Lugar de bicho é no mato. Poucos foram os meninos que, nos anos 70, não ficaram pra cima e pra baixo carregando gaiolas com passarinhos dentro. Curió, bigode, canário, xexéu, coleira, canário, graúna, trinca de ferro…
Sei que não era por mal, há um feitiço entre crianças e bichos. Juntar-se em bandos e domingo, cedinho, escondido da mãe, ganhar o mundo pelas ruas e ir ao varjão era uma experiência de entendia do riscado. Alguns, mais alforriados, pegavam a canoa, atravessavam o Itacaiunas e iam passarinhar do outro lado do rio, pras bandas da chácara de dona Chiquinha.
Naquele tempo, alpiste era coisa de luxo e só quem tinha dinheiro comprava para seus passarinhos. Quem não tinha precisava ir vender peixe para o Seu Michel e arranjar uns trocados para não passar vergonha na hora de sair em bando com os colegas.
Leia mais:É bem verdade que passarinhar, era também, um disfarce para alguns rapazes que queriam fumar seu cigarro de maconha sem ser incomodados. Pegavam a gaiola, saiam pro mato e demoravam. Só voltavam depois de ter acabado o charuto e tomado um banho demorado no rio para tirar o cheiro forte da bicha.
Mas os amantes dos passarinhos presos, de verdade, levavam consigo a gaiola e um ou até dois alçapões, uma espécie de armadilha para pegar outros passarinhos. Mas o pássaro “manso” tinha de ser cantador para atrair outras aves, que vinham namorar ou comer do alpiste no alçapão ali do lado.
Havia uma segunda alternativa. Usar apenas uma arapuca construída com gravetos. Ela ficava em um local isolado e um pouco aberto, para vista dos pássaros, com algum tipo de alimento (em geral alpiste). Depois, o dono se afastava e voltava de 20 em 20 minutos para conferir se alguma ave tinha caído na armadilha. Quando a vítima era um curió, bigode ou coleira eram as vítimas, então a tarde estava ganha. Um bom dinheiro iria render porque curió cantador valia mais caro.
Mas há outra lenda urbana ocorrida nos anos 90. A de um barão endinheirado dono de uma distribuidora de bebidas que morava na folha 27 e que fez uma casa gigante numa esquina, onde hoje funciona o restaurante Quero Mais. Brega, como emergente ou rico consolidado, quis ter no quintal uma revoada (eu aprendi na quinta série que esse era o coletivo de pássaros e sempre quis usar). E aí, empurrou o pau a comprar passarinhos dos bandidos.
Ele cercou com telas uma área imensa de seu quintal e prendeu ali dezenas, senão centenas de pássaros. A polícia não importava e quem passava pelo local achava “lindo” o canto dos pássaros, que atraiam outros, que chamavam outros…
Quando quebrou a banca, teve que se desfazer do bangalô e libertou os bichos. Dizem que um dia encontraram um rótulo de cerveja dentro do bucho de um pássaro que voltava sempre ao local e fora capturado por meninos da Nova Marabá.
No passado, aqui em Marabá, era comum nas cozinhas das casas, ter um macaquinho (ou papagaio) amarrado a uma corrente. Morava numa prateleira miúda, com piso de alumínio, pregada na parede.
Se fêmea, havia delas vestidas numa “sainha” e donas de uma “redinha” estampada. Naqueles tempos, além dos micos, também se vestiam o filtro de beber água, o botijão de gás e o liquidificador da Arno. Uma graça! Época do pinguim em cima da geladeira.
Pra criança, era legal tê-los por perto. Mas prisioneiros, não sei se os soins gostavam daquela vidinha de bibelô. Mesmo com o maior bem querer do mundo. Acostumavam-se. E quando tinham uma chance, escapuliam.
Daí era uma dor chorosa por semanas. A falta que faziam na hora que se desenhava a ausência. Sem falar de algumas mortes trágicas. Primeiro contato de meninos e meninas com o sumiço sem volta.
Um deles se enforcou na corrente quando teve a ilusão que estava num galho e pensou que era macaco… A outra que foi mordida no rabo, por um rato envenenado, e morreu batendo os olhinhos e segurando o dedo indicador da menina… Chorou chuvas!
Deixei as gaiolas de lado, as correntes, os papagaios. Faz tempo. Melhor ter uma árvore e vizinhos que vivem pra lá e pra cá.
