Um fato grave na saúde de Parauapebas foi registrado na tarde de ontem, terça-feira (6). A Polícia Civil de Parauapebas foi acionada por Gevaldo Leonias Costa denunciando que o filho natimorto foi trocado pelo de outra família na funerária, fato que ele teria descoberto durante o enterro, quando foi aberto o caixão.
Gevaldo declarou à polícia que a esposa, Débora Barata Varão, estava grávida de 25 semanas quando foi informada que teve um aborto espontâneo. No entanto, quando prosseguiu o enterro, a tampa do caixão foi aberta e o pai da criança notou que o tamanho do corpo não era compatível ao de um feto de seis meses. Ele fez uma foto e mostrou à mãe, que confirmou não se tratar do filho do casal.
Ele, então, se dirigiu ao Hospital Geral de Parauapebas (HGP) em busca de solução para a situação, mas sequer foi atendido. Diante disso, foi à delegacia para registrar um boletim de ocorrência.
Leia mais:À Polícia Civil, Gevaldo afirmou que, após o aborto, o casal foi orientado a procurar pela assistência social para realizar os procedimentos de enterro do natimorto. Então, foi feito o encaminhamento, por meio da assistência social, para que a funerária prosseguisse com o enterro, que ocorreu nesta quarta-feira (6). Antes disso, teria ocorrido uma troca.
Conforme o delegado Erivaldo Campelo, diretor da 20ª Seccional de Polícia Civil de Parauapebas, foram registrados dois boletins de ocorrência pelas duas famílias envolvidas. Ele confirmou à reportagem que um dos corpos – do filho de Gevaldo e Débora – ainda não apareceu. O caso foi encaminhado à Delegacia Especializada à Criança e ao Adolescente (DEACA), onde foi aberto um inquérito para apurar as circunstâncias do caso, podendo haver, inclusive, a exumação dos caixões.
A reportagem entrou em contato com o mecânico Gevaldo Leonias, que deu detalhes sobre a situação. “Minha esposa deu à luz a um bebê que veio a óbito por volta da 0h30 de domingo (4). O pessoal da direção municipal me encaminhou para a assistente social, que me liberou para o procedimento na funerária. No entanto, no dia seguinte, após todo o processo, eu já achava a criança diferente da que nasceu. Mesmo assim, eles fizeram o enterro de forma totalmente errada e com o corpo enrolado em um pano. Depois, recebi a notícia de que a criança enterrada não era a minha, mas sim de outra família.”
O pai acredita que uma série de erros ocorreu no HGP. “Acho que houveram diversos erros, desde os médicos até a funerária e a assistência social. Começando pela liberação do corpo no hospital e seguindo até o acobertamento do erro por parte da direção. Quando a funerária fez a remoção (do corpo no hospital), só existia o corpo da outra criança que eles afirmaram que estava com o nome da minha esposa na identificação.”
Por fim, o mecânico afirmou que a esposa já teve alta, mas está abalada psicologicamente, pois não está sendo fácil passar por todo esse processo após perder um filho dessa forma.
Além do pai, a reportagem também conseguiu entrar em contato com uma testemunha, que preferiu não se identificar por medo de retaliações.
A “MÁFIA DO CAIXÃO”
De acordo com a testemunha, atualmente, no HGP, o serviço social tem uma pressa grande em liberar corpos para evitar que sejam descobertos erros médicos frequentes na unidade que estariam sendo investigados pelo Ministério Público. “Diariamente, há diversas denúncias em relação a erros grosseiros, causados por falta de qualificação adequada de quem atende dentro do hospital, incluindo estagiários. Além disso, há muitas pessoas sem capacidade técnica para exercer a função de cuidar de vidas”, afirmou.
Em relação às funerárias, ele afirma há uma que é licitada pelo município há sete anos seguidos. Ela é comunicada imediatamente pela Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) para remover os corpos. Caso a família não esteja presente, ela é orientada a remover e sepultar o corpo imediatamente.
“Os assistentes sociais até brigam com as famílias, que aceitam o serviço da prefeitura, mas agora as denúncias estão se acumulando. Há suspeitas de que as famílias estejam enterrando crianças em locais errados, e que existem outras irregularidades. É um problema frequente que agora está sendo denunciado pelas famílias”, declarou.
A testemunha ainda citou a “máfia do caixão”, que explicou como sendo a forma “como algumas pessoas se referem ao fato de que existe apenas uma funerária que ganha licitações em Parauapebas, e que está há sete anos no mercado. Outras empresas participaram deste ano, mas foram descartadas pelo município, que continua a pagar valores superiores ao preço de mercado para essa única funerária. É uma situação que precisa ser investigada”, concluiu.
Tanto funerária quanto a Prefeitura foram procuradas para se pronunciar sobre o tema, mas nenhuma deu respostas. Um representante da funerária afirmou que só haveriam declarações depois que fossem ouvidos pela polícia. A Prefeitura, por sua vez, afirmou que ainda está apurando as informações para divulgar uma nota sobre o tema. (Clein Ferreira – com informações de Ronaldo Modesto)