Correio de Carajás

“Eu vou descobrir quem são os policiais”, garante viúva que defende inocência de morto

Eu vou descobrir quem são os policiais, garante viúva que defende inocência de morto

Forjaram, colocaram aquele 38 (arma), aqui não tem, vou provar tudinho, que ele era uma pessoa boa, tinha um coração enorme, tanto que as pessoas nem acreditam que ele morreu.  Eu vou descobrir quem são os policiais porque não tem os nomes dos policiais, não tem nome de ninguém, só falaram que mataram ele, que foi uma ação e que ele estava armado.

O desabafo é de Osmarina Silva Félix, companheira de Jorge Costa Brandão, 41 anos, morto em decorrência de ação da Polícia Militar na madrugada de terça-feira (19). Ela concedeu entrevista à TV Correio Parauapebas, durante a qual defende a honra do marido morto, que não possuía passagens criminais registradas.

Conforme a versão apresentada pelos policiais que atuaram na ação, a guarnição realizava policiamento ostensivo no Bairro Jardim Canadá quando avistou dois homens em uma motocicleta Honda Biz, de cor rosa, em atitude suspeita, próximo à Policlínica.

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Os militares afirmam que ao se aproximarem dos indivíduos para proceder com a abordagem, a pessoa que estava na garupa da moto sacou uma arma de fogo em direção aos policiais, tendo estes revidado com disparos de arma com intuito de neutralizar a ação. Ao longo do dia foi identificado o corpo da pessoa alvejada como sendo de Jorge Brandão.

Jorge Brandão morreu na madrugada de terça

Funcionário há 16 anos da mineradora Vale e proprietário de um lava jato, Jorge lutava há anos contra a dependência química, mas segundo a mulher nunca se envolveu com práticas criminosas em decorrência do vício. “Ele passou muito tempo afastado, 12 anos afastado da Vale, quando chegou (em Parauapebas) ele se entregou às drogas, conheceu essa maldição que são as drogas e se entregou. Quando acabava e não tinha ele empenhorava as coisas dele, nunca ficou devendo ‘boqueiro’, nunca pegou dinheiro, pegava dinheiro com amigos ou irmão, mas andar armado Ele nem saber atirar sabia e tinha pavor de arma, afirma a viúva.

Ela conta que a história relatada pela Polícia Militar é mal contada Ele não estava com ninguém, isso é uma grande mentira, porque quem conhece ele sou eu. Tenho 23 anos de casada com ele e ele me contava tudo, tudo, tudo, era um companheiro. Andar com alguém ele não andava na minha moto, dentro da minha moto tem a minha habilitação, tem o cartão alimentação e eles deram fim, tiraram, minha moto tá lá na delegacia, do mesmo jeito que saiu daqui”, declarou.

Ela quer que o caso seja investigado a fundo. Eu quero justiça, eu vou entrar com ação contra estado, eu vou arrumar bom advogado (…) Quero nomes dos policiais! Não vou matar ninguém, porque não tenho esse poder e nem quero, só quero olhar nos olhos dos que fizeram isso com ele. E vou perdoar porque sou humana e o Deus que sigo é vivo, finaliza.

Um dos irmãos de Jorge Brandão, que preferiu manter a identificação sob sigilo, compartilhou áudio também comentando o caso.  Ele não mexia com nada de ninguém, onde já se viu um meliante ter 16 anos de trabalho na Vale Tem casa própria, transporte pra andar na hora que quiser, tudo quitadinho, ele era um guerreiro, na casa dele nunca faltou nada, eu acho isso totalmente errado, eu queria justiça”, defende.

Na manhã desta quarta (20) a equipe do Correio de Carajás procurou o 23º Batalhão da Polícia Militar, mas o comandante, Major Gledson, não estava no momento. