Correio de Carajás

Fogo e Arrastão vão a Canaã disputar o Nacional de Quadrilhas neste fim de semana

Duas primeiras colocadas no Municipal de Marabá viajam hoje para a Terra Prometida, onde enfrentam rivais de 17 estados de várias regiões do País

Fogo no Rabo e Arrastão do Amor vão mostrar raça e tradição no Nacional/Foto: Redes Sociais
Por: Luciana Araújo

Nos dias 12 e 13 de julho, as quadrilhas marabaenses Arrastão do Amor e Fogo no Rabo entram em cena no Concurso Nacional de Quadrilhas, realizado em Canaã dos Carajás. Estreante na competição, a Arrastão leva o espetáculo ‘Redentor do Sertão’ e abre o festival no sábado. Já a veterana Fogo no Rabo encerra a programação no domingo, com a mensagem ‘O mundo é um, é oca’ e a responsabilidade de fechar o evento. Em comum, os dois grupos carregam na bagagem a força da cultura popular e a missão de provar que o Pará tem quadrilha de qualidade e alma de campeão.

Pode até parecer clichê, mas a Fogo no Rabo chega ao nacional com os três F’s: foco, força e fé. Durante toda a temporada de 2025, o grupo mirou no campeonato estadual, concursos menores como o de Marabá (onde foi vice-campeã) ficaram em segundo plano. O resultado? A Fogo ganhou a disputa em Itupiranga e se classificou em primeiro lugar para o nacional.

“Nós passamos dias e noites focados no Estadual. Esse ano, abrimos mão do Municipal de Marabá para mirar direto no título estadual. E conseguimos. Fomos campeões em Itupiranga com apenas um décimo abaixo da nota máxima em conjunto”, celebra Ademar Gomes Dias, servidor público e coordenador do grupo.

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Ademar aposta na alma, na fé e na tradição da Fogo no Rabo/Foto: Evangelista Rocha

Para além de competir com outras 17 juninas, a Fogo vai enfrentar outro grande desafio: encerrar o evento. Para Ademar, a pressão dessa responsabilidade é semelhante a uma final de Copa do Mundo, e eles precisam fechar de forma apoteótica.

Fogo no Rabo: força e tradição

E a força da Fogo no Rabo está na tradição. Fundada em 1988 no bairro Santa Rosa, sua marca sempre foi a da valorização da cultura local e da fé. Na década de 1990, a equipe era reduzida e cada integrante se desdobrava em múltiplas funções: da criação dos figurinos à montagem das coreografias. Nos últimos anos, porém, o grupo profissionalizou sua atuação. Tudo isso sem perder suas raízes.

“A gente ampliou a diretoria, criou coordenações específicas: de marcha, produção, pesquisa, temática, figurino, até espiritual. Temos uma evangélica e uma católica que oram pela gente nas viagens. Para nós, isso é muito importante”, explica Ademar.

Fogo no Rabo pronta para fechar o Nacional com chave de ouro/Foto: Redes Sociais

Com o front fortificado, a Fogo no Rabo viaja no sábado (12) com 31 pares de dançarinos e uma equipe de apoio com cerca de 20 pessoas, entre figurinistas e técnicos. Pela primeira vez, a quadrilha leva uma estrutura de porte para o nacional, com cenografia e componentes teatrais mais robustos.

“Quem nos ajudou muito também foi o Anderson Souza, que fez o nosso projeto dos últimos três anos nos dando três títulos estaduais. Ele foi fundamental para nossa evolução”, destaca Ademar.

Este ano, parte da identidade cultural da quadrilha vem da relação com os povos indígenas Gavião, que desde o início acompanham e contribuem com o grupo. Neste ano, no entanto, a ausência desses parceiros foi sentida: a comunidade está de luto pela perda de quatro membros, entre eles uma mulher de 105 anos, mãe do cacique.

“Foi um baque. Eles estariam conosco na arena, como sempre estiveram. A apresentação do figurino foi feita na aldeia, durante o Festival da Castanha. Nossa vitória no Estadual foi dedicada a eles, com oração e tudo. Mesmo não dançando com a gente, continuam nos apoiando, ajudando com pintura, jenipapo e toda a sabedoria que carregam”, afirma Ademar, com emoção.

