Correio de Carajás

Festejo Junino 2024 vara a madrugada e marabaense reclama

O horário absurdo, terminando às 3 horas, gera comparações com desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro

Além de reclamar dos atrasos, internautas não apreciam a estratégia de segurar o público deixando quadrilhas grupo A para o final

Os horários do Festejo Junino de Marabá há anos desagradam o público que comparece no Largo da Santa Rosa para apreciar as apresentações tradicionais. Assim como nos desfiles de escolas de samba, a festa marabaense adentra a madrugada e usa artifícios engenhosos para arrastar seu público até o final da noite. O pulo do gato do cronograma é deixar para o final os grupos juninos mais aguardados: as quadrilhas do grupo A.

O sentimento de insatisfação gerado nos apreciadores da festa foi exposto, através de comentários, em uma publicação do Correio de Carajás no Instagram, compartilhada na terça-feira, 25, onde marabaenses desabafam seu desagrado com os atrasos da programação deste ano.

Na 4ª noite de sua 37ª edição, por exemplo, a festividade iniciou por volta de 21 horas na terça-feira, 25, e encerrou em torno de 2 horas da madrugada de quarta-feira, 26.

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No dia anterior, segunda-feira, 24, a coisa foi bem pior. As apresentações começaram também às 21h, e encerrando somente às 3 horas, horário insalubre para quem precisa acordar cedo e, principalmente, para crianças.

Inclusive, ao divulgar a programação, a Prefeitura de Marabá faz uso do “a partir”, uma maneira de indicar, caso seja cobrada sobre isso, que não foi garantido que as apresentações iriam iniciar, de fato, às 19h30.

“Falta de respeito”

“Tava parecendo desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, quase 6 da manhã, faltou só a Mangueira entrar (sic)”, pontuou Elias Junior via Instagram do Portal Correio de Carajás. Mas ao contrário do que acontece no Carnaval carioca, a execução de um horário que adentra a madrugada não é algo que o público marabaense considera aceitável.

O impacto na rotina do trabalhador é ressaltado por Tahiany Wanzeler, em um comentário que expõe o desgaste das famílias e das torcidas, resultado das horas esperando pelas apresentações.

Com tanta demora, crianças dormem no colo dos pais durante o longo festejo junino em Marabá

“Falta de respeito. As crianças não conseguem ver, as pessoas que trabalham no dia seguinte não conseguem assistir, esse horário é absurdamente tarde. Todo ano é a mesma coisa. Algo que deveria ser revisto”, diz a internauta.

Quem também defende a classe trabalhadora é Francisca Macena. “Uma falta de respeito com quem trabalha, evento marcado para começar às 19h30 e começar às 21h”.

Além disso, a estratégia usada para manter o público nas arquibancadas não é bem vista. “Ontem (segunda-feira), as quadrilhas conseguiram “segurar” o público, mas isso não deveria ser motivo de orgulho para a organização, pois está ridícula essa situação dos horários. Isso se repete a cada ano. Já tiveram quadrilhas que se apresentaram para um grupo de menos de 200 pessoas, o que é triste com quem se prepara durante meses para fazer um lindo espetáculo”, arremata Mariana Nunes, também pelo Insta.

MAIS COMENTÁRIOS

Até às 10 horas desta quarta-feira, a publicação do Correio de Carajás no Instagram já tinha alcançado 91 comentários, grande parte deles tecendo desgosto sobre os horários.

“Queria ter visto (as apresentações), mas um horário desses em pleno início de semana é foda”, diz Thyago Mota.

“Uma falta de respeito da Prefeitura de Marabá com o cidadão”, aponta Leonnam Massias, antigo quadrilheiro da cidade.

“Evento marcado para começar às 19h30 e começa às 21 horas e tem quadrilha que chega à 00h30, sendo que é uma das primeiras a se apresentar. A organização está errada, mas algumas quadrilhas também, vamos tem pontualidade né (sic)”, expôs Rafhael Silva.

Nayane Gomes diz que não consegue nem mesmo assistir a transmissão ao vivo: “Eu não consegui nem assistir de casa, no YouTube, esperando as quadrilhas entrarem, imagina estando lá?! Gosto muito de assistir, mas quando penso nesse horário e no outro dia tem que trabalhar, levar menino pra escola, é foda, não vou não”.

“É um absurdo isso @prefeituramaraba, como vocês elaboram um cronograma com este horário em plena segunda-feira, sendo que no outro dia todos tem que trabalhar, que descaso é este com a população? Tomem providências sobre isso”, cobra Rafhael Silva.

“Realmente termina muito tarde, o público que fica ali é mais o pessoal da Velha Marabá mesmo ou quem tem transporte e olhe lá porque chamar moto Uber às 3 horas da manhã é foda (sic)”, comenta Jocila Lima.

“Todo ano essa bagunça no cronograma. Até parece que ninguém trabalha pra estar acordado até as 3h da manhã durante a semana!”, desabafa o internauta identificado apenas com o prenome Rony.

HORÁRIO NO REGULAMENTO

A reportagem do Correio de Carajás teve acesso ao regulamento do concurso de grupos juninos e no documento, há detalhes sobre a duração das apresentações e da logística envolvida.

As quadrilhas mirins têm um tempo máximo de 20 minutos de apresentação, enquanto para as adultas e os grupos de boi-bumbá o período é de 30 minutos. Além disso, há 10 minutos para montagem de cenário e 5 para desmontagem. No fritar dos ovos, grupos mirins gastam 35 minutos, no total, e os demais, 45 para logística e apresentação.

Em uma conta aproximada, uma noite com oito grupos entrando na arena (duas mirins, dois bois, duas grupo B e duas grupo A), o tempo total de apresentações gira em torno de 5 horas. E ainda nem falamos dos intervalos.

A reportagem verificou que na noite de terça-feira, o menor tempo de intervalo foi de 12 minutos e o maior, 19. Somando todos os períodos, o total em torno de 1h20. Se contabilizarmos esse dado com a duração das apresentações, o tempo de arena passa de 6 horas.

Isso indica que, caso começasse às 19h30, a noite junina encerraria à 1h da madrugada. Ainda tarde, porém mais palatável.

POSICIONAMENTO DA PREFEITURA

Para questionar a situação dos horários e possíveis soluções, a reportagem entrou em contato na manhã desta quarta-feira com a Secretaria Municipal de Cultura, que remeteu o caso para a Secretaria de Comunicação. Mas até a publicação desta notícia, não houve posicionamento oficial sobre a situação. (Luciana Araújo)