📅 Publicado em 25/07/2025 10h28✏️ Atualizado em 25/07/2025 17h31
Mais uma situação constrangedora envolvendo a gestão da saúde pública em Marabá. Servidores do Hospital Materno Infantil (HMI) gravaram vídeo na cozinha da unidade de saúde, mostrando que estão utilizando sacos de lixo no lugar de luvas para manusear os alimentos. A medida improvisada é adotada devido à ausência de luvas para os funcionários do hospital.
“O prefeito não manda luva já tem um tempo para cá; e a gente está assim, trabalhando com um saco de lixo na mão”, relata a pessoa que gravou o vídeo, mas preferiu não se identificar.
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Uma fonte da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) confirmou que o vídeo foi gravado na data de hoje nas dependências da casa de saúde.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Prefeitura solicitando esclarecimentos sobre o assunto. A Secom informou que enviará uma resposta em breve.
Histórico de problemas
O caso das luvas se soma a uma série de problemas graves que têm afetado o Hospital Materno Infantil de Marabá ao longo de 2025, transformando a unidade em foco de constantes denúncias e preocupações da população.
Em menos de 40 dias de 2025, o HMI registrou 13 óbitos materno-fetais, número que subiu para pelo menos 22 casos até abril. A situação tem gerado pânico entre as gestantes da região, que dependem da única maternidade pública do município.
O caso mais emblemático ocorreu em junho, quando a jovem indígena Yape Rê Anambé Guajajara, de apenas 17 anos, morreu cinco dias após o parto. A família denunciou negligência médica e violência obstétrica, relatando que houve divergência entre os médicos sobre o tipo de parto a ser realizado. A mãe da jovem, Luciane Nascimento Anambe, afirmou ter ouvido discussões entre os profissionais: “Um disse que era para fazer logo a cesariana, enquanto outro disse que o parto deveria ser natural”.
Falta de profissionais
Em julho de 2025, o hospital ficou sem ultrassonografista após o término do contrato da profissional, que optou por não renovar. A situação é considerada gravíssima, pois a ultrassonografia é fundamental para identificar complicações na gravidez e avaliar a saúde da mãe e do bebê.
Fontes internas revelaram que o clima no hospital está tenso devido a perseguições promovidas por pessoas em cargos de confiança, nomeadas recentemente, que estariam constrangendo funcionários publicamente nos corredores da maternidade.
Problemas estruturais
O HMI enfrenta superlotação crônica, atendendo demandas de mais de 20 municípios da região sem regulação adequada. O promotor José Alberto Grisi, da 6ª Promotoria de Justiça de Marabá, confirma que as denúncias não são recentes: “Há um sem número de causas para que o HMI esteja nessa situação, mas a principal delas é a superlotação provocada pela quantidade de pacientes que vêm de outros municípios sem regulação”.
Além disso, cerca de 100 médicos que atuam no Hospital Municipal de Marabá (HMM) e no HMI enfrentaram atrasos nos pagamentos de salários em junho de 2025, agravando ainda mais a crise no sistema de saúde municipal.
Mobilização da sociedade
A gravidade da situação tem mobilizado diversos setores da sociedade. Famílias de pacientes têm organizado manifestações na porta do hospital, enquanto a Câmara Municipal de Marabá cobra providências da administração municipal. O Ministério Público também acompanha de perto a situação, dialogando com o município na tentativa de encontrar soluções.
A Procuradoria Especial da Mulher da Câmara Municipal manifestou solidariedade às famílias afetadas e se colocou à disposição para colaborar com as investigações necessárias.
Promessas de melhorias
O secretário municipal de Saúde, Werbert Carvalho, reconheceu os problemas estruturais e anunciou medidas de curto prazo, incluindo contratação de profissionais através de processo seletivo simplificado, adoção de protocolos clínicos e adequação física dos espaços. Também foi anunciada a intenção de implementar um ambulatório para gestantes de alto risco.
Contudo, a população permanece cética diante das promessas, considerando o histórico de problemas recorrentes e a aparente falta de planejamento da gestão municipal para prevenir crises como a atual falta de luvas e outros insumos básicos.