é a chave do sucesso pra vida. Parabéns a todos que fazem a Gabriel Sales Pimenta”, disse a docente.

A escola tem como vice-diretor Pedagógico, o professor Vanderlei Barros e 24 professores compõem o corpo docente da instituição de ensino.

Atualmente, a Escola Gabriel Sales Pimenta atende mais de 500 alunos no turno integral e teve como última pontuação no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) é um indicador que mede a qualidade da educação básica no Brasil, 4.1.

(Texto: Emilly Coelho)