Correio de Carajás

Exclusiva: Filhos de Acácia relatam bastidores da tragédia

Milton e Maria de Lana estavam vivendo na mesma, mas já separados / Foto: Divulgação

A tragédia que se registrou em Marabá no final de semana, quando o professor de academia Milton Cavalcante Martins, o “Miltão”, matou a esposa dele, Maria de Lana Acácia, e logo depois cometeu suicídio, foi cercada de acontecimentos trágicos. Para se ter uma ideia do tamanho dessa tragédia, logo após tirar a vida de Acácia, “Miltão” telefonou para um dos filhos dela, contou que tinha matado a mãe dele e disse que estava “indo para o inferno”. A revelação foi feita exatamente pelos filhos da vítima, Diego e Daniele de Lana Acácio, que são filhos apenas de Acácia, fruto de um relacionamento anterior.

Eles vieram das cidades onde moram para pegar laudos e outros documentos a respeito da morte da mãe deles. Na delegacia os dois conversaram com a reportagem do CORREIO, com exclusividade.

Daniele, que é odontóloga em Araguaína (TO), relata que no dia do crime (sábado, dia 7), Maria de Lana lhe enviou um áudio de WhatsApp, desejando bom dia. Daniele respondeu às 9h20, mas sua mãe não visualizou mais a mensagem. Ela já estava morta.

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A filha revelou para a reportagem que Maria e Milton estavam vivendo sob o mesmo teto, mas já estavam dormindo em quartos separados. O que intriga Daniele é que Maria de Lana dizia que, apesar da separação, a situação estava tranquila porque Milton se mostrava muito compreensivo.

Mas tudo indica que ela não queria deixar os filhos preocupados, pois depois que a tragédia aconteceu Daniele ficou sabendo que sua mãe tinha revelado a amigos e irmãos de igreja que estava com medo de Milton. “Eu acho que ela estava vivendo em uma espécie de cárcere”, analisa.

Daniele disse que Milton era um homem rude e que nunca o viu tratando bem sua mãe, sendo gentil com ela, por isso ela sentia que havia algo errado naquela relação, que durou mais de duas décadas. “Eu já tinha isso na minha cabeça”, relata Daniele.

Os irmãos Diego e Daniele perderam a mãe de forma trágica, mas ainda têm um ao outro / Foto: Divulgação

CONVERSAS POR TELEFONE

Por sua vez, o outro filho da vítima, o engenheiro Diego, que mora em Santarém, conta que Milton havia telefonado para ele no domingo retrasado (dia 1º), explicando que tinha se separado da mãe dele, mas que Diego não deveria se preocupar, pois estava tudo bem. O jovem disse não ter se convencido e avisou que viria a Marabá, mas não deu tempo.

No dia do crime, Diego diz que recebeu telefonema de Milton, que lhe disse que tinha acabado de matar Acácia e estava “indo para o inferno”. Em seguida desligou o telefone e foi a última vez que se falaram. Diego se desesperou, manteve contatos com conhecidos em Marabá e pouco tempo depois toda a tragédia foi descoberta.

Diego conta que havia pessoas trabalhando na casa e quando perceberam o que tinha acontecido, já se depararam com Milton dizendo que ia se matar. Eles tentaram impedir que Milton se matasse, mas ele pegou uma faca e se afastou, exigindo que ninguém o impedisse, e em seguida pulou o muro.

Mas Diego tem uma teoria diferente para a morte de Milton. Ele acredita que o assassino não pretendia se matar, queria mesmo era fugir. Porém, quando ele pulou o muro do quintal do vizinho, caiu de uma altura de 3 metros, porque existe um desnível no terreno do lado, de modo que ficou sem ter como pular de volta e fugir. Ciente de que, àquela altura, a polícia já tinha sido acionada e que não teria como fugir, resolveu tirar a própria vida.

Tanto Diego quanto Daniele se mostraram bastante serenos, mesmo diante da tragédia inexorável. Os dois disseram que têm muito orgulho da mãe, porque ela sempre foi amorosa com eles e fez de tudo para que os dois se tornassem pessoas de bem.

O que mais os conforta também é o fato de saber que sua mãe sempre orava por eles na igreja em que frequentava. Diego encontrou até um pedaço de papel com uma pequena oração, dizendo “Quero de joelhos ver meus filhos de pé. Deus me sustenta e aumenta minha fé. Deus, mantenha meus filhos de pé. Deus pode tudo, tudo, tudo”.

(Chagas Filho e Josseli Carvalho)