Correio de Carajás

Expedição busca corpo no Vale do Itacaiúnas

Uma operação bastante complexa que envolve vários atores e diversas expertises começou a ser montada ontem, segunda-feira (16), em uma singela residência no Vale Itacaiúnas, na área do Belo Horizonte, Cidade Nova, em busca de restos mortais que seriam de um guerrilheiro, enterrado ali de forma clandestina por militares que agiram no enfrentamento da Guerrilha do Araguaia. As escavações começam nesta terça-feira (17).

Integram a equipe cerca de 20 profissionais, entre peritos, geofísicos, familiares de desaparecidos, membros da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, Ministério dos Direitos Humanos, do próprio Exército Brasileiro, Instituto Médico Legal (IML) e ainda pesquisadores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa).

As informações foram repassadas por Amarilis Busch Tavares, membro do Ministério dos Direitos Humanos. Segundo ela, as atividades que se iniciam hoje fazem parte da primeira expedição do ano na região do Araguaia com essa finalidade. Haverá ainda diligências em outros pontos onde podem estar mais corpos de guerrilheiros.

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Amarilis Tavares: “É uma obrigação do Estado brasileiro”

Durante esta semana a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, com apoio do Ministério dos Direitos Humanos, pretende fazer a extração do remanescente ósseo localizado naquela casa residência. Após a remoção dos restos mortais (caso seja confirmada), a próxima etapa será analisar se o material guarda alguma relação com a Guerrilha do Araguaia.

Ainda de acordo com Amarilis Tavares, nesta segunda-feira foi realizada a preparação para a escavação. “Este é um trabalho de tentativa de localização e identificação dos guerrilheiros, pessoas que lutaram contra a ditadura no Brasil; e compreende também uma resposta do Estado para essas famílias (dos desaparecidos) que procuram há anos seus entes queridos”, relata.

Perguntada qual a razão para essa busca depois de tantas décadas da Guerrilha, ela foi enfática: “Isso tudo se constitui num processo de reconstrução da verde histórica, de esclarecimento dos fatos que ocorreram durante o período ditatorial no Brasil e essa é uma obrigação do Estado brasileiro”.

Ainda de acordo com Amarilis Tavares, as buscas pelos restos mortais dos guerrilheiros desaparecidos é também uma contribuição para ajudar a construir uma sociedade que aprenda com os erros do passado para que violações dos direitos humanos – como as que teriam ocorrido na Guerrilha do Araguaia – não mais aconteçam. (Chagas Filho com informações de Evangelista Rocha)

 

Saiba mais

A Guerrilha do Araguaia foi uma tentativa de ação revolucionária comunista no Brasil que transcorreu entre 1967 e 1974, na região conhecida como “Bico do Papagaio”, situada na fronteira entre os estados do Pará, Maranhão e Tocantins (então Goiás). A guerrilha tinha o objetivo de enfrentar a ditadura militar instaurada em 1964 com o golpe de 31 de março. Segundo o site desaparecidospoliticos.org.br, cerca de metade dos desaparecidos políticos de que se tem denúncia foram sequestrados e mortos no sul do Pará durante a guerrilha do Araguaia.

 

 

Fotos: Evangelista Rocha