Correio de Carajás

Família marabaense está dividida entre o Águia e o Fortaleza

Antônio Neto, de 8 anos, é o mais angustiado com o confronto entre seus dois times do coração. Ele, o pai, a mãe e os irmãos já viajaram para assistir ao 1º jogo

Metade de Fortaleza e metade Águia. A família de Mardônio vive dilema no confronto entre os dois times

Aos 8 anos de idade, Antônio Gonçalves de Sousa Neto é a prova de que o coração de um torcedor pode ser preenchido igualmente por dois times de futebol. Fissurado pelo Fortaleza, mas também apaixonado pelo Águia de Marabá, o menino terá essa divisão de paixões colocada à prova dentro de campo nos dias 11 e 26 de abril, quando as duas equipes se enfrentarão pela terceira rodada da Copa do Brasil.

Muito entusiasmado em assistir de pertinho os dois confrontos, o torcedor mirim aposta que o placar ficará 2×1 para o Fortaleza em solo cearense e 1×0 para o Águia, no estádio Zinho de Oliveira. E justifica: diz que no Ceará sua torcida irá para o Fortaleza, mas no jogo de volta, no Mangueirão, não hesitará em torcer para o Azulão.

A equipe deste CORREIO esteve na casa de Antônio Neto na última terça-feira, 4, para conversar com ele e sua família sobre esse amor que é uma herança.

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Tudo começou quando o avô de Antônio, que também se chama Antônio, trabalhava em uma empresa cearense que, em 1993, comprou um laticínio no núcleo Morada Nova. Ele e seu irmão Márcio, atual vereador de Marabá, se mudaram de Fortaleza para o Pará. Até então, a família nunca tinha ouvido falar de Marabá. O deslocamento aconteceu de caminhão até Santa Inês e terminaram o resto da viagem de trem.

Mardônio exibe sua coleção de camisas, entre as quais do Azulão marabaense

No mesmo ano, seu pai, Mardônio, viajou para passar férias em Marabá e acabou ficando. No ano seguinte, a família inteira se mudou de vez. O negócio de leite acabou, mas a família cresceu e permaneceu: “Já sou mais marabaense do que fortalezense. E apaixonado pelo Águia. A única coisa que eu não consegui deixar lá foi o amor pelo Fortaleza Futebol Clube”, relata o genitor.

Mardônio conta que toda quarta e sábado, ele e seu pai iam assistir aos jogos do Fortaleza presencialmente no PV. Algo que também perdurou. O corretor explica que mesmo morando em Marabá, eles não só se reúnem para assistir pela TV às partidas do time cearense, como também vão sempre que podem para acompanhar de pertinho os jogos, tanto na Capital Fortaleza quanto em outras partes do Brasil e até da América do Sul.

Mardônio relata que já fez muitas loucuras pelo time. Na época em que o Fortaleza estava na Série C, ele saía de Marabá na sexta-feira para ir até o Ceará acompanhar ao vivo os jogos que aconteciam no sábado, mesmo precisando voltar na segunda-feira cedo para trabalhar.

“No jogo de acesso, em Minas Gerais, contra o Tupi, eu também estava lá com mais 2.500 torcedores”, conta. Na mesma época, ele também presenciou o primeiro jogo internacional do seu timão, contra uma equipe argentina. Momento em que Mardônio sentiu que não havia mais tanta graça se não pudesse levar toda sua família para poder passar de geração em geração esse amor.

A família já acompanhou o Fortaleza até para jogos da Libertadores, fora do Brasil

O fortalezense, então, transformou essa fissura que somente outro torcedor tão apaixonado poderia entender, em herança. Mesmo antes de aprender a andar, seus filhos o acompanham em jogos dentro dos estádios ou no sofá, à frente da televisão.

Mas, essa paixão toda não ocupa o coração inteiro de Mardônio. É que assim como o filho, o Fortaleza divide uma parte do espaço com o Águia. “Me envolvo tanto que já recebi o convite para ser membro da diretoria da equipe marabaense, algo pelo qual me sinto bastante honrado”, relata, acrescentando que isso é fruto de fazer as coisas com paixão.

