Andar com uma caneca numa festa e tirante pendurado nos ombros faz de você uma pessoa singular: é membro de uma atlética. Mas, o que é isso? Bem, as atléticas universitárias viraram uma febre no Brasil inteiro e em Marabá o rumo é o mesmo.
Guardando alguma semelhança com as “fraternidades” norte-americanas, a intenção de uma atlética é promover uma maior integração entre os estudantes e, assim, tornar a experiência acadêmica ainda mais proveitosa, intensa e divertida, seja por meio de competições, jogos universitários, ações sociais ou festas. Algo que vá bem além da sala de aula, livros e provas.
A função de uma atlética é muito mais do que apenas promover festas, recepções de calouros e movimentar a vida social em ambientes acadêmicos. As associações universitárias promovem campeonatos esportivos, estão envolvidas com questões sociais dentro da comunidade e, principalmente, a integração entre os alunos.
Leia mais:Em Marabá, o “boom” dessas associações iniciou do ano passado para cá. O Portal mapeou mais de 20 atléticas, que nasceram de cursos de universidades públicas e instituições privadas, e cada vez movimentam a noite badalada da cidade.
O CORREIO recebeu os representantes de algumas Atléticas de Marabá para um bate-papo descontraído, com o objetivo de entender a formação e de fato como funciona a estrutura de uma Atlética. A Condutora, Caótica, Ceifadora, Minerva, Juriscopata, Vulcânica, Sedenta, Supressora e Estruturados estiveram nessa conversa e contaram ao Jornal um pouco de suas histórias.
Segundo Eliani Gama, tesoureira da Sedenta, atlética do curso de Engenharia da Universidade do Estado do Pará (UEPA), as associações funcionam como uma empresa e para fomentar o esporte, que é o principal objetivo da criação delas, existem cargos e funções bem definidas para cada integrante, o que ajuda a criar um espírito de equipe e responsabilidade. Segundo ela, é neste momento que se percebe a forte ligação que os estudantes criam com a faculdade. (Karine Sued)
Válvula de escape para a rotina pesada de estudos
É comum achar que alunos da área de Saúde têm sempre uma rotina de estudos tão intensa, que não sobra tempo para mais nada. E na maioria das vezes é isso mesmo, mas a estudante de Psicologia, Maria Emília Almeida, arranjou um espacinho na agenda e não apenas participa de uma atlética. Ela é diretora da Associação Atlética Acadêmica de Psicologia da Unifesspa (AAAPU) “Caótica”, a qual ingressou há pouco mais de três meses.
A diretora afirma que, em Marabá, as festas promovidas pelas Atléticas têm mudado (e muito) o cenário da noite badalada da cidade. Mas, para chegar até este patamar, é preciso muito trabalho e possuir uma equipe bem integrada. Assim surge a gestão de uma Atlética, uma formação básica, mas estruturada, pronta para dar conta de todas as ações e eventos.
Segundo Meury Vitória Souza, presidente da Atlética Juriscopata, do curso de Direito da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), quando uma nova associação quer se “lançar”, surge a ideia de promover uma festa. “Por isso que está acontecendo esse “boom”, porque tem muitas atléticas se lançando e fazendo festas para deixar sua marca registrada e mostrar que está ali”, analisa a estudante.
Veja quem está por trás de cada atlética
Conversando com os representantes das Atléticas, a Reportagem conseguiu entender como funciona a gestão dessas associações. As formações dos cargos seguem da seguinte forma, podendo ter outras nomenclaturas: Presidência, vice-presidência, tesouraria, secretaria, diretoria financeira, diretoria de marketing, diretoria de esportes, diretoria de patrimônio, diretoria de eventos e diretoria social. São formadas chapas escolhidas por votação pelos alunos do curso respectivo à associação.
Presidência
O presidente é quem centraliza a liderança da Atlética, coordenando todas as diretorias para que o trabalho seja feito em sinergia e com foco nos objetivos da associação.
É ele também quem dá feedbacks para melhorar o trabalho de todos, representa a Atlética para os alunos e na reunião das ligas universitárias, além de ser quem mais coloca a mão na massa, ajudando os membros da diretoria a executar suas tarefas.
Além de ter um perfil de liderança, a pessoa que ocupar o cargo de presidente precisa ser proativo, focado e dar o exemplo para o restante dos integrantes da diretoria, estando sempre disponível para ouvir feedbacks sobre o seu desempenho e ajudar no trabalho de todos.
