A final da Copa do Mundo neste domingo (18) carrega consigo um valor gigantesco, para além do valor em si, que é vencer a maior competição esportiva do planeta. Em campo, França e Argentina (duas bicampeãs) se enfrentam para conquistar o direito ao tricampeonato mundial. Mais que isso, dois monstros sagrados do futebol medirão forças, em momentos opostos da carreira. Sim, estamos falando de Kylian Mbappé e Lionel Messi.
Os dois camisas “10” refletem um pouco o que representam historicamente suas seleções em Copas do Mundo.
De um lado, uma França que tem um histórico recente de conquistas mundiais, uma jovem campeã. Somente em 1998 venceu pela primeira vez e é a atual campeão do mundo. Quem melhor a representa é o jovem talentoso que nasceu justamente em 98 e que é apontado, no momento atual, como candidato a melhor do mundo para as próximas temporadas.
Leia mais:Do outro lado, uma Argentina que teve seu brilho entre o final dos anos 70 e início dos 90, sendo campeã em 1978 e em 1986, mas que não ganhou mais nada e agora ressurge. Da mesma forma, quem melhor a representa é um veterano que já teve seu brilho máximo até umas cinco temporadas atrás (seis vezes melhor do mundo), mas que agora também ressurgiu, quando muitos o tinham como ultrapassado.
Embora o futebol seja um esporte coletivo, é indisfarçável a existência de um duelo individual, não no sentido concreto da disputa, pois eles devem se encontrar pouco dentro do campo. Mas o embate é quanto ao protagonismo.
É óbvio que o nome de Messi já está eternizado na história do futebol. Nisso ele leva grande vantagem. Quanto a Mbappé, seu começo de carreira também é brilhante, porém não sabemos até onde ele vai. Mas domingo, é como se os dois partissem do mesmo placar inicial do jogo: zero a zero!
Embora o gênio argentino de 35 anos nunca tenha declarado publicamente sobre o desejo de se aposentar, está vivo no inconsciente coletivo o fato de que ele quer fechar seu ciclo erguendo a Copa do Mundo e dizendo aos seus Hermanos que ele é um deles também.
Por outro lado, o jovem Mbappé, na flor da idade, quer mostrar ao planeta que, embora já tenha ganhado uma Copa, ele está apenas começando e que um futuro de mais glórias o aguarda.
Mas a beleza perversa do esporte está justamente no fato de que não há espaço para as duas realizações pessoais e profissionais. Apenas um dos dois deixará o gramado do Estádio Nacional de Lusail com seu sonho materializado na forma de uma taça.
Nesse ponto, Mbappé larga na frente, pois tem a seu favor o “vigor cruel” da juventude. Caso perca, poderá dizer: “Daqui quatro anos tem mais”.
Quanto a Messi, embora tenha “a beleza bruta” de seu futebol, caso não vença a Copa, poderá apenas dizer: “Fiz o que pude”.
Mas existe ainda um fato em comum entre ambos. É que, salvo alguma cabeçada no peito do adversário (como fez Zidane com Materazzi em 2006), os dois poderão sair de campo de cabeça erguida.
Terá a CBF aprendido alguma lição nesta Copa?
A eliminação precoce nas quartas de final da Copa do Mundo do Qatar, para uma envelhecida Croácia, doeu muito. Sobretudo pela forma como tudo aconteceu, com o Brasil empilhando chances de gol e sofrendo o empate na única bola que foi dentro do nosso arco. Olhando assim, é até possível imaginar que foi obra do acaso. Mas não foi e é bom que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) saiba disso.
É óbvio que uma caça às bruxas não é jamais o caminho a ser trilhado, tampouco eleger vilões. Trabalhar com o conceito de “culpa” também não é algo que mude o horizonte.
E tudo que se fala agora é em procurar um técnico estrangeiro. Talvez este seja o caminho mesmo, mas não se pode fazer isso por “modinha”, como alguns clubes brasileiros têm feito. Todavia a ideia é abraçada por muitos cronistas esportivos e com certa razão.
Vejamos: quando Tite foi escolhido para treinar a Seleção Brasileira, em 2016, ele era unanimidade. Fracassou em 2018, mas foi mantido no cargo – novamente de forma quase unânime, pois era nosso melhor técnico. Mas fracassou agora novamente.
O questionamento que surge é: se o melhor não deu conta, imagine os outros? É lógico que quem executa o trabalho são os jogadores em campo, mas os jogadores não são ruins. Pelo contrário: o grupo que disputou esta copa é melhor do que o de 2018 e 2014. Então por que não deu certo?
E quando se olha para os técnicos do Brasil, é difícil encontrar nomes que tenham casca para aguentar toda essa pressão e, ao mesmo tempo, que tenham uma visão mais moderna de futebol. Quem? Diniz? Ceni? Dorival Jr.? Renato? Quem? Perceba a escassez.
E tem mais: quem será o novo diretor esportivo? Sim, esse é um cargo importante também, pois teoricamente ele está acima do treinador e, em tese, deveria junto com o presidente da CBF escolher o novo técnico da seleção. O cargo era ocupado até a Copa por Juninho Paulista, cuja experiência como dirigente se limitava a presidir o clube/empresa Ituano (SP). Seria essa sua credencial ou seria o fato de ele ter sido jogador campeão do mundo?
Antes de Juninho, foi Edu Gaspar, escolhido por Tite, seu comandado. Que bom se todos os trabalhadores pudessem escolher seus chefes. Mas não é assim que funciona.
Tem mais aberrações: Tite levou o próprio filho para ser seu auxiliar técnico. Não é proibido, mas qual seria a competência desse profissional? Nunca saberemos. Se não tivesse seu sobrenome, teria sido contratado?
Talvez a derrota em campo tenha sido apenas a ponte do iceberg. Muitos dos erros estão aí expostos. Resta à milionária CBF usar mais do que o dinheiro que possui. Precisa usar o cérebro, a técnica, o profissionalismo, pois, ao que parece, a CBF se tornou uma instituição tão pobre, mas tão pobre, que só consegue ter dinheiro. (Chagas Filho)