Correio de Carajás

Fogo no Rabo e Arrastão do Amor põem ‘abacaxi’ nas mãos dos jurados

As duas quadrilhas fizeram as melhores apresentações entre as juninas do Grupo A até agora. Histórias diferentes garimpadas na Amazônia opõem o ouro de Serra Pelada, em Curionópolis, e o Festival do Çaíre, em Santarém

Magia do garimpo de Serra Pelada foi a temática escolhida pela Fogo no Rabo e que encantou a plateia - Fotos: Ulisses Pompeu

A quinta noite do 37º Festejo Junino de Marabá, na quarta-feira, 26, no Bairro Santa Rosa, teve alguns problemas, como falha na sonorização por quatro vezes, novos atrasos, mas nada disso tirou o brilho dos oito grupos que bailaram na arena. E as últimas quadrilhas deixaram um problemão para os quatro jurados, que devem empurrar a decisão para a última noite do evento, no domingo, dia 30.

As quadrilhas Fogo no Rabo e Arrastão do Amor fizeram uma epopeia regional na arena junina, enchendo a plateia de entusiasmo com coreografias envolventes e mostrando, mais uma vez, que o sarrafo sobe a cada ano.

Mas para contar essa história, é preciso fazer a cronologia invertida pela ordem de apresentação.

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Arena junina na Santa Rosa lotada de 21 horas às 2h30 da madrugada de quinta-feira (Foto: Ulisses Pompeu)

O TESOURO ESCONDIDO DA FOGO NO RABO

Passava de 1 hora da madrugada e as arquibancadas estavam lotadas. O público não “arredou o pé” um minuto sequer, isso porque a apresentação classificatória do grupo A foi deixada para o final do evento.

Personificando o tema “O garimpeiro da sorte”, a junina fez uma releitura sobre o garimpo de Serra Pelada, um tema emocionante que faz parte da vida de muitos marabaenses e nordestinos que tentaram a vida no garimpo. A Fogo no Rabo tem sido uma das apresentações mais esperadas pelo público a cada ano.

Com 36 anos de história em Marabá, a junina chegou com moral pois já possui um vasto currículo de campeonatos intermunicipais, estaduais e nacionais. E dentro da arena, os casais fizeram bonito.

Garimpeiros chegaram ao garimpo para se aventurar em busca do ouro (Foto: Ulisses Pompeu)

As roupas brilhavam como se fosse ouro, a beleza dos adereços e as músicas ressoavam a narrativa dos homens fortes da vida dura do garimpeiro. Aos presentes, foi possível sentir a energia que o grupo passava, a alegria na ponta do pé e a vibração das cores que ornava com a sincronia dos 26 pares de casais.

“Carregamos histórias que enriquecem os festejos juninos do Pará e do Brasil, a sensação é indescritível. Este ano trouxemos a narrativa de um personagem local que está sendo homenageado em vida”, conta o marcador Cleiton de Sousa.

BOTOS BRILHAM PELA ARRASTÃO DO AMOR

“Arrastão cadê você? Eu vim aqui só pra te ver!” Foi assim que o público recebeu a última junina da noite. Vinda de uma grande vitória em Canaã dos Carajás há menos de uma semana, a quadrilha Arrastão do Amor foi recebida com gritos, sendo ovacionada pelos torcedores que aguardavam ansiosamente a sua chegada.

Festival de Çairé foi contado em prosa, verso e dança na arena junina de Marabá (Foto: Ulisses Pompeu)

A entrada da junina de elite explodiu a arena, que exaltou os quadrilheiros do início ao fim. Trazendo a cultura do Çairé – entre o sagrado e o profano, a Arrastão do Amor, da Folha 8, apresentou a representação da religião, cultura indígena e criatividade de Alter do Chão, em Santarém. A apresentação foi contextualizada e dividida entre o sagrado e profano.

Pouco tempo após o início do espetáculo, uma falha no som deixou o marcador desestabilizado. Ele pediu ao sonoplasta que parasse e reiniciasse a música. O contratempo deixou todos visivelmente sem jeito. Foram 14 minutos de silêncio – mas também algumas vaias do público. “Espero que seja identificado que a culpa não foi nossa, principalmente no julgamento dos jurados. No momento, fiquei desestruturado, pois tinha uma apresentação pronta para a quadrilha”, lamenta o marcador Will Alencar.

Apesar do contratempo, o grupo mostrou por que este ano é uma das principais sensações dos festejos na região, fazendo parecer uma noite de final entre os grupos A, os conhecidos grupos de elite.

Sincronia na arena e entusiasmo dos quadrilheiros da Arrastão encantou a plateia (Foto: Ulisses Pompeu)

A troca de roupa também chamou a atenção dos presentes. De um lado, o sagrado, com cores brancas e tons mais claros, simbolizando a paz e o Espírito Santo, e do outro, o profano, carregado de cores azuis, amarelo, verde e vermelho, com direito a malícias e muito brilho.

No final, um dilema do açairé: escolher entre o boto cor de rosa ou o tucuxi, cinza.

Quem esteve na arena da Santa Rosa e presenciou as apresentações pôde comprovar que a quinta noite foi digna de uma grande final.

O BRILHO DAS CRIANÇAS

Como é de praxe, os pequenos quadrilheiros abriram a noite de apresentações.

Levada Loka e Arrastão do Amor Mirim arrancaram aplausos e levantaram uma torcida calorosa durante toda a dança.

Entoando a temática “Eu sou um país que se chama Pará”, os minis queridos dançaram e encantaram com roupas representadas pela bandeira do estado e músicas que exaltaram a região da maniçoba e do tacacá.

O tema elevou a riqueza da cultura do estado, história e diversidade. No momento da apresentação, a Levada Loka foi surpreendida por uma falha no som, que paralisou cerca de seis minutos da performance, o que deixou a plateia chateada e foi possível ouvir até vaias. Mesmo com o ocorrido, o público fez questão de impulsionar as crianças, que apresentaram novamente e, claro, incendiaram o palco.

TRADIÇÃO E INOVAÇÃO: A DUALIDADE DO GRUPO B

As duas apresentações do grupo B mantiveram os passos convencionais, não arriscando muito em inovações. A Junina Rei do Sertão foi a responsável por fazer a abertura da categoria, vestindo as cores amarelo, vermelho, laranja, branco e verde, representando a temática “Pacová”, que celebra a banana, a fruta mais consumida no Brasil por todas as classes sociais e cultivada por grandes, médios e pequenos agricultores.

Quadrilha Balão Dourado, do Grupo B, levou adolescentes para a arena e espera ir à final (Foto: Ulisses Pompeu)

Dando continuidade ao show, a junina Balão Dourado apresentou o tema “No terreiro da fazenda, festa e tradição em uma noite de São João”. A sincronia da junina animou o público, as cores vibrantes também deram vida à apresentação, que começou monótona e evoluiu ao longo da performance.

“Não é fácil chegar até aqui, quem é quadrilheiro sabe. Existem muitos desafios, mas é gratificante sempre ficarmos entre as melhores do grupo B”, comemora Joane Ribeiro, marcador da junina. (Milla Andrade)

A empresa responsável pela sonorização do evento garantiu que o problema não foi em seus equipamentos, mas nas mídias entregues pelos responsáveis pelos grupos juninos.

 

* Matéria atualizada às 17h58 de quinta-feira, dia 27 de junho de 2024