Vice-presidência
O vice-presidente de uma Atlética não tem nada de decorativo: ele possui as mesmas responsabilidades que o presidente, sendo o braço direito deste quando se trata da gestão e da representatividade da associação.
Também representa a associação em eventos, participa de todas as reuniões e ajuda os outros membros da gestão, substituindo o presidente nos compromissos sempre que necessário.
Tesouraria
O dinheiro é basicamente o sangue de uma atlética. Sem ele é impossível rodar um amplo leque de atividades. Além de cuidar do planejamento anual ou semestral financeiro, todas as entradas e saídas são funções de recebimento e monitoramento da tesouraria. Não que, numa eventual festa, membros não possam ajudar na venda de ingressos, mas o controle e distribuição, levantamento e contabilidade, emissão de notas e poder de finança é dever do tesoureiro.
Secretaria
As Atléticas, embora sejam associações independentes de alunos sem fins financeiros, ainda funcionam como uma empresa e, por isso, têm uma quantidade enorme de papelada para resolver.
Contas, alvarás para festas, atas de reunião, contratos com fornecedores, parceiros e muito mais fica a cargo da secretaria, que coordena prazos e faz a gestão de todos esses papéis, para que nenhum documento seja perdido. O secretário precisa ser extremamente organizado e metódico, contar com uma mente analítica e ter foco para desempenhar suas funções.
Diretoria financeira
Sem dinheiro, uma Atlética não tem como desenvolver suas atividades. É preciso comprar equipamentos para os atletas, pagar fornecedores, comprar o material para as festas e muito mais.
E, na maioria das vezes, essas associações não recebem repasse financeiro de nenhuma instituição, contando com pouco dinheiro para realizar tudo o que precisa ser feito.
O diretor financeiro tem como missão fazer o orçamento render, coordenando todas as entradas e saídas financeiras da Atlética, sendo também sua responsabilidade: a elaboração de planejamentos financeiros; emissão de notas; pagamento de fornecedores; contabilidade; monitoramento da saúde financeira da Atlética.
O diretor financeiro, então, precisa ser alguém com mente analítica, muita organização e disciplina, além de ter ótimas habilidades de negociação.
Diretoria de Marketing
Não dá para pensar no funcionamento de uma Atlética hoje em dia sem pensar na diretoria de Marketing como parte importante de seu crescimento e sucesso.
É por meio da divulgação que uma associação consegue novos membros, aumenta o alcance de seu programa de sócios, esgota o ingresso das festas e promove suas ações sociais para a comunidade.
Coordenando todas essas ações está o diretor de Marketing, que precisa ser bastante comunicativo, proativo, entender de redes sociais e não medir esforços para divulgar os eventos feitos pela Atlética.
Diretoria de Esportes
Apesar dos esportes não serem a única atividade promovida pela Atlética, ainda são uma das partes mais importantes. É fundamental a manutenção dos times, assim como a promoção de treinos, jogos e campeonatos.
O Diretor de Esportes é quem coordena toda essa área, tendo como função: levantamento de equipamentos esportivos; seleção dos times; contratação de treinadores; busca de quadras e espaços de treinamento; repasse das necessidades dos atletas para o restante da gestão; acompanhamento e definição de metas para cada modalidade.
Para ser um diretor esportivo é necessário, obviamente, gostar de esportes, entender sobre o assunto e ter ótimas habilidades de comunicação.
Diretoria de Patrimônio
Por mais que, a princípio, o cargo de diretor de patrimônio poder parecer com o de diretor financeiro, o primeiro fica encarregado de cuidar dos bens que a Atlética possui, incluindo os produtos personalizados, como canecas, cachecóis e camisetas, assim como cuidar da venda e levantamento destes.
A pessoa ideal para esse cargo é alguém organizado, que entenda um pouco de vendas e almoxarifado, cuidando para que o patrimônio da Atlética não se perca nem estrague.
Diretoria de Eventos
Festas, jogos, palestras e outros eventos são parte importante do trabalho da Atlética, e tem a função de deixar a vida universitária mais rica, além de promover a integração dos alunos de diferentes cursos e níveis da graduação.
A diretoria de eventos organiza tudo isso, desempenhando funções como: Planejar festas e eventos, organizar a equipe que trabalhará nos eventos, levantar orçamento com fornecedores e parceiros para eventos, cuidar do andamento das festas, resolver problemas que podem surgir durante o evento para que a experiência do público seja a melhor possível.
