Muitas das datas comemorativas presentes em nosso calendário são desconhecidas pela maioria dos brasileiros. Entre elas está o Dia Nacional dos Animais, celebrado em 14 de março. Essa ocasião tem como objetivo dar maior visibilidade às campanhas de conscientização contra danos causados aos animais silvestres, selvagens e também aos domésticos.
O Correio de Carajás conversou com Manoel Ananis, biólogo da Fundação Zoobotânica de Marabá (FZM), sobre o trabalho que é desenvolvido pela organização, ao abrigar, cuidar e proteger os animais.
Ananis explica que a FZM foi fundada em 1997 e, atualmente, abrange uma área de 1.560 hectares, em sua maioria de mata fechada e nativa, com 360 animais de diferentes espécies. Entre seus colaboradores, atuam biólogos, veterinários, tratadores, motoristas e pessoal de apoio. Por ser uma organização sem fins lucrativos (ONG), ela conta com o apoio da Prefeitura de Marabá, que paga o salário dos funcionários; recebe recursos de grandes empresas locais e apoio das universidades.
Leia mais:O biólogo ressalta que a maioria dos animais que vivem na fundação é oriunda de áreas afetadas pelo desmatamento, o que ocorre muito nos arredores de Marabá, devido ao agronegócio e à indústria.
Em situações assim, o animal foge da região degradada, muitas vezes indo para a área urbana, como foi o caso do tamanduá encontrado recentemente dormindo em um poste de energia no núcleo Cidade Nova.
Outro meio que leva os animais à fundação é a tentativa de domesticação que deu errada. O mais comum é que essa intenção de “amansar” o animal falhe e eles sejam rejeitados pelas pessoas que o tiveram em sua posse. “Quando crescem e ficam agressivos, as pessoas soltam na rua ou entregam à Semma (Secretaria Municipal de Meio Ambiente), podendo deixar até na porta”, esclarece o biólogo.
O porte grande, os períodos de cio, a abstinência de sua alimentação natural, morar em locais inapropriados para sua espécie. Esses são alguns dos fatores que os tornam inapropriados para uma vida doméstica, pois os deixam estressados, violentos, situações que resultam em abandono.
Há aqueles que levaram tiros de caçadores, foram atropelados ou machucados, muitos, inclusive, acabam perdendo membros.
A FZM se torna o destino final desses animais, a maioria permanece no parque até o fim da vida. Os de pequeno porte e avaliados como mansos, são soltos na área de reserva e transitam livremente pelo lugar. Os mais selvagens vivem com segurança, em recintos construídos conforme cada a espécie.
Seja em decorrência do desmatamento, da caça para consumo – muito comum em nossa região – tráfico, ou ainda de capturas que têm como intenção a domesticação dos bichos, retirá-los de seus locais de origem traz graves prejuízos à fauna e flora do local.
Ananis relembra que um animal depende do outro e a floresta depende do animal para sobreviver. Muitos deles são responsáveis por dispersar sementes no solo, através de suas fezes. A anta, por exemplo, é um dos principais animais que executam essa função e é muito caçada por pessoas para se tornar refeição ou, ainda, para ser domesticada.
Ele ilustra ainda que a tendência é que, devido a essas transgressões, esses animais desapareçam das florestas. Muitos ainda não foram extintos porque existem programas ambientais com a finalidade de reproduzir a espécie para de preservá-la.
Ananis reforça que o trabalho realizado pela fundação não visa ao entretenimento dos visitantes, mas que o seu principal foco é proteger os animais da predação humana.
A FZM também é polo de apoio para a maioria das organizações ambientais que atua no Pará e no Maranhão, abrigando animais enviados por estas.
A visitação à FZM pode ser feita de terça a domingo, de 9 as 16 horas. Adultos e crianças acima de 12 anos devem apresentar comprovante de vacinação com no mínimo 2 doses, sendo cobrada uma taxa simbólica de R$ 4 para adultos e R$ 2 para crianças. Está localizada na BR-155, sentido Parauapebas, em frente ao Parque de Exposições de Marabá.
Saiba mais
O artigo 29 do Código Civil prevê pena de um ano a seis meses, mais multa, a quem “matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a obtida”. E a depender de como o crime for praticado, a pena pode até mesmo ser triplicada.
De acordo com a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas), cerca de 38 milhões de animais silvestres são retirados da natureza todos os anos no Brasil, um comercio ilegal que movimenta cerca de 2 bilhões de dólares anualmente no país.
Denúncias de crimes ambientais podem ser feitas através do App Disque Denúncia Sul e Sudeste, disponível para IOS e Android; pelo telefone (94) 3311-3350, que também funciona como Whatsapp; além dos números (94) 99233-0523 e o (94) 98198-3350. (Luciana Araújo)