Correio de Carajás

Expedição avança na criação da UC do Paleocanal do Rio Tocantins

Área de confluência dos rios Tocantins e Araguaia abriga biodiversidade única, mas sofre pressão do desmatamento, mineração e garimpos ilegais

A equipe de expedicionários é composta por representantes do ICMBio, SEMMA, MPPA, Unifesspa e FCCM/Fotos: Pablo Santos

Há um ano o Correio de Carajás acompanha o desenvolvimento de um dos mais antigos sonhos da comunidade científica, ambientalistas e ribeirinhos de Marabá: a criação da Unidade de Conservação (UC) do Paleocanal do Rio Tocantins. Na semana em que é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), essa ambição caminhou alguns passos.

Na terça-feira (3), uma expedição composta por técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Marabá (SEMMA), do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA), além de pesquisadores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e representantes da Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM), percorreu os rios e lagos do Paleocanal do Rio Tocantins, no sudeste paraense.

Desta vez, o objetivo era fazer o reconhecimento técnico da área que poderá se tornar a nova UC. A proposta que tramita há décadas, mas ganhou força recentemente, principalmente diante da escalada de ameaças como desmatamento, garimpo ilegal, pesca predatória e mineração.

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O objetivo da expedição era fazer o reconhecimento técnico da área que poderá se tornar a UC Paleocanal do Rio Tocantins

Durante a expedição, a equipe percorreu os rios Tocantins e Cametaú Grande, visitou projetos de preservação como o Quelônios, na Praia do Meio, e sobrevoou, com drones, os lagos que marcam a paisagem do Paleocanal. A programação também incluiu visitas a experiências de produção sustentável, como o Sistema Agroflorestal (SAF) mantido por produtores locais, e pontos de potencial turístico, como o Lago do Carrapato.

A partir daí, será possível elaborar o relatório técnico da expedição, documento que será uma das bases para subsidiar o processo de criação da UC. A expectativa é que, após as etapas de consulta pública e tramitação legal, a unidade seja oficialmente instituída, garantindo a proteção de um dos patrimônios naturais mais emblemáticos da região.

PAISAGEM AMEAÇADA

Localizada às margens do rio Tocantins, a região do Paleocanal é um mosaico de lagos, florestas, campinas e terras de várzea. Essa diversidade ambiental abriga espécies endêmicas, sítios arqueológicos e populações tradicionais que dependem dos recursos naturais para sobreviver. Nesse contexto, a criação dessa unidade de conservação é fundamental para garantir a proteção não só da biodiversidade, mas também da memória geológica e histórica desse território.

O reconhecimento do Paleocanal data dos anos 1970, quando os primeiros estudos do projeto Radar na Amazônia (RADAM), identificaram na região uma formação geológica singular, resultado de antigos leitos dos rios Tocantins e Araguaia. A proposta de criar uma UC chegou a ser formalizada ainda na década de 1980, mas nunca saiu do papel.

De acordo com estudos do Ministério do Meio Ambiente, a região está classificada como de “importância biológica extremamente alta” e integra as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade no Brasil. Apesar disso, sofre com a expansão da pecuária, extração ilegal de madeira, avanço do garimpo e degradação dos corpos d’água.

Localizada às margens do rio Tocantins, a região do Paleocanal é um mosaico de lagos, florestas, campinas e terras de várzea

Sobre isso, é importante alertar que, se não houver uma ação efetiva agora, essa riqueza natural corre risco de desaparecer. A proteção dessa área é uma demanda antiga e urgente da sociedade local.

Além de garantir a proteção de espécies e ecossistemas, a criação da UC do Paleocanal do Rio Tocantins tem um papel estratégico na formação de corredores ecológicos, conectando fragmentos de florestas e unidades de conservação existentes, como a APA Lago de Tucuruí, o Parque Estadual Serra dos Martírios/Andorinhas e a RESEX Extremo Norte do Tocantins.

A proposta também prevê fortalecer a proteção de Terras Indígenas da região, como a TI Sororó, do povo Suruí Aikewára, e a TI Mãe Maria, constantemente ameaçadas por atividades ilegais.

EQUIPE TÉCNICA

Núcleo de Gestão Integrada – (NGI) ICMBio Carajás: André Luís Macedo Vieira, chefe do NGI-ICMBio; Manoel Delvo Santos, Raimundo Façanha Guedes, Roberta Franco Pereira de Queiroz, Wendelo Silva Costa, Victor Gomes de Almeida, Luís Filipe Antunes de Lima, João Vytor Lira Vieira, José Carlos, Adrielle Batista Pantoja, Roberto dos Santos Teixeira.

Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Marabá (SEMMA): Benedito Evandro Barros da Silva, Secretário de Meio Ambiente; Pablo José Leite dos Santos, Roberto Araújo Ribeiro.

Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA): Prof. Bernardo Tomchynsky, Profa. Cristiane Vieira.

Ministério Público do Estado do Pará (MPPA): Josélia Leontina de Barros Lopes, promotora de Justiça Ambiental; Alexssandra Muniz Mardegan, promotora de Justiça Agrária; Gilmar Lima Costa, assessor MPPA.

Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM): Mirtes Emília Almeida Manaças, etnóloga Convidada. (Luciana Araújo)