Acabou na polícia, anteontem, o começo da disputa entre o atual presidente, Carlos Xavier – no cargo há 30 anos -, e o opositor, Luciano Guedes, pelo comando da poderosa Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), que engloba os pecuaristas e empresários do agronegócio.
Era o último dia de inscrição de chapas para eleição do próximo dia 13 de março, mas o clima ferveu, os ânimos se exacerbaram e no meio do bate-boca, já à noite, circularam até mesmo notícias de suposto cárcere privado de advogados ligados à chapa “Nova Faepa”, de Luciano Guedes, o que é desmentido pela assessoria de Xavier.
O Ver-o-Fato, que ano passado mostrou com exclusividade as desavenças cada vez maiores entre Xavier e Guedes, ouvindo os dois lados, mais uma vez procurou saber o que houve dentro e fora do prédio da Faepa, ontem.
Leia mais:VERSÃO DE GUEDES
Em nota enviada ao Ver-o-Fato, a chapa “Nova Faepa” apresenta, na íntegra, sua versão dos acontecimentos: “Hoje, dia 03 de janeiro de 2019, às 16h40, em um dia histórico para o agronegócio paraense, protocolamos o registro da chapa “Nova FAEPA”, para disputar as eleições 2019/2023 da nova diretoria da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará, que há 30 anos é presidida pelo mesmo diretor.
Porém, o que seria um dia normal de registro de chapa em um país democrático, se tornou um lamentável episódio de agressão verbal, intimidação e total falta de transparência, fruto do regime ditatorial que se instalou na Federação da Agricultura do Pará.
Desde o início, o ato do registro foi marcado pela intimidação. Os advogados da chapa “Nova Faepa” foram acompanhados por seguranças da Federação, que tentaram intimidar e restringir os acessos às salas, documentos e ao local onde eram registrados os atos da comissão eleitoral.
Nossa equipe jurídica apresentou e protocolou toda a documentação exigida no edital. Porém, ao constatarem que a chapa de Carlos Xavier não havia juntado e nem apresentado todas as documentações exigidas, nossa equipe interpelou à comissão eleitoral reiterando que só deixaria o prédio da Federação tendo em mãos a ata lavrada pelo presidente, que constasse todos os documentos da chapa adversária – uma garantia prevista no estatuto da Faepa.
A partir daí, passaram a enfrentar todos os tipos de constrangimentos, desde xingamentos e tentativas de agressão por parte dos seguranças, expulsão da sala e, pasmem, foram trancados no oitavo andar do prédio da Faepa tendo as luzes apagadas!
Imediatamente, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB Pará, foram acionados e ao chegarem no prédio da Federação foram literalmente impedidos de entrar. A equipe só pôde sair do local com a presença da Polícia Militar e sem a documentação que garantiria a igualdade do pleito, já que as eleições acontecerão dia 13 de março de 2019.
Todo o ocorrido foi documentado em vídeo e divulgado pelas redes sociais.
Ao tomar conhecimento do episódio, Luciano Guedes, que preside a chapa Nova Faepa, se dirigiu à delegacia para registro de boletim de ocorrência e, em seguida, ao prédio da Faepa, onde foi impedido de entrar e também de ter acesso aos documentos, mesmo sendo atual vice-presidente da instituição.
Reiteramos que a ausência da apresentação de documentos pela chapa adversária é motivo imediato de impugnação, devido ser uma clara constatação de fraude e falta de lisura eleitoral. Apenas a chapa “NOVA FAEPA” foi inscrita.
Lamentamos profundamente o ocorrido. Um grave atentado, não somente contra a nossa chapa, mas também contra a democracia, contra homens e mulheres que trabalham e produzem de sol a sol para alimentar o Brasil.
Com coragem e determinação, nossa chapa legítima segue firme no propósito de mudança, provando que uma Nova Faepa é possível. Uma Faepa sem brigas, sem intimidações, transparente, moderna e defendendo os interesses dos produtores rurais do Pará.
Vamos juntos construir uma Nova Faepa, não mais como um “palácio da agricultura”, mas agora, como a legítima Casa do Produtor Rural”.
VERSÃO DE XAVIER
De acordo com a versão da assessoria do atual presidente, quem chamou a polícia foi o próprio Xavier, alegando que Guedes estava impedindo a entrada e saída de veículos no estacionamento da entidade localizada na Travessa Dr. Moraes, no bairro de Nazaré.
Guedes, narra a assessoria, atravessou o veículo dele no portão do estacionamento, enquanto integrantes de sua chapa, acompanhados de advogados, promoviam tumulto dentro do prédio, exigindo documentos de inscrição das chapas. Um cinegrafista da chapa adversária também posicionou-se no ambiente, fazendo imagens. Houve protesto, pois não havia permissão para imagens.
Foi explicado ao opositor e seus advogados que a comunicação da inscrição das chapas seria do conhecimento de todos por meio do Diário Oficial do Estado. Exaltados, eles queriam subverter a ordem das coisas, com o que os dirigentes da entidade não concordaram, originando discussões.
Sobre a denúncia de cárcere privado de advogados da chapa de Guedes, ainda de acordo com informações da assessoria de Xavier, ela é improcedente e não encontra amparo nos fatos. Os defensores de Guedes podiam entrar e sair do prédio, mas preferiram permanecer no local, afirmando que só sairiam depois que suas exigências fossem satisfeitas.
Um diretor da chapa de Xavier também nega que tenha barrado a entrada no prédio de uma comissão da Ordem dos Advogados do Brasil no Pará (OAB-PA), que teria sido chamada para verificar possível violência contra integrantes da Ordem no exercício de suas prerrogativas. Isso nunca existiu, disse ele.
Advogados de Luciano Guedes, argumentam que o estatuto da Faepa foi desrespeitado por Xavier. O estatuto, pelo que informaram, diz que após encerrar o prazo de inscrição das chapas, o presidente lavraria na mesma hora uma ata relatando todo o procedimento que ocorreu. Feito isso, a tal ata seria assinada por diretores que estiverem presentes e por pelo menos dois candidatos das chapas. Isso, porém, acusam os advogados, não ocorreu.
A chapa de Xavier rebate, dizendo que não havia nada que obrigasse a entrega de documentos que nada tinham a ver com a eleição. Sem a presença da chapa “Nova Faepa”, a ata foi lavrada “a portas fechadas” e entregue uma hora e meia depois, mas sem relatar fatos necessários que tornariam legítimo o documento. Xavier, a esta altura do campeonato, já havia ido embora.
A chapa opositora ameaça ingressar com ação judicial contra a atual diretoria comandada por Xavier, alegando que seu direito de acesso aos documentos de registro das duas chapas foi cerceado. Em resposta, membros da atual diretoria negam que tivessem lavrado ata às escondidas, acrescentando que Xavier sempre agiu com transparência e que “derrotará novamente seus caluniadores”. (Carlos Mendes)