Correio de Carajás

Ex-cunhadas são únicas candidatas para Prefeitura de São João

A única afirmação que se pode fazer sobre a eleição em São João do Araguaia é que a próxima gestão do município será comandada por uma mulher. Distante cerca de 50 km de Marabá, São João tem 10.994 eleitores aptos a votar em 15 de novembro próximo, sendo que a maior parte mora na zona rural ou em vilas às margens da BR-230.

E as mulheres são Marcellane Cristina Sobral Martins e Neusa Corrêa Martins (Neusinha). Há duas questões importantes a destacar sobre elas: são bonitas (na visão do repórter) e carregam o mesmo sobrenome: Martins. Mas quem pensa que se trata de uma jogada de família para garantir o cargo, está enganado.

O sobrenome Martins nas duas se explica porque Marcellane já foi casada com Tiago Martins, irmão de Neusinha, com quem tem uma filha, de oito anos de idade. Mas o relacionamento de ambos chegou ao fim há poucos anos e, daí para frente, ela seguiu carreira solo, tendo no currículo uma candidatura à prefeita.

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Marcellane é servidora pública municipal de carreira na área administrativa da educação na Prefeitura de São João do Araguaia há 11 anos. Seu tio, Luiz Carlos Lopes, fora prefeito daquele município e sua mãe, Tereza Cristina, foi candidata duas vezes ao mesmo cargo.

Na eleição de 2016, ela mesma, Marcellane, chegou a disputar o cargo de prefeita com outros quatro candidatos, mas acabou ficando em segundo lugar.

O grande desafio de qualquer uma delas que ganhar a eleição será fazer muito com pouco. Sim, porque São João do Araguaia tem orçamento minguado: apenas R$ 4,1 milhões por mês. É pouco, se comparado com o que recebe Marabá, com mais de R$ 95 milhões a cada 30 dias.

Além das carências da sede municipal, as comunidades de Apinagés, José Martins Ferreira, Vila do Carmo, Ponta de Pedra do Araguaia, Vila Diamante e Consulta também têm necessidades prementes e esperam muito da nova gestora, seja ela qual for.

Marcellane, procurada pela Reportagem do CORREIO, disse estar tranquila em relação à campanha porque começou a percorrer todas as comunidades logo depois da eleição de 2016 e que agora estaria com uma base bem solidificada.

Ao ser questionada sobre a relação com a ex-cunhada e concorrente, ela se limitou a dizer que “está tranquila da minha parte, mas da dela…”, sem afirmar exatamente o que estaria ocorrendo.

Marcellane explica que a campanha em São João precisa ser feita no corpo a corpo, mesmo neste período de dificuldades, avaliando que cerca de 30% a 40% dos moradores da comunidade têm acesso à Internet, o que é muito pouco para acomodar-se com as redes sociais neste período de pandemia. “Só há sinal de celular em Apinajés, Cajazeira, sede do município e na Vila José Martins. As demais estão isoladas”, lamenta.

A Reportagem do CORREIO não conseguiu falar com Neusinha. Enviamos mensagem ao celular do seu pai, pedimos o número dela, mas não houve retorno. Todavia, assistindo a vídeos da campanha dela no Facebook, percebemos que a candidata tem discurso mais bem articulado que sua mãe, Marlene Martins, quando foi gestora da mesma cidade. “Eu fico triste, que ontem meus adversários lembraram de mim, mas eu não tenho de lembrar de ninguém. Só peço a Deus que os abençoe, para que possamos fazer uma disputa saudável, porque São João não está precisando de perseguição”, disse ela em 13 de setembro último, durante reunião de seu partido.

Neusinha, do MDB, foi secretária de Saúde e também de administração na gestão de sua mãe, Marlene. Além da boa argumentação, tem no histórico o DNA dos pais para tentar ser eleita prefeita do município, que tem potencial turístico, mas ainda é pouco explorado. Seu vice, Jorge Francisco Mansour, é médico e já atuou no município.

Por outro lado, Marcellane, do PDT, apostou como vice um professor: Antônio Bezerra do Nascimento, que atua na rede municipal de educação de São João.

Para a Câmara Municipal, 88 candidatos disputam as 9 vagas existentes. A cada quatro anos, a esperança se renova naquela pequena cidade, que tem mais de 100 anos de existência, mas cuja sede parou no tempo e as vilas se viram como podem. (Ulisses Pompeu)