Correio de Carajás

Fitoterápicos podem ser adulterados e levar à morte, alerta endocrinologista

Dor de cabeça e estômago, insônia e a sensação de aperto no coração são alguns dos sintomas relatados por mulheres que usaram medicamentos vendidos como fitoterápicos com o objetivo de emagrecer. Entretanto, por trás das promessas de emagrecimento estava uma organização criminosa que fabricava e vendia produtos adulterados.

Os falsos medicamentos eram distribuídos no Brasil e exterior através da venda na internet ou vendedores autônomos. A Operação Dieta Sadia, deflagrada pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e pela Polícia Civil, desarticulou na última semana uma associação criminosa que fabricava, distribuía e revendia remédios adulterados para emagrecer e sem autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

O produto era anunciado como natural, mas na verdade continha substâncias antidepressivas, que só podem ser comercializados com receitas retidas em farmácia. Dentre as substâncias sintéticas encontradas, havia sibutramina, fluoxetina e diazepam.

Leia mais:
Ávila Fagundes: “Temos que ter indicação de um profissional que saiba qual a melhor medicação para o paciente”

A equipe do Portal Correio de Carajás entrevistou a endocrinologista Ávila Fagundes, que atua em Parauapebas, para esclarecer os riscos da automedicação e os efeitos colaterais.  “Todo mundo procura perder um pesinho aqui, um pesinho ali, dois, três quilos, ou até mais, algumas pessoas acham que a medicação é natural, porém supostos medicamentos naturais estão sendo distribuídos no mercado”, descreve a médica.

A especialista alerta que a sibutramina é uma medicação que pode causar taquicardia, insônia, dor de estomago e cefaleia. Já a fluoxetina é indicada para pacientes com crises depressivas e o diazepam é uma medicação usada para dormir, tranquilizar. “São medicações que não devem ser usadas em conjunto. Em pessoas hipertensas pode causar infarto, angina (dor no peito temporária) e quem sofre com enxaqueca piora muito as crises, pode até causar um AVC”, diz.

De acordo com ela, o cuidado com medicação para emagrecer deve ser redobrado. “Temos que ter indicação de um profissional que saiba qual a melhor medicação para o paciente, a dose correta, o momento correto. A mesma medicação que a gente usa para um paciente não é indicada para outro. O tratamento é individual e específico”, explica.

Um dos riscos da automedicação é a falta de acompanhamento, por serem necessários exames laboratoriais para pesquisar doenças que possam ser associadas à obesidade, por exemplo. “Obesidade é uma doença crônica, está na maioria das vezes associada a outras doenças, como diabetes e hipertensão. Não adianta emagrecer o corpo se não tratar a mente”, detalha a endocrinologista.

Por achar que estava um “pouquinho gordinha” Raimunda Mesquita comprou um frasco de um suposto remédio natural, com 40 comprimidos. A venda foi através de uma vendedora autônoma em Parauapebas e não é possível afirmar se trata do mesmo medicamento, pois a mesma quadrilha distribuía os produtos com diferentes rótulos. Os sintomas de Raimunda, entretanto, são semelhantes ao relato de quem usou o falso fitoterápico. 

“Eu tomava um comprimido por dia após o café, mas eu tinha insônia e até uma dor no coração. Emagreci cinco quilos, mas não vale a pena adoecer. Falaram que era natural, mas me senti muito mal, sempre com a sensação que a boca estava seca”, relembra Raimunda.

Entenda

O suposto medicamento era produzido em uma fazenda em Cachoeira Alta, Goiás. Duas toneladas de produtos foram apreendidas, a produção do medicamento clandestino não tinha higiene, as cápsulas eram colocadas em baldes destampados e sujos.

Para aumentar a produção do medicamento as substâncias eram misturadas em betoneira, usada na construção civil. As fórmulas não eram pesadas e tinham a mistura em dosagens desordenadas de cada substância. As mesmas substâncias encontradas em Goiás, Santa Catarina e até fora do país, em Portugal. (Theíza Cristhine)