Correio de Carajás

França devolve ao Brasil quase mil fósseis do período Cretáceo

Este é o maior lote já recuperado pelo Brasil. Fósseis têm até 145 milhões de anos, foram apreendidos em 2013 e irão para o CE. Repatriação é fruto de acordo entre MPF e Justiça francesa.

Autoridades do governo francês fizeram uma cerimônia nesta terça-feira (24) em Le Havre para oficializar a devolução do maior lote de fósseis contrabandeados já recuperado pelo Brasil. Ao todo, são 998 peças do período Cretáceo, de 65 a 145 milhões de anos atrás.

Participaram da cerimônia cientistas brasileiros, servidores públicos e integrantes do Ministério Público Federal (MPF).

A repatriação é fruto de um acordo entre o MPF e a Justiça francesa, e os fósseis serão enviados para o Ceará. A negociação começou em 2013, quando os fósseis foram descobertos em um contêiner que saiu do Brasil em direção ao país europeu.

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Funcionários da alfândega do porto de Le Havre desconfiaram do contrabando durante a inspeção de um contêiner que, supostamente, levaria para a França carga de barris de quartzo.

A alfândega francesa informou ter encontrado:

  • 650 placas da Formação Crato com fósseis de crustáceos, insetos e plantas;
  • 348 nódulos de animais fossilizados em cobertura de argila (peixes, restos de dinossauros, tartarugas, crocodilos e pterossauros).

 

A perícia no material foi feita por especialistas de museus de Paris e de Le Havre e confirmou a autenticidade dos fósseis. Segundo a avaliação francesa, são peças emblemáticas do período.

A justiça francesa determinou a devolução dos fósseis ao Brasil após uma investigação ter confirmado a origem ilegal do material apreendido.

Fóssil do período Cretáceo apreendido em 2013 e devolvido pela França ao Brasil — Foto: Geopark Araripe/URCA
Fóssil do período Cretáceo apreendido em 2013 e devolvido pela França ao Brasil — Foto: Geopark Araripe/URCA

A devolução

 

A cerimônia desta terça-feira marcou a entrega oficial dos fósseis às autoridades brasileiras. Horas antes, os cientistas tiveram a oportunidade de dar uma olhada rápida no material, guardado em um galpão num distrito a 20 quilômetros de Le Havre.

No material recuperado, os cientistas já encontraram fósseis de:

  • plantas, com todas as partes preservadas;
  • insetos;
  • peixes;
  • um lagarto;
  • uma tartaruga;
  • um pequeno pterossauro.

 

Os cientistas ainda não tiveram acesso a todos os fósseis.

Os fósseis vão ser enviados a um museu gerido pela Universidade Regional do Cariri (URCA) . A Urca é responsável pelo Geopark Araripe, reconhecido pela Unesco como o primeiro geoparque das Américas, e por um museu de paleontologia que reúne um importante acervo de registros geológicos do período Cretáceo presentes na região.

Fóssil do período Cretáceo apreendido em 2013 e devolvido pela França ao Brasil — Foto: Geopark Araripe/URCA
Fóssil do período Cretáceo apreendido em 2013 e devolvido pela França ao Brasil — Foto: Geopark Araripe/URCA

Momento ‘muito significativo’

 

O diretor do Museu, Allysson Pinheiro, disse que o momento é “muito significativo”.

“É um momento muito significativo para o Cariri, para o Geopark Araripe, para o Brasil, para a paleontologia do Brasil. Estamos recebendo um material de valor inestimável. Estamos recuperando nosso patrimônio que vai direto para o nosso museu. Vamos receber esse material, trabalhar ele cientificamente e apresentar ele para a sociedade”, afirmou Allysson Pinheiro.

 

Brasil pode recuperar mais fósseis

 

O procurador Rafael Rayol, do Ministério Público Federal do Ceará, que atuou no caso, diz que o Brasil pode recuperar mais fósseis desviados em breve.

Somente na França, há outros dois casos em tramitação e envolvem um esqueleto quase completo de pterossauro da espécie Anhanguera com quase quatro metros de envergadura e outros 45 fósseis, que incluem tartarugas marinhas, aracnídeos, peixes, répteis, insetos e plantas.

há outras ações em países como Alemanha, Espanha, Portugal e Coréia do Sul. Em outra frente, cientistas atuam junto a organismos internacionais e universidades para pedir a devolução voluntária desse material científico.

“É um trabalho que a gente vem tentando convencer, mostrar para a comunidade acadêmica e para a comunidade jurídica internacional que não se deve fazer ciência, nem se fazer comércio, se sobrepondo às legislações e ao patrimônio de outros países. E que, mesmo a ciência desses países, pode ser realizada com a observância das leis. […] A ciência não precisa ser feita sobre material criminoso”, afirmou o procurador.

“O que a gente espera da nossa atividade é que possa reverter isso, possa reverter a nossa atividade em benefício da comunidade científica, da população em geral, para poder, aos poucos, desfrutar desse material em museus”, acrescentou.

(Fonte:G1)