Os Fulni-ô são a única etnia indígena do nordeste do Brasil que preserva seu idioma, o que conseguiu graças à música e aos rituais, e apesar da proximidade de suas aldeias dos centros urbanos.
O Ia-tê, como é conhecido o idioma dos Fulni-ô, tem se mantido por séculos nas aldeias deste povo, que na atualidade tem quase 5.000 membros e conta com seu principal assentamento no município de Águas Belas, na região árida do estado de Pernambuco.
“O que divide a minha aldeia da cidade é um riacho”, contou à Agência Efe Fitiaço Fulni-ô, líder indígena da comunidade de Águas Belas e que foi o chefe da missão de sua etnia no 18º Encontro de Culturas Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, no município de Alto Paraíso, em Goiás.
Leia mais:A reunião, que destacou o exemplo de preservação do idioma dos Fulni-ô, reuniu indígenas e membros de comunidades quilombolas, formadas por descendentes de escravos africanos.
Fitiaço afirmou que a aproximação com o homem branco permitiu a seu povo conhecer o mundo da tecnologia, aprender o português e comunicar-se no idioma oficial do Brasil.
As crianças Fulni-ô são alfabetizadas em português e todos os membros desse povo falam o idioma oficial do país, mas os rituais e a música aprendem em Ia-tê, que vem dos índios Carnijós.
Um dos rituais é o Ouricuri, realizado entre setembro e outubro em meio a um rigoroso sigilo.
Seus participantes não podem dar detalhes do mesmo, pois segundo as tradições indígenas, se revelarem os segredos para o homem branco correm o risco de morrer.
A maior parte do Ouricuri é realizada pelos integrantes masculinos da tribo e, embora suas mulheres saibam os pormenores do ritual, há dias nos quais elas não podem dormir com seus esposos, que são proibidos de ingerir bebidas alcoólicas e manter relações sexuais durante esses dois meses.
Para fazer parte do ritual é obrigatório tê-lo praticado desde a infância e que, pelo menos, um dos seus pais seja original dos Fulni-ô.
Além de preservar seu idioma nos rituais, o povo Fulni-ô divulga o Ia-tê através da música, com composições que passam de geração em geração e são tocadas por conjuntos musicais em diversos eventos culturais que acontecem no estado de Pernambuco e em todo o Nordeste.
De acordo com Fitiaço, espaços como o encontro dos povos indígenas na Chapada dos Veadeiros, no Planalto Central do país, permitem que se conheça as expressões artísticas e culturais nos idiomas autóctones que ainda sobrevivem no Brasil.
O artesanato e as próprias manifestações culturais, como a música, são as principais expressões dos Fulni-ô, um povo que nos últimos três séculos foi obrigado a conviver com o homem branco, que ergueu cidades em seu território.
Apesar de viver em uma região que sofre com a seca, os Fulni-ô levam para todos os cantos do Brasil suas canções, inspiradas principalmente nos animais e sempre acompanhadas ao ritmo de maracas, tambores e instrumentos de sopro. (EFE)