Lugar de bicho é no mato. Poucos foram os meninos que, nos anos 70, não ficaram pra cima e pra baixo carregando gaiolas com passarinhos dentro. Curió, bigode, canário, xexéu, coleira, canário, graúna, trinca de ferro…
Sei que não era por mal, há um feitiço entre crianças e bichos. Juntar-se em bandos e domingo, cedinho, escondido da mãe, ganhar o mundo pelas ruas e ir ao varjão era uma experiência de entendia do riscado. Alguns, mais alforriados, pegavam a canoa, atravessavam o Itacaiunas e iam passarinhar do outro lado do rio, pras bandas da chácara de dona Chiquinha.
Naquele tempo, alpiste era coisa de luxo e só quem tinha dinheiro comprava para seus passarinhos. Quem não tinha precisava ir vender peixe para o Seu Michel e arranjar uns trocados para não passar vergonha na hora de sair em bando com os colegas.
É bem verdade que passarinhar, era também, um disfarce para alguns rapazes que queriam fumar seu cigarro de maconha sem ser incomodados. Pegavam a gaiola, saiam pro mato e demoravam. Só voltavam depois de ter acabado o charuto e tomado um banho demorado no rio para tirar o cheiro forte da bicha.
Mas os amantes dos passarinhos presos, de verdade, levavam consigo a gaiola e um ou até dois alçapões, uma espécie de armadilha para pegar outros passarinhos. Mas o pássaro “manso” tinha de ser cantador para atrair outras aves, que vinham namorar ou comer do alpiste no alçapão ali do lado.
Havia uma segunda alternativa. Usar apenas uma arapuca construída com gravetos. Ela ficava em um local isolado e um pouco aberto, para vista dos pássaros, com algum tipo de alimento (em geral alpiste). Depois, o dono se afastava e voltava de 20 em 20 minutos para conferir se alguma ave tinha caído na armadilha. Quando a vítima era um curió, bigode ou coleira eram as vítimas, então a tarde estava ganha. Um bom dinheiro iria render porque curió cantador valia mais caro.
Mas há outra lenda urbana ocorrida nos anos 90. A de um barão endinheirado dono de uma distribuidora de bebidas que morava na folha 27 e que fez uma casa gigante numa esquina, onde hoje funciona o restaurante Quero Mais. Brega, como emergente ou rico consolidado, quis ter no quintal uma revoada (eu aprendi na quinta série que esse era o coletivo de pássaros e sempre quis usar). E aí, empurrou o pau a comprar passarinhos dos bandidos.
Ele cercou com telas uma área imensa de seu quintal e prendeu ali dezenas, senão centenas de pássaros. A polícia não importava e quem passava pelo local achava “lindo” o canto dos pássaros, que atraiam outros, que chamavam outros…
Quando quebrou a banca, teve que se desfazer do bangalô e libertou os bichos. Dizem que um dia encontraram um rótulo de cerveja dentro do bucho de um pássaro que voltava sempre ao local e fora capturado por meninos da Nova Marabá.
No passado, aqui em Marabá, era comum nas cozinhas das casas, ter um macaquinho (ou papagaio) amarrado a uma corrente. Morava numa prateleira miúda, com piso de alumínio, pregada na parede.
Se fêmea, havia delas vestidas numa “sainha” e donas de uma “redinha” estampada. Naqueles tempos, além dos micos, também se vestiam o filtro de beber água, o botijão de gás e o liquidificador da Arno. Uma graça! Época do pinguim em cima da geladeira.
Pra criança, era legal tê-los por perto. Mas prisioneiros, não sei se os soins gostavam daquela vidinha de bibelô. Mesmo com o maior bem querer do mundo. Acostumavam-se. E quando tinham uma chance, escapuliam.
Daí era uma dor chorosa por semanas. A falta que faziam na hora que se desenhava a ausência. Sem falar de algumas mortes trágicas. Primeiro contato de meninos e meninas com o sumiço sem volta.
Um deles se enforcou na corrente quando teve a ilusão que estava num galho e pensou que era macaco… A outra que foi mordida no rabo, por um rato envenenado, e morreu batendo os olhinhos e segurando o dedo indicador da menina… Chorou chuvas!
Deixei as gaiolas de lado, as correntes, os papagaios. Faz tempo. Melhor ter uma árvore e vizinhos que vivem pra lá e pra cá.