Em conversa com o CORREIO durante o velório da filha Tereza Bianca Nunes de Castro, a senhora Rejane Nunes de Castro prometeu ir até as últimas consequências para ver responsabilizados os responsáveis pela morte da filha e por deixarem duas crianças órfãs. Na visão dela, Tereza morreu em decorrência de violência obstétrica, após ter o intestino perfurado durante o parto do segundo filho em 24 de outubro do ano passado, no Hospital Materno Infantil de Marabá.
Desde então, a mulher lutava pela vida e, agora, pereceu. O caso era acompanhado com apreensão e esperança de um final feliz pela comunidade de Marabá. Tereza Bianca tinha 23 anos e a situação se tornou conhecida após a família denunciar ao Conselho de Saúde que ela teve o intestino perfurado e que isso teria ocorrido durante o parto do seu segundo filho, em 24 de outubro do ano passado, no Hospital Materno Infantil de Marabá.
Na ocasião do parto cesário, o bebê, que está vivo, também teve o braço direito fraturado. O óbito de Tereza se deu por volta das 20 horas de sábado, sendo o corpo dela liberado para a família na madrugada de domingo. O velório foi realizado na igreja Tenda da Família, no Bairro Laranjeiras, onde a família falou com o jornal e o sepultamento foi no Cemitério da Saudade, na Folha 29. O jornal não conseguiu informações oficiais do Hospital Regional sobre o que consta como causa da morte da paciente.
Leia mais:ENTENDA
Como já publicado pelo Correio, o Conselho Municipal de Saúde (CMS) solicitou, de imediato, o afastamento da secretária municipal de Saúde, do médico que fez o parto e também a direção do HMI.
Durante a reunião do CMS na última semana foram apresentadas imagens da paciente com as vísceras expostas, uma imagem de embrulhar o estômago e causar indignação em qualquer ser humano.
A mãe de Tereza, Rejane Nunes de Castro, também esteve presente na reunião e relatou que a filha estava em uma situação deplorável no Materno Infantil, depois de dar à luz. “Ela foi pra ter um bebê e aconteceu tudo isso. No HMI ela me contou que foi muito maltratada; jogaram ela numa sala sem medicação”, relata.
Ao ver a filha naquele estado, Rejane exigiu que ela fosse transferida para o Hospital Municipal de Marabá (HMM), mas a informação que foi repassada a ela é de que a paciente só poderia ser levada para outra casa de saúde depois que se passasse o período de 30 dias.
Foi aí que Rejane tomou providências mais severas e registrou um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil. Somente depois disso ela foi transferida. Mas lá no HMM os recursos não foram capazes de salvá-la e ela teve de ser transferida para o Hospital Regional, onde ela já passou por 11 cirurgias.
REVOLTA
Com a morte de Tereza, o caso agora toma outros contornos. Ouvida novamente pelo Correio na manhã de domingo, enquanto vela o corpo da filha, Rejane já declarou que irá até as últimas consequências para ver justiça pela perda da sua filha. Já fala em realizar atos públicos em protesto e cobrando que sejam identificados e punidos os responsáveis. “Não vou desistir!”, disse ao jornal.
Tereza deixa órfãos o bebê recém-nascido, que é um menino e outro de dois anos.
SILÊNCIO
Após a morte de Tereza, no sábado, e até ontem a Prefeitura de Marabá não havia se pronunciado sobre a ocorrência e ignorou a situação.
Na semana anterior, no entanto, após o caso ser debatido no Conselho de Saúde, o Hospital Materno Infantil (HMI) emitiu nota e disse que abriu, na época, sindicância interna, afastou o profissional responsável pela ação e comunicou ao Ministério Público que o caso estava sendo investigado pelo HMI.
“A paciente foi internada no Hospital Municipal de Marabá (HMM), tendo sido prestada toda assistência necessária à família. Posteriormente, ela foi transferida ao Hospital Regional do Sudeste do Pará. Vale ressaltar que no HMI são realizados mais de 600 partos bem sucedidos por mês, destes, mais de 50% encaminhados por municípios vizinhos, que não prestam o mínimo suporte de Atenção Básica de Saúde às gestantes, como o pré-natal”, divulgou-se na ocasião.
Ontem o CORREIO apurou que no dia 15 de janeiro a Prefeitura de Marabá publicou portaria nomeando um novo diretor técnico para o HMI, agora: Ely Mulgrabi de Oliveira.
Tereza Bianca não entra nas estatísticas do Ministério da Saúde de óbito materno, que é até 42 dias após o parto, porém entra na de óbito materno tardio, de 43 dias até um ano. A família admite que a mulher não teria feito o acompanhamento pré-natal, mas nega que ela fosse moradora de rua, afirmando que ela morava no Residencial Tiradentes.
O corpo dela, num primeiro momento foi levado do Hospital Regional direto para o velório, mas ainda no domingo, a Polícia Civil solicitou perícia científica no cadáver antes do sepultamento, para precisar a causa da morte. (Da Redação)