Correio de Carajás

Fecundidade no Brasil está caindo nos últimos anos

Taxa de fecundidade no país caminha para 1,5 filho por mulher, segundo o IBGE. Conheça histórias de mulheres que não querem ter filhos

Imagem: Freepik

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta semana apontam para a queda do crescimento da população no Brasil, o que indica que menos crianças estão nascendo. Conforme o levantamento, apenas o estado de Roraima ainda apresenta ao menos dois filhos por mulher em idade reprodutiva.

Em queda no Brasil, a fecundidade apresenta tendência similar entre todas as regiões do país, que caminham para 1,5 filho por mulher a partir de 2056 e até 2070, último ano divulgado no pacote de projeções da população brasileira. Nesses anos, a taxa, que já foi de 6,3 filhos por mulher em 1960, estaciona em 1,5, conforme a projeção do órgão, com intervalo de 2035 a 2049 em 1,4, retornando ao número anterior até 2070.

NoMo: “No Mothers”

Hoje em dia se tornou comum encontrar pessoas que não têm interesse em ter filhos. Existe até um termo sendo popularizado para se referir a essa geração de mulheres que não deseja ser mãe: NoMo, sigla em inglês de “No Mothers”, que traduzido para o português equivale a “Não Mães”. Essa nomenclatura foi cunhada pelas inglesas da Gateway Women, organização sediada no Reino Unido.

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Apesar de não haver um único motivo para a decisão de não maternar, fato é que a escolha de não ter filhos envolve diversos aspectos da vida que vão desde a falta de uma rede de apoio e das dificuldades para conciliar crianças e trabalho, levando à exaustão extrema do famoso “ter que dar conta de tudo”.

A professora de inglês e digital influencer Jessica Caiado, de 33 anos, afirma que nunca quis ser mãe. Casada há quatro anos, ela aponta que a decisão é anterior ao relacionamento e não se vê mudando de opinião.

“Quando eu me casei, já havia decidido não ter filhos e foi uma coisa acordada com o Renan [marido da influencer]. Eu nunca tive o desejo de maternar, desde pequena, nunca foi um desejo meu, mas também sempre estive aberta a mudar de opinião. Mas, até hoje, eu não me vejo mudando. Isso não foi um problema para a nossa relação”, afirma ela.

Entre os motivos elencados por ela estão questões financeiras, violência e o trabalho. “Não tenho um instinto materno, mas são várias questões. Acho que está muito difícil criar filhos na realidade atual com muito acesso à informação, muita violência. Eu trabalho com crianças, então convivo diretamente com isso. Está cada vez mais difícil ganhar dinheiro suficiente para ter o mínimo de conforto, acompanho valores de escola e sei que são astronômicos. São fatores que devem ser considerados”, diz.

“O meu trabalho não influencia muito a minha escolha, porque eu nunca quis ter filhos, mas o fato de ser autônoma acho que pode pesar um pouco nessa decisão. Se eu paro de trabalhar, eu paro de receber e, querendo ou não, para ter filho eu tenho que parar nem que seja por um tempo ali”, afirma Jéssica.

Apesar disso, ela afirma que tem medo de se arrepender. Por isso, está no planejamento fazer o congelamento de óvulos. “Não fiz ainda por questões financeiras, sei que é um procedimento caro, mas está nos meus planos, caso eu mude de ideia”, conclui.

Sociedade difícil

Solteiras, as irmãs Jordana e Jovana Colombo, de 38 e 34 anos, respectivamente, também já fizeram a opção por não ter filhos. Elas apontam as dificuldades da sociedade como fatores principais para a decisão.

“Estamos vivendo em um mundo muito maldoso. Pessoas cada vez mais sem caráter, sem respeito pelo próximo. Criar uma criança e deixar ela presa em casa, sem contato com outras pessoas é fácil, mas o convívio em sociedade é difícil. Vejo muitas pessoas com filhos e sendo criados de qualquer jeito. Crianças mal-educadas, com problemas de saúde ou criadas por outras pessoas que não têm nada a ver com seus princípios da família, simplesmente para falarem que tem filho”, afirma Jordana.

“Nunca tive uma visão romântica da maternidade. Não duvido do amor, que deve ser realmente imenso, mas costumo falar que um filho é um problema para o resto da vida, só vai mudando de fase.”

Jordana, que é nutricionista, afirma que se sente pressionada pela sociedade por ter optado não maternar. “Essa semana mesmo escutei de uma paciente que deveria fazer terapia para resolver isso. Mas esse não querer eu descobri justamente na terapia. Você não seguir as regras e padrões da sociedade incomoda muitas pessoas. E pessoas que se acham no direito de palpitar na sua vida, mas se eu falar ‘nossa como você cria mal seu filho’, eu sou errada, grossa”, afirma ela.

“A terapia me ajudou a ver os meus reais desejos e vontades. E eu nunca fui de querer agradar primeiro fora. Primeiro eu, o que é visto muito como egoísmo, mas falo que grande parte dos problemas emocionais hoje em dia é justamente por isso. As pessoas vão se anulando para agradar o próximo e quando veem nem se reconhecem mais. Percebo muitas pessoas se sentindo culpadas por ter tido filhos. Amam os filhos, mas se pudessem voltar no tempo não teriam”, ressalta ela.

A irmã, Jovana, que é jornalista, afirma que o mundo não está tranquilo. “Eu não tive um motivo para não ter filho, eu só não quero. Acho que o mundo não está um lugar tranquilo. Acho que as pessoas estão ficando cada vez mais egoístas. Algumas pessoas até falam: ‘Mas quem vai cuidar de você na velhice?’. Acho que isso, sim, é egoísmo. Daí você coloca uma criança no mundo pensando que ela tem a obrigação de cuidar de você quando você estiver velho. Não acho isso justo. E, drasticamente falando, daqui a 50 anos, 60 anos, parece que a gente não vai ter nem água potável para usar. Então, assim, acho que não é o momento”, relata.

Neste momento, Jovana diz que prioriza as próprias vontades e não as cobranças. “A pessoa quer ter filho, ela tem filho, não quer ter filho, não quer ter filho. Eu prezo muito pela minha rotina, por querer viajar, dormir até mais tarde, quando eu quiser, mas pela minha individualidade. Não acho que isso seja egoísmo. É me priorizar em vez de fazer algo contra a minha vontade só porque a sociedade me cobra isso.”

Porém, ela afirma que a vida muda. “Hoje tenho esse pensamento, mas eu não me cobro para ter esse pensamento a minha vida inteira. Se ano que vem eu mudar de ideia e quiser ter, beleza, vou ter, não tem problema. Eu prefiro ser a metamorfose ambulante do que se ter aquela velha opinião formada sobre tudo”, comenta.

A jornalista afirma, ainda, que os possíveis tratamentos e procedimentos para adiar a maternidade, como o congelamento de óvulos, deveriam ser mais divulgados e popularizados.

Mais de 400 motivos

Nas redes sociais, especialmente no TikTok, são vários os perfis de mulheres que manifestam o desejo de não ter filhos.

Em um deles, a tiktoker Rylee, com mais de 50 mil seguidores, fez uma lista compartilhável chamada Razões para nunca ter filhos. Até o momento, a lista tem mais de 400 motivos.

No vídeo da influencer, que já tem mais de 1 milhão de visualizações, ela conta algumas das razões. Entre os comentários, mulheres apontam outros motivos. “Chegando em casa exausta depois de um longo dia de trabalho e ainda tendo que cuidar de uma criança”, diz um deles. “Eu simplesmente não estou com vontade”, diz outro.

(Metrópoles)