Correio de Carajás

Famílias convocam protesto por caos na saúde de Curionópolis

A paciência da população de Curionópolis com a situação caótica em que se encontram os serviços de saúde oferecidos pelo prefeito Adonei Aguiar parece estar chegando ao fim. Prova disso é o protesto que está marcado para hoje, sexta-feira, 14 de junho, em frente ao Hospital Municipal “Elcione Barbalho”, a partir de 15 horas, e que está mobilizando centenas de pessoas pelas redes sociais.

A ideia da manifestação nasceu de um grupo de mulheres, que ficaram revoltadas com a ausência de serviços básicos de saúde que deveriam ser garantidos pela Prefeitura Municipal. Ontem, quinta-feira, em um vídeo difundido pelas redes sociais, um grupo de oito mulheres fez uma convocação das famílias da cidade, dizendo que é preciso dar um basta no que está acontecendo.

Uma das mulheres que aparece no vídeo, Tatiane Cantanhede, lembra sobre o fato de o hospital estar de portas fechadas até hoje, mais de um ano depois de ter sido fechado para reforma. Elas avisam que vão procurar as autoridades judiciais para relatar a situação de extrema preocupação pelo caos instalado no município com a falta de atendimento adequado na área de saúde. “Não temos uma estrutura física adequada para o atendimento da população”, diz ela.

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Outra mulher, cujo nome não foi possível levantar, avalia que o longo tempo para reforma do Hospital Municipal não se justifica e afirma que o atendimento no “Anexo do Hospital Municipal Elcione Barbalho” que foi improvisado pelo prefeito Adonei Aguiar, não atende as necessidades da comunidade. “No postinho não fazem parto, nem cirurgia simples. Estamos dependendo dos municípios vizinhos, mas agora nem isso temos mais, porque eles não estão mais querendo nos receber, até porque vem recursos para Curionópolis e queremos saber onde estão sendo aplicados. Vamos ao Ministério Público e cobrar da gestão municipal. Saúde já, gritam as oito mulheres no final do vídeo”.

A Reportagem do CORREIO visitou esta semana a unidade de saúde, que foi transformada em “Anexo Temporário do Hospital Municipal”, mas que pelo longo tempo está parecendo definitivo. Na sala de espera, muita gente em pé porque não havia cadeiras suficientes para os pacientes ficarem acomodados antes do atendimento.

Carla Nascimento, que foi levar o filho de 9 anos com suspeita de fratura na perna direita, reclamava que a central de ar não funcionava e nem mesmo os ventiladores do ambiente, que é o cartão de visita do hospital. “Sem contar que o atendimento simples aqui na triagem demora mais de uma hora e meia”, queixou-se Carla.

Aos 45 anos de idade, Tânia Costa Meireles foi ao hospital com uma requisição de Raio-X na lombar, mas não conseguiu. Foi informada que o serviço está indisponível no município e recebeu orientação da atendente para buscar ajuda em outra cidade. “A saída é você ir para Parauapebas ou Marabá. Não tem jeito aqui e a gente não sabe quando vai voltar”, lamentou a própria servidora da casa de saúde, cujo nome é preservado para que não haja perseguição por parte do prefeito e da secretária de Saúde.

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FALTA ATÉ SABÃO

Uma funcionária do hospital improvisado informou nesta quinta-feira ao Jornal CORREIO que naquela casa de saúde falta quase tudo e que os medicamentos desapareceram, os familiares dos pacientes precisam adquirir em farmácias da cidade até mesmo analgésicos porque a Secretaria de Saúde não fez a provisão necessária. “Não tem nem mesmo sabão em barra ou líquido e as louças estão sendo lavadas com sabão em pó há cerca de um mês. É uma situação injustificável”, desabafa a profissional de saúde.

Ontem, por meio de uma rede social, Queliane Clarindo também fez seu desabafo pelo descaso para com a saúde de Curionópolis. “Temos de sair da nossa cidade para cidades vizinhas para fazer um simples Raio X, pois o hospital de Curionópolis não tem como fazer isso. É lamentável e revoltante”, criticou.

