O fechamento de um frigorífico de abate de bovinos na cidade de Jacundá, a 100 km de Marabá, levou pequenos açougues a encerrar atividades e fez crescer o abate clandestino de animais. Uma proposta seria a construção de um matadouro municipal. Sem dinheiro para tocar a obra, a cooperativa do setor não vislumbra solução nem a longo prazo.
Mais de 800 animais eram abatidos por mês quando existia um matadouro municipal, que foi fechado com a justificativa de o mesmo estar no centro do Bairro Santa Rita, não oferecer condições de higiene e que um frigorífico já estaria em atividade. “Tínhamos a esperança de os consumidores da nossa cidade ter em seu prato uma carne de qualidade, o que acabou não acontecendo”, diz o presidente da Cooperativa dos Açougueiros de Jacundá, Francisco da Silva Costa, que está no ramo há mais de 20 anos.
Atualmente, Francisco vende em seu açougue apenas frango e embutidos. “Ficou inviável comprar carcaças de fornecedores de Marabá e Palmas (TO)”.
Leia mais:A via crucis dos açougueiros de Jacundá teve início em 2013, quando o antigo matadouro foi desativado e tiveram que fazer um acordo com a diretoria de um frigorífico recém-inaugurado. “Nunca houve um comprometimento sério da parte da direção, já que o frigorífico mudou de nome e donos algumas vezes, até encerrar as atividades em novembro do ano passado”, relembra Francisco.
Nos últimos doze meses cerca de 30 estabelecimentos dos mais de 120 existentes fecharam as portas na cidade de Jacundá. Ismael Mendes, membro da diretoria da cooperativa do segmento foi obrigado a parar com a atividade. “Estou com todos os equipamentos guardados, em consequência do fechamento do matadouro e do frigorífico”.
Quem vende carne bovina na cidade de Jacundá tem duas alternativas legais e uma ilegal. Comprar de grandes frigoríficos de fora ou encomendar o abate na cidade de Breu Branco, que fica a 150 quilômetros de Jacundá. “Veja só: o açougueiro tem que pagar um transporte para levar os bois vivos até Breu Branco, e um segundo para trazer as carcaças. Tudo isso onera os custos e inviabiliza para os pequenos”, aponta Francisco.
O presidente da cooperativa diz que um projeto para a construção de um abatedouro está elaborado, o que custou ao governo do Estado cerca de R$ 120 mil. “Mas não temos recursos para construir as instalações físicas, apesar de termos um terreno e parte dos equipamentos, como caminhão, câmaras frias e utensílios”.
ABATE PADRÃO “FRIMOITA”
A terceira alternativa para os comerciantes de carne bovina é conhecida por “Frimoita”. É o abate clandestino de animais sem qualquer inspeção sanitária, feito em áreas rurais, e que é prática de alguns açougueiros da cidade.
Nenhum dos entrevistados quis falar diretamente sobre o assunto, mas o coordenador do Departamento de Vigilância em Saúde (DEVISA) da secretaria Municipal de Saúde de Jacundá, médico-veterinário Marcus Vinicius Araújo, diz que o departamento faz visitas periódicas aos estabelecimentos que comercializam produtos de origem animal.
“Inclusive, elaboramos um conjunto de 32 recomendações fragmentadas de leis federais, estaduais e municipal concernente ao abate, armazenamento e comercialização desses produtos. E estamos realizando desde o ano passado uma ação educativa com todos proprietários de açougues e estabelecimentos correlatos, buscando informá-los sobre o cumprimentos dessas recomendações”.
Entre as recomendações, pode-se destacar que “as carnes devem ter comprovação de procedência (nota fiscal) e só podem ser armazenadas em freezers ou câmaras frias, em bom estado de conservação e limpeza”.
Para o consumidor, os riscos são imensos com relação ao consumo da carne de origem duvidosa. Bactérias, infecções alimentares e doenças provocadas por um produto de procedência duvidosa colocam em risco a saúde e a vida das pessoas. (Antonio Barroso)