Correio de Carajás

Evandro Chagas: Larvas de mexilhões invasores se espalham por Marabá e região

Técnicos do IEC percorreram vários rios da região a pedido do Ministério Público Estadual/Fotos: Divulgação IEC

Rio Itacaiunas, Lago Vermelho, Lago de Tucuruí e Pedral do Lourenção. Em todos esses pontos da região, os pesquisadores do Instituto Evandro Chagas, de Belém, encontraram larvas do famigerado mexilhão dourado, um molusco invasor que veio da Ásia e pode causar sérios danos ambientais, como prejuízos à pesca, destruição da vegetação aquática, alteração da cadeia alimentar e prejuízos às usinas hidrelétricas.

A preocupação e alerta foram repassados ao Ministério Público Estadual esta semana por uma equipe do Evandro Chagas que veio de Belém para a segunda expedição e coleta de água dos rios e lagos da região para análise em laboratório. As promotoras Josélia Leontina de Barros (Meio Ambiente) e Alexssandra Mardegan (Agrária) foi as responsáveis por acionar o IEC no segundo semestre do ano passado quando tiveram notícia, via Correio de Carajás, do avanço dos mexilhões no Pedral do Lourenço e na represa de Tucuruí.

A equipe do Instituto que veio à região esta semana é composta pela bióloga Eliane Brabo; o químico Kelson do Carmo Freitas Faial, vice-chefe da Seção de Meio Ambiente e responsável pelo Laboratório de Geoquímica e Saúde do IEC; e Adaelson Medeiros, engenheiro sanitarista e pesquisador do Instituto Evandro Chagas, responsável pelo Laboratório de Físico-química da água.

Leia mais:
Promotoras Alexssandra, Josélia e técnicos do Evandro Chagas discutem próximos passos da investigação

Em outro do ano passado, durante a “Operação água limpa”, realizada a pedido do Ministério Público do Estado do Pará, uma equipe do Instituto Evandro Chagas esteve em Marabá, Itupiranga e Tucuruí para coletar amostras da água dos rios Itacaiunas e Tocantins e verificar o aparecimento de mexilhões dourados na região do Pedral do Lourenção.

Durante o período de seca do rio, os pesquisadores, em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) realizaram amostragens em três pontos do pedral e constataram a colonização recente da espécie. “Os indivíduos encontrados eram pequenos, indicando o início da fase reprodutiva desses invasores. A confirmação da presença deles nos levou a questionar o possível impacto na qualidade da água e, se as condições ambientes influenciavam a permanência na região”, explica a bióloga Eliane Brabo.

Dando continuidade à pesquisa, justamente para entender a dinâmica da população do mexilhão na região, os pesquisadores realizaram uma nova expedição esta semana, agora no período chuvoso.

Porém, os mexilhões não foram encontrados nos mesmos locais, haja vista que o nível do rio está alto. Uma vistoria detalhada e conversas com pescadores locais confirmaram a “invisibilidade momentânea” da espécie.

“Na cheia, não conseguimos visualizar os mexilhões. As pedras onde eles estavam colonizando anteriormente estavam agora cobertas por macroalgas, que são pequenas plantas. Essa observação levanta a hipótese de que as macroalgas podem ter sucedido a colonização do mexilhão, competindo pelo substrato de fixação. Então, a gente precisa vir aqui outras vezes para saber como se dá essa passagem das algas serem substituídas por mexilhões, e mexilhões serem substituídos por algas. E, claro, dar continuidade na avaliação da qualidade da água”.

Durante essa amostragem, os pesquisadores notaram a mudança drástica da redução da transparência da água. Segundo Eliane Brabo, em outubro, a visibilidade atingia dois metros de profundidade, enquanto na coleta atual foi de apenas sessenta centímetros.

Para ela, essa alteração pode levantar questionamentos sobre a influência na reprodução e sobrevivência dos mexilhões. Durante a tentativa de coletar os moluscos, a equipe contou com o apoio de um mergulhador da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMA) para tentar encontrar o invasor asiático.

A pesquisa também investigou o impacto da presença inicial do mexilhão dourado na comunidade de bioindicadores, que são microrganismos essenciais para a cadeia alimentar aquática. “A primeira coleta indicou uma baixa quantidade desses organismos em uma água que, pela sua transparência anterior, era esperada ser produtiva. A hipótese é que o mexilhão, ao se alimentar por filtração, possa ter consumido esses bioindicadores, alterando a qualidade da água e potencialmente afetando a diversidade do ambiente, com consequências para os estoques pesqueiros”, analisa hipoteticamente, ressaltando que é preciso uma coleta, no mínimo trimestral, para avaliar todos esses parâmetros.

Para dar continuidade à investigação e entender a dinâmica entre o mexilhão dourado, a qualidade da água e a colonização de algas, novas expedições serão necessárias nos próximos meses. Eliane Brabo explica que o ideal seria realizar coletas mensais, mas o protocolo atual prevê um estudo trimestral para abranger diferentes períodos climáticos.

Técnicos coletaram água dos rios para segunda análise em laboratórios do Evandro Chagas

O estudo no Pedral do Lourenção é crucial para compreender o comportamento do mexilhão dourado em ambientes amazônicos e seus potenciais impactos ecológicos e econômicos. Além da capacidade de adaptação e a velocidade de dispersão dessa espécie invasora.

Depois de realizar coleta de água em Marabá e Itupiranga, a equipe do Instituto Evandro Chagas encerrou a viagem à região sudeste nesta sexta-feira, com visita a Tucuruí.

As promotoras Alexssandra Mardegan e Josélia Barros estão preocupadas com o avanço do mexilhão dourado e tentam apoio financeiro para que a equipe de pesquisa realize o monitoramento permanente nesta região até que a situação esteja sob controle. (Ulisses Pompeu e Ana Mangas)