Desmilitarização, reestatização e aumento da arrecadação foram alguns pontos abordados pelo historiador Fernando Carneiro, candidato ao governo do estado do Pará pelo PSOL, em entrevista concedida ao Jornal Correio nesta segunda-feira (24) estando em campanha eleitoral na região sudeste do Pará. Tratando sobre os principais problemas do estado, afirmou que o Produto Interno Bruto (PIB) está entre os 12 maiores – R$ 130 bilhões – do estado, mas quando analisado per capita, dividido pela população, os resultados têm caído sistematicamente.
“A última informação é que neste quesito estamos em 22º dentre todos os estados e, além da comprovação deste fato pelas estatísticas, ele tem comprovação palpável. O pior IDH é no Pará, os piores indicadores de violência, saúde e educação, além do desmatamento”, comentou, acrescentando que o Estado do Pará, apesar de ter riquezas importantes, não consegue fazer isso ser distribuído para a população.
“Isso nos leva a crer que não é um problema econômico, mas político. Temos inúmeras empresas, mais precisamente aqui na região as mineradoras, que não pagam impostos que eu e você pagamos. O ICMS da conta de luz, por exemplo, as mineradoras são isentas”, exemplificou.
Leia mais:Em relação a isso, destacou a questão da Lei Kandir. “Você conhece alguém que seja a favor da Lei Kandir? Eu não conheço, mas a lei não cai. O governo precisa ser o elemento indutor de pressão do governo federal, de pressão no congresso, assim como nossos deputados que agora serão eleitos precisam fazer um compromisso para lutar contra essa lei que prejudica a gente demais. Se não acabar com essa lei, não se verticaliza a produção no estado e aí não se pode falar em desenvolvimento”.
O candidato defende o fim da “farra das isenções fiscais”, que considera uma imoralidade administrativa. “Além disso, precisamos investir em educação, queremos aumentar de 25% a 30% do que é investido, precisamos descentralizar de fato o atendimento hospitalar porque os hospitais foram regionalizados, mas o atendimento não, garantir, ainda, a manutenção da natureza, o desmatamento desenfreado não pode mais perdurar. Existem condições tecnológicas de monitorar as áreas desmatadas e precisamos usar nossas ferramentas de segurança para controlar isso”.
SEGURANÇA
Questionado sobre o tópico segurança, Carneiro afirma ser necessário investir na região, uma das mais violentas do estado que é um dos mais violentos do país. “Precisamos aumentar nosso efetivo policial. O Pará tem quase o dobro da média nacional de homicídios, precisamos reduzir a média para a nacional que já é altíssima. Reduzir 10% ao ano esse índice e, para isso, montar uma força tarefa com o judiciário porque menos de 10% dos homicídios cometidos são levados a julgamento e as pessoas são apenadas. Se de cada 9 homicídios 10 ficam impunes, o estado tá deixando a mensagem que se pode cometer todos os crimes já que nem homicídio é apurado”.
Ainda sobre o efetivo, argumentou que atualmente são 16.500, abaixo da média nacional, e defendeu a desmilitarização. “Precisamos criar uma polícia que respeite a população. Nós temos a proposta de desmilitarizar, a gente reconhece a importância da polícia e temos duas instituições que não dialogam entre si, o que não favorece a investigação dos crimes, precisamos de uma polícia unificada, civil, que o policial tenha o direito de reclamar do salário”.
EMPREGO
Em relação à geração de emprego, Carneiro afirmou que hoje, no Pará, é mais fácil um jovem chegar à sua primeira arma antes do primeiro emprego e que propõe política de governo para combater este cenário. “Não podemos falar de geração de emprego sem falar de colocar crianças na escola. Hoje no Pará, 100 mil crianças e adolescentes estão fora da escola, isso é maior que a população de muitos municípios do estado”.
Apontou alternativas, ainda, de investimento para que mais empregos sejam criados. “Se criou a ideia de que os grandes empreendimentos vão resolver a vida do estado, foi vendida essa ideia para nós e é falsa. Que grandes projetos resolveram a vida das pessoas? A cidade cresceu, muita riqueza está circulando, mas essa riqueza não está sendo apropriada pelas pessoas. Precisamos investir não em grandes empreendimentos, estes precisam existir, mas vão existir pagando impostos como os pequenos. Precisamos investir é no pequeno empreendimento, na economia solidária, na economia criativa, são vetores da geração de emprego. Precisamos fazer reforma agrária porque as pessoas precisam ter terra para trabalhar”.
REESTATIZAÇÃO
Por fim, falou ainda de dois focos do programa de governo, o compromisso com os professores e a reestatização da Celpa. “É um compromisso nosso pagar o piso salarial aos professores porque é um absurdo que haja um piso salarial estipulado nacionalmente e o governador do estado não cumprir a lei, além de recorrer à justiça para não pagar. É desrespeito com a educação”.
Sobre a companhia de energia, disse querer reestatizar a companhia. “É um absurdo que o Pará tenha duas hidrelétricas, a maioria da nossa energia ser exportada para fora do estado e a gente pagar uma das contas de energia mais caras do Brasil”.
(Luciana Marschall)