SEM PLANEJAMENTO

A secretária de saúde, Kelma Oliveira, parece mesmo estar perdida no cargo. Não tem a confiança de seus comandados e não consegue fazer a saúde do município funcionar minimamente. No caso do Hospital Municipal e do laboratório, a reforma de ambos foi concluída, mas o prefeito Adonei e Kelma Oliveira empurram a inauguração com a barriga e alegam que a aquisição dos equipamentos está demorando. Ela e o prefeito estão sendo investigados pelo Ministério Público Estadual por causa da reforma do hospital. “Disseram que inaugurariam os dois em dezembro, depois em março, passaram para abril e por último para o aniversário da cidade, em 10 de maio. Não cumpriram nenhuma dessas datas”, recorda um funcionário da Secretaria de Saúde, que pediu reserva de seu nome, temendo retaliações.

O laboratório municipal, segundo ele, está funcionando na sala de endemias, de forma improvisada, mas exame de hemograma, por exemplo, um dos mais simples, não é realizado há mais de dois anos, assim como outros exames que não são realizados há muito tempo. “Quando acontecem casos de urgência, com alguém internado e com risco de morte, recorrem ao serviço particular. O resto? Ah, as famílias se viram, tiram do hospital e levam o paciente para outra cidade”, denuncia.

Outro problema crônico é o descaso para com as Estratégias de Saúde da Família, que não funcionam e viraram um caos, com os servidores desmotivados. O mesmo estaria acontecendo com os consultórios odontológicos, que não atendem a comunidade e estão parados. “Faltam nutricionista, fisioterapeuta e o atendimento em domicílio está bagunçado. Pacientes que estavam tendo melhora, estão prejudicados”.

“Praticamente todas as unidades de saúde estão críticas. Falam que foram reformadas, mas na realidade foi passada somente uma tinta para tirar a cor da gestão anterior, sendo que algumas salas nem tinta receberam, mas foram ‘reformadas’. No posto de saúde do Planalto há uma fossa a céu aberto que vai completar aniversário de um ano nessa situação, que já foi comunicada para a secretária, mas ela só fica no ‘vou resolver’. O odor é insuportável”, diz outro servidor, indignado com a crise sem precedentes na saúde do município.

SECRETÁRIA CONVOCADA

Na sessão ordinária da Câmara Municipal de Curionópolis de ontem, quinta-feira, os vereadores discutiram longamente sobre o caos na saúde do município e reconheceram a situação vexatória por que passa a comunidade, tendo de sair da cidade para procurar atendimento médico em outros municípios. Eles haviam convidado Kelma Oliveira, mas ela não compareceu à Câmara e ontem eles aprovaram uma convocação para a próxima terça-feira. Mesmo sendo filha de um vereador (Raimundo Roldão), ela será obrigada a prestar esclarecimentos ao Poder Legislativo sobre os fatos que levaram Curionópolis a uma situação tão degradante em seu setor de saúde e por que enganaram a população com uma inauguração farsante do Hospital “Elcione Barbalho” no final do ano passado.

Outra prova da falta de gestão na Secretaria de Saúde foi o bloqueio dos recursos da Atenção Básica este ano por falta de alimentação do sistema de informação do governo federal. E isso a secretária Kelma e Adonei Aguiar não revelaram à população.

Ontem, o vereador Gildásio Mendes Borges ingressou com uma representação junto ao Ministério Público Estadual pedindo providências quanto ao não funcionamento do Hospital Municipal, relatando as condições aberrantes de internação de pacientes e o tratamento dado aos usuários do SUS em Curionópolis. “É sabido por toda a população que o tratamento desumano dispensado aos pacientes causa constrangimentos e grandes prejuízos aos munícipes, com pagamento de exames e deslocamentos desnecessários à cidade de Parauapebas em busca de tratamento em situações simples”.

Gildásio aponta incompetência e falta de compromisso por parte da secretária Municipal de Saúde em conjunto com a Gestão Municipal (Adonei Aguiar), “aumentando as chances dos pacientes de se perderem o bem mais precioso e indisponível, que é a vida”. (Ulisses Pompeu)