Correio de Carajás

Famílias de vítimas do acidente na BR-222 constituem advogados para acompanhar investigação

Escritório de advocacia assume representação e aponta irregularidades que poderiam ter evitado tragédia

Erisvan, Dorivan e Beatriz são três das vítimas fatais da colisão na rodovia federal
Por: Da Redação
✏️ Atualizado em 09/07/2025 15h22

O escritório Teixeira e Freires Advogados assumiu oficialmente a representação das famílias de três das quatro vítimas fatais do grave acidente ocorrido na BR-222, próximo ao município de Abel Figueiredo. A tragédia, que aconteceu na manhã do domingo (6), vitimou quatro motociclistas quando uma escavadeira hidráulica se desprendeu de uma carreta e caiu sobre a pista.

Os advogados Diego Adriano Freires e Pablo Fernando Reis representam agora as famílias de Beatriz Teixeira Cardoso Soares, de 21 anos e esposo Dorivam Alves Soares, de 24 anos, além de Erisvan Bezerra da Silva, de 53 anos. O quarto motociclista, Caio Leonardo de Souza Gonçalves, de 36 anos, funcionário da Secretaria Municipal de Gestão Fazendária (Segfaz) de Marabá, não teve sua representação legal mencionada pelos advogados.

Os advogados Diego Adriano Freires e Pablo Fernando Reis representam agora as famílias

Investigação

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Segundo informações divulgadas pelos advogados em entrevista ao portal Correio de Carajás, a banca de defesa realizou um levantamento preliminar de informações do processo e identificou possíveis irregularidades que, se sanadas antes do fato, poderiam ter evitado o acidente que causou a morte das quatro pessoas.

Entre os principais pontos questionados pela defesa estão cinco aspectos fundamentais que precisam ser esclarecidos pelas autoridades competentes:

  1. Fiscalização de peso e trânsito pela PRF

Os advogados questionam como o veículo com possível excesso de peso conseguiu passar pela barreira da Polícia Rodoviária Federal sem ser interceptado. Conforme relatado na entrevista, a retroescavadeira e o veículo passaram pela cidade de Dom Eliseu, no Pará, que possui um posto de atendimento da PRF, onde poderia ter sido feita uma análise e, ao constatar irregularidades, proibida a continuação do trajeto.

A defesa busca informações sobre quais critérios foram utilizados pela Polícia Rodoviária Federal para liberar a continuidade do veículo em sua viagem com destino a Barueri, em São Paulo.

  1. Situação do licenciamento da carreta

Uma das principais irregularidades apontadas pelos advogados refere-se ao licenciamento da carreta transportadora. Segundo informações preliminares obtidas através do site eletrônico do DETRAN de São Paulo, o veículo que transportava a máquina retroescavadeira estaria com seu licenciamento atrasado.

Os advogados pedem cautela quanto a essa informação, ressaltando que, apesar de ter sido retirada do site oficial do DETRAN-SP, pode conter inconsistências. Por isso, consideram prematuro cravar que essa informação se confirma, sendo necessária confirmação posterior pela autoridade policial que investiga o caso, através de ofício direto ao DETRAN de São Paulo.

  1. Regularidade do licenciamento e impacto na circulação

Caso se confirme a irregularidade no licenciamento, os advogados questionam como essa possível irregularidade impactou na circulação do veículo pelas rodovias federais e estaduais, especialmente considerando os pontos de fiscalização pelos quais o comboio passou.

  1. Segurança da amarração da carga

Outro ponto crucial levantado pela defesa diz respeito às amarrações que sustentavam a retroescavadeira no veículo. Segundo o levantamento preliminar, as amarrações se desprenderam, resultando na queda da máquina e consequente morte dos quatro motociclistas.

Os advogados entendem que houve irregularidade nas amarrações por estas não respeitarem a Resolução do CONTRAN de número 882/2021, que exige o uso de catracas pneumáticas e cintas com capacidade de 7 toneladas para este tipo de transporte. A confirmação dessa irregularidade deverá ser feita através da perícia técnica solicitada pela autoridade policial.

  1. Dinâmica do acidente e testemunho ocular

A defesa também questiona a dinâmica do acidente, especialmente em relação aos depoimentos das testemunhas oculares. Segundo os advogados, o testemunho das testemunhas contradiz uma versão apresentada sobre ultrapassagens no momento do acidente, sendo que duas testemunhas oculares deveriam ser ouvidas para dar sua versão dos fatos.

Acompanhamento do inquérito

O escritório Teixeira e Freires Advogados reafirmou seu compromisso em acompanhar de perto todas as etapas do inquérito policial conduzido pela Delegacia de Polícia Civil de Abel Figueiredo, sob a responsabilidade do delegado José Lênio Ferreira Duarte.

Os advogados destacaram que todas as informações levantadas em sua investigação defensiva serão melhor definidas pela autoridade policial competente, que já requisitou perícia técnica do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, de Marabá, para esclarecer as circunstâncias do acidente.

Perícia técnica

A autoridade policial já requisitou oficialmente a realização de perícia de local de crime referente ao acidente de trânsito na BR-222, conforme documento datado de 06 de julho de 2025. A perícia tem como objetivo esclarecer a dinâmica do acidente e identificar possíveis responsabilidades.

O acidente envolveu um caminhão trator Volvo FH 540, placa STB2I75, reboque Facchini placa JAX0C11 e semi reboque Facchini placa IPM1A22, da empresa Infrabrasil, que transportava uma escavadeira hidráulica Hyundai R520L com destino a Barueri, São Paulo.

Comunidade motociclística

A tragédia causou profunda comoção na comunidade motociclística de Marabá e região. As vítimas eram integrantes do Motoclube Forasteiros Marabá e seguiam para Rondon do Pará, onde participariam de um encontro de motociclistas.

Erisvan Bezerra da Silva era sargento aposentado da Polícia Militar do Pará, enquanto Caio Leonardo de Souza Gonçalves trabalhava na Secretaria Municipal de Gestão Fazendária. O casal Beatriz e Dorivam participava pela primeira vez do percurso com o grupo.

O velório de Erisvan e Caio foi realizado no Ginásio Poliesportivo Renato Veloso, na Folha 16, em Marabá, reunindo familiares, amigos, membros de diversos motoclubes e representantes da Polícia Militar. Após o ato público, um cortejo fúnebre percorreu as ruas da Nova Marabá até o Cemitério da Saudade, na Folha 29.

Compromisso com a Justiça

Em nota oficial, o escritório de advocacia reafirmou sua missão de garantir uma investigação completa e justiça plena para as vítimas Beatriz, Erisvan e Dorivan. “Não descansaremos até que a verdade seja revelada”, destacaram os advogados, enfatizando o compromisso com a transparência e o esclarecimento de todos os fatos.

A representação legal das famílias marca um importante passo no acompanhamento do caso, garantindo que os interesses das vítimas sejam devidamente representados durante todo o processo investigativo e, eventualmente, judicial.

O caso segue em investigação pela Polícia Civil do Pará, com expectativa de que a perícia técnica e os depoimentos das testemunhas possam esclarecer definitivamente as circunstâncias que levaram à tragédia na BR-222.

As motocicletas e os ocupantes foram carbonizados após colisão e incêndio/ Foto: Josseli Carvalho