Com o sorteio da terceira fase de final da Copa do Brasil, colocando Águia e Fortaleza para se enfrentarem em dois jogos, um em Fortaleza e outro em Belém, a família vai aproveitar que já estará em solo cearense para acompanhar o final da Copa do Ceará e também ver de pertinho as duas equipes que tanto ama e admira, jogando uma contra outra.

Muito animado, o corretor Mardônio conta que foi um alvoroço a informação de que os dois times se enfrentariam a essa altura da Copa do Brasil. Ele, que havia acabado de completar 40 anos, vibrou com o presente, na mesma medida que recebeu inúmeras ligações de amigos e familiares que também se empolgaram sabendo da notícia.

Para o pai, a surpresa foi enorme. E não pensaram duas vezes. Na manhã desta quarta-feira, a família – com Mardônio, Fernanda Pigatti, Isabela, Vitor e Antônio Neto – pegou a estrada rumo ao Ceará. Passam a Semana Santa e já ficam até o confronto do dia 11, contra o Azulão Marabaense em território cearense.

O PAI VAI DE…FORTALEZA

Questionado para quem irá sua torcida nesse confronto, Mardônio, diferente do filho, não hesitou em dizer que a paixão de infância é responsável pela decisão. Diante tudo que viveu, seria impossível não torcer para o Fortaleza, mesmo amando e acompanhando todos os jogos do Águia de Marabá.

Embora tenha marcado presença em jogos históricos da Libertadores e Sul-Americana, o fortalezense diz que não existe euforia que se compare à que está sentindo no momento por ter a oportunidade de vivenciar com os filhos, dois times que tanto ama se enfrentando em dois confrontos épicos.

“Em termos de paixão, o Antônio é meu espelho”, conta o pai. A família, que possui mais de 60 camisetas dos dois times, relata que o motivo do número extenso é que cada uma representa uma história diferente, e que havia mais, mas Mardônio faz questão de presentear conhecidos, amigos e parentes com os mantos sagrados.

Atualmente, a família vai mais em jogos do Águia por questões de logística, e isso só contribui para que a paixão pelo time marabaense aumente, já que o pai da família faz questão de não somente acompanhar, mas se envolver, gritar e “encher o saco”, como ele mesmo relata.

Vitor, o filho do meio, conta que nem se recorda qual foi a primeira vez em que vestiu a camisa do Fortaleza, mas a mãe e o pai mostram as roupinhas de bebê que guardam como lembranças dos filhos, assim como a foto revelada do adolescente em seu aniversário de cinco anos com a festa temática do time cearense.

Vitor estuda o Almanaque do Fortaleza: A família compra tudo sobre o time do coração

Ele, que é apaixonado por futebol, já tentou ser influenciado pelos tios a torcer pelo São Paulo e Flamengo, porém, nenhuma força foi maior do que a herança da paixão pelo Fortaleza, dada pelo pai. Da mesma forma, o amor pelo Águia também foi repassado.

Jogadores do Fortaleza gravaram mensagem para Antônio Neto

 

A paixão de Mardônio pelo Fortaleza o levou a ficar bem pertinho da diretoria do time e também da comissão técnica e dos jogadores. E para demonstrar essa sinergia com o torcedor e sua família, parte dos atletas do time enviou mensagem de felicitações no aniversário de 7 anos de Antônio Neto.

Até mesmo o atacante Osvaldo, ídolo da equipe, mandou um vídeo que se juntou aos dos demais colegas de equipe. Marcelo Boek, o goleirão que também fez história no clube, emendou: “Antônio Neto, seja feliz, que Deus abençoe tua vida e realize teus sonhos. Em Portunhol, o zagueiro Juan Quintero foi outro que felicitou o torcedor do Fortaleza que mora em Marabá.

Antônio Neto vibra em sua festa de aniversário temática em Marabá, mas com foco no Fortaleza

E as principais comemorações da família têm o Fortaleza como tema. Os quartos são decorados com a temática do time do coração, toalhas, bandeiras, souvenirs e até mesmo um Almanaque do Fortaleza a família tem na estante de casa. “A gente vive e respira Fortaleza. Todos nós temos várias camisas para ocasiões diferentes. Cada uma tem uma história”, confirma a mãe Fernanda.

 

(Thays Araujo e Ulisses Pompeu)