O perfil desse diretor precisa ser de alguém influente, comunicativo, organizado, criativo, com habilidades de liderança e sem medo de colocar a mão na massa.
Diretoria Social
Quem pensa que a Atlética é só festa e esportes, está muito enganado! Muitas dessas associações promovem ações sociais, com o objetivo de causar impactos positivos na sociedade ao redor.
Dentre as ações desenvolvidas estão campanhas para a doação de sangue, arrecadação de recursos, como alimentos e roupas, para áreas atingidas por catástrofes e incentivo ao trabalho voluntário em instituições.
Por isso, é fundamental a atuação de um diretor social que coordene essas ações, entre em contato com ONGs e instituições, organize os voluntários que participarão dos projetos e trabalhe ativamente para que o legado da Atlética seja positivo por meio desses projetos.
O escolhido para esse cargo deve ter um alto nível de empatia, conhecimento das causas sociais, habilidades de liderança e ótimas capacidades de se comunicar.
Se você se identificou com algum dos cargos que falamos neste infográfico, fique atento aos processos seletivos de sua Atlética! Muitas procuram por trainees que possam entrar para as diretorias e serem treinados para, futuramente, assumir algum cargo na gestão.
Não é só festa e farra: Atléticas fazem ações sociais
Quem pensa que as Atléticas são só festas e farra, ainda não conheceu o trabalho importante e social que elas exercem em Marabá. Um exemplo é o projeto social que várias atléticas realizam no mês de julho. Os diretores da Sedenta aproveitam, por exemplo, a “associação solidária” de novos membros, onde foi cobrado apenas o valor da carteirinha de associado (e não a associação) mais a entrega de um kg de alimento não perecível.
Segundo Eliane, os alimentos foram doados para o projeto social “Corrente Solidária” e parte das cestas entregues no Dia dos Pais (11 de agosto) para famílias carentes.
De acordo com Ana Beatriz Mattos, diretora da Atlética Minerva, dos cursos de engenharia da Faculdade Pitágoras, as associações possuem seus momentos de festas, mas também de integração. E para mostrar a força dessas associações, vários projetos são realizados e outros já estão sendo organizados. “Queremos arrecadar brinquedos para levar ao orfanato no Natal. Faremos também uma campanha de doação de cabelo para o Hospital do Câncer”, afirmou a estudante.
Rodrigo Geyer, representante da Ceifadora, atlética do curso de Agronomia da Unifesspa, afirma que um projeto voltado para o “Lar São Vicente” já está sendo desenvolvido. “Vamos recolher materiais de higiene e alimentos para levar para essas pessoas”, contou.
E falando em ações, esse de fato é um trabalho que as atléticas gostam de desempenhar. Matheus de Almeida Castro é diretor de Patrocínio e Parceria da Estruturas, associação do curso de Engenharia Civil da Unifesspa. Com o objetivo de alimentar os bichinhos que vivem no Campus, a diretoria se reuniu e decidiu instalar comedouros improvisados, feitos de canos PVC. A ração é doada por alunos e professores da própria instituição e pode ser colocada diretamente no recipiente ou encaminhada para os integrantes das atléticas.
Reportagem avalia festa regada a “dopamina”, mas que estava superlotada
O CORREIO esteve presente na “Halterada”, festa promovida pela atlética Halteres, do curso de Educação Física da Universidade Paulista (UNIP), que ocorreu no dia 17 de agosto (sábado) no Império Eventos. As atrações eram os DJs Solrac, Caique Luy, Lowdr e o cantor Gabriel Ferreira e contava com apoio de outras 13 atléticas.
A experiência da equipe de Reportagem na festa iniciou às 23h30, quando chegamos ao local do evento e já nos deparamos com uma pequena fila de três pessoas – não era possível afirmar quem estava nela. Pouco mais de 15 minutos na fila fomos informados que o motivo da demora era a falta de pulseiras para entrar na festa. Nisso, a fila já havia quadriplicado de tamanho.
Finalmente, após as pulseiras chegarem, realizamos o pagamento por meio de cartão e adentramos na festa. O ambiente estava bem lotado, os 1.000 litros da bebida da atlética, a Dopamina, que deveria estar sendo servida à vontade, já havia acabado e a atração que se apresentava era o cantor Gabriel Ferreira. Assim que entramos, procuramos pelos membros da diretoria da Atlética Halteres para uma entrevista, localizamos a presidente Helena Caroline, que se recusou a falar com o CORREIO, sem esclarecer motivos.
A lotação do espaço principal estava descomunal, esbarramos em muitas pessoas até, finalmente, chegarmos ao outro lado, que estava mais livre e arejado. Próximo, conversamos com a acadêmica do curso de engenharia civil da Unifesspa, Ana Clara Maia, de 20 anos, que conta os motivos de frequentar festas de atléticas. “Acredito que assim como eu, outros universitários também têm preferência por festas de atléticas, primeiro por conta do custo financeiro que é bem mais acessível que outras da cidade. Segundo, porque aqui encontramos nossos amigos e nos socializamos mais”, avalia Ana Clara.
Em uma pesquisa rápida pelo Instagram de cinco atléticas, percebemos que a faixa de preço de um ingresso para uma festa gira em torno de R$ 10,00 a R$ 30,00. Em comparação com outros eventos da cidade, que são em sua grande maioria shows com atrações nacionais, o custo muda drasticamente com valores que chegam até a R$120,00 o ingresso individual.
Ana Clara destaca um problema que ela observa em festas de atléticas e causa certo incômodo aos universitários: a presença do público que não é universitário. “Sempre aparece uma galera estranha e bem mais velha. Eu me sinto incomodada, pois são pessoas que eu não conheço e, além disso, não são universitários. Alguns deles vêm mal intencionados e acabam estragando o ‘clima’ da festa”, relata a estudante.
Observando a movimentação, o CORREIO notou na “Halterada” um público que não fazia o perfil dos estudantes, sendo pessoas com traços nitidamente mais maduros, sem os acessórios universitários (canecas, por exemplo) e até mesmo grisalhos.
Próximo de onde estávamos, encontramos o estudante de engenharia de minas e meio ambiente da Unifesspa, Caio Miguel Xavier, de 26 anos, que é presidente da atlética do seu curso, a Garimpeira. Ele diz achar o movimento sensacional. “Quando começamos (a atlética Garimpeira) não era tão expansivo e representativo como é agora, então, é muito ‘massa’ ver a galera com as canecas de diferentes lugares. Eu fico muito admirado por ver a proporção que (as atléticas) tomam aqui na cidade”, se entusiasma o estudante, cuja atlética já possui 18 pessoas em sua gestão.
Por volta de 1h30 da manhã, o cantor Gabriel Ferreira havia encerrado sua apresentação e concedeu entrevista. Para a reportagem, ele revelou ser estudante de Física na Unifesspa. “Praticamente hoje em dia as festas de atléticas funcionam como uma vitrine para mim. Até porque, estou envolvido no meio universitário por ser um deles e acredito que a faixa etária influencie bastante” conta Ferreira.
Quando perguntado se é muito requisitado para as festas universitárias e se isso o fazia um “queridinho” das atléticas, Gabriel respondeu entre risos: “Eu sou bem modesto, mas, sim, sou um queridinho”.
Às 2h da manhã, após sua experiência na festa, a equipe do CORREIO se preparou para deixar o Império Eventos. Na saída, cruzamos com Helena Caroline e novamente tentamos insistir para que ela concedesse entrevista, porém, mais uma vez, ela negou-se. Estranhamente. (Zeus Bandeira)
Atlética | Instituição | Curso |
Águias | Uepa | Medicina |
Alquimista | Unifesspa | Int. de Ciências Exatas |
Caótica | Unifesspa | Psicologia |
Carnívora | Unifesspa | Ciências Biológicas |
Ceifadora | Unifesspa | Agronomia |
Cilindrada | Unifesspa | Eng. Mecânica |
Condutora | Unifesspa | Eng. Elétrica |
Diferencial | Unifesspa | Matemática |
Estruturados | Unifesspa | Eng. Civil |
Exploradora | Unifesspa | Geografia |
Forja | Unifesspa | Eng. Materiais |
Garimpeira | Unifesspa | Eng. de Minas |
Halteres | Unip | Educação Física |
Juriscopata | Unifesspa | Direito |
Marteleira | Carajás | Direito |
Minerva | Pitágoras | Int. das Engenharias |
Nativa | Pitágoras | Int. de Saúde |
Reativa | Unifesspa | Eng. Quimica |
Sedenta | Uepa | Int. das Engenharias |
Sistemáticos | Unifesspa | Sistemas de Informação |
Supressora | Uepa | Biomedicina |
Taurina | Pitágoras | Medicina Veterinária |
Vulcânica | Unifesspa | Geologia |
(Karine Sued e Zeus Bandeira)