Correio de Carajás

Ficamos menores? Uma conversa sobre o tamanho do ensino superior do Brasil

A educação é marca das experiências exitosas de desenvolvimento ao redor do mundo. Sem traçar uma relação de causa e efeito, o fato é que países que melhoraram o padrão de vida de sua população conviveram com avanços em seus indicadores educacionais. O contrário também é verdadeiro, ou seja, pioras nesse quesito indicam uma reversão nas potencialidades internas de um país.

Quando pensamos em potencialidades, a ideia que surge é de futuro. Quando alguém ingressa no ensino superior, seus objetivos são de condições melhores no longo prazo. Não atoa a educação ainda é um dos principais meios para ascensão de renda no Brasil. Da mesma forma que do ponto de vista individual, essa relação permanece para o país como um todo. A maneira como um governo age com a educação é o reflexo de sua concepção sobre o futuro.

Podemos avaliar essa concepção por diferentes ações, como diz o provérbio “A ação é filha do pensamento”. A destruição do meio ambiente é uma delas, o desinvestimento em saúde, outra. Todas essas questões indicam o compromisso que um governo tem com essa geração e as próximas. O encolhimento recente vivido pela educação não significa, portanto, apenas a frustração de milhões de sonhos individuais, mas de um projeto de futuro para o país.

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O Brasil viveu em um curto espaço de tempo uma mudança significativa no ingresso de jovens no ensino superior. Segundos dados do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, organizados pelo Laboratório de Contas Regionais da Amazônia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Lacam/Unifesspa), passamos de aproximadamente 3,5 milhões de pessoas matriculadas no ensino presencial em 2002, para um pico de mais de 6,6 milhões em 2015, um crescimento próximo a 90%. No mesmo período a população brasileira cresceu apenas 14%. A partir desse ano, porém, o cenário foi de completa reversão. A universidade encolheu, ficou mais vazia e incapaz de manter aqueles que nela ingressam.

Desde o pico alcançado em 2015, a quantidade de matrículas presenciais caiu em todos os anos seguintes. Em 2020, último ano de dados disponíveis, nós havíamos perdido mais de 1 milhão de jovens no ensino superior, nesse ano voltamos ao patamar de uma década atrás. Esse número, no entanto, ainda é bastante tímido da real tragédia vivida. Se a tendência de crescimento entre 2002 e 2015 permanecesse nos 5 anos seguintes, o Brasil teria quase 8 milhões de pessoas matriculadas no ensino superior presencial em 2020. Foram cerca de 2,5 milhões de jovens excluídos da oportunidade de viver o ensino superior. Foram professores, engenheiros, médicos que não recuperaremos mais num curto período.

 

Para quem conseguiu ingressar, o desafio não foi menor. O orçamento das universidades sofreu cortes drásticos nos últimos anos. De acordo com dados do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), as despesas reais efetivadas com a educação superior em 2021 foram quase 22% menores do que em 2014. Os cortes mais agudos ocorreram nos investimentos, os quais sofreram redução de 85% entre 2012 e 2020. O reflexo disso tem sido nas crescentes taxas de abandono do ensino superior, que alcançaram 36,6% em 2021 nas modalidades EAD e presencial, o que equivale a cerca de 3,42 milhões de alunos.

Toda essa redução sofrida pelo ensino superior não impacta de modo igual os jovens que entram ou sonham em entrar em uma universidade. A evasão acomete principalmente alunos em situação de vulnerabilidade social, os quais são obrigadas a abandonar o ensino superior em detrimento do trabalho. A universidade volta a ser, pouco a pouco, o local da escolha dos escolhidos. O projeto de encolhimento do ensino superior também é um projeto de desigualdade, é o roubo da oportunidade de milhões de jovens pobres de alcançarem uma condição mais digna de vida.

Autor: Lucas Rodrigues, coordenador do curso de Economia da Unifesspa