Agora, a Fogo no Rabo se prepara para dançar não apenas por um título, mas por tudo o que a sustenta: fé, comunidade e resistência. Quando os tambores ecoarem e a última quadrilha do festival cruzar a quadra, mais do que um espetáculo será entregue, será a afirmação de que o fogo aceso lá em 1988 ainda arde forte, iluminando o caminho de quem dança por amor à cultura popular.

“Só de estar entre as melhores do Brasil já é um orgulho imenso”, finaliza Ademar.

Arrastão do Amor se prepara para o 1º nacional

Em 2025, a Arrastão do Amor vive um dos anos mais marcantes de sua trajetória no movimento. A junina conquistou prêmios em todos os concursos por onde passou e se classificou para disputar, pela primeira vez, o Festival Nacional de Quadrilhas Juninas da Confebraq.

“Desde 2022, já vínhamos fazendo temporadas muito boas, mas em 2025, com o espetáculo Redentor do Sertão, nós não perdemos em lugar nenhum. Passamos por sete concursos e vencemos seis. No único que não vencemos, fomos vice-campeões por apenas um décimo”, conta, com orgulho, Derik Lopes de Jesus, social media e integrante da quadrilha junina Arrastão do Amor.

O espetáculo “Redentor do Sertão” é o ponto alto de um processo artístico que vem se consolidando nos últimos quatro anos, segundo Derik. A produção é assinada por Bruno Araújo, coreógrafo e produtor da quadrilha. O trabalho grandioso é traduzido no sentimento de que hoje a junina pode competir de igual para igual com qualquer quadrilha do Brasil.

A vaga para o nacional foi conquistada na seletiva estadual da Fequanto (Federação de Quadrilhas Juninas e Núcleo de Toadas do Estado do Pará), realizada em Itupiranga. Foi nessa seletiva que a Arrastão do Amor ficou em segundo lugar por uma margem mínima, garantindo a classificação para o palco mais disputado do país. A marabaense Fogo no Rabo ficou em segundo.

“Vamos para Canaã com a certeza de que estaremos representando o Pará muito bem. O lema é esse: o Pará é Arrastão e o Arrastão é o Pará”, reforça Derik.

Derik garante que a Arrastão vai mostrar a qualidade das juninas paraenses/Foto: Evangelista Rocha

A preparação da Arrastão do Amor é intensa e dedicada. Desde o dia 5 de janeiro, os ensaios ocupam as noites da semana, mostrando o comprometimento do grupo. Segundo Derik, cada concurso é encarado com máxima seriedade, e para o nacional não será diferente.

“Dançaremos como se fosse a última vez, preparados para sair de lá em pé, desmaiado ou numa ambulância, mas certos de que o Brasil vai lembrar quem é a Arrastão do Amor”, diz, rindo, mas com firmeza.

Além disso, ser a primeira quadrilha a se apresentar no Nacional da Confebraq traz uma pressão extra. Derik reconhece que os jurados costumam ser mais rigorosos com a abertura do evento, mas garante que o grupo está pronto para esse desafio. Ele garante que, quando o locutor anunciar que acabou o tempo, Canaã dos Carajás vai saber exatamente quem é a Arrastão do Amor.

A pressão da estreia é grande, mas a Arrastão vai abrir com força/Foto: Redes Sociais

De supercampeã regional ao maior palco do país

Em junho, a quadrilha também venceu no Canaã Cidade Junina o festival intermunicipal, considerado um dos mais disputados da região. Agora, volta à cidade para enfrentar quadrilhas de todas as regiões do Brasil, incluindo grupos consagrados do Ceará, Goiás e Acre.

“O nível é outro. Mas a gente entra em quadra sem medo de ninguém. Vamos disputar esse nacional com confiança, com amor, com o corpo e com a alma. O nosso objetivo é mostrar ao Brasil que o Pará não tem só quadrilha de intervalo: o Pará tem cultura junina de qualidade”, afirma Derik.

Mais que competir, a Arrastão do Amor quer deixar sua marca e mostrar como se faz cultura com excelência. Nesta temporada eles trabalharam duro, acreditaram no projeto e agora têm a chance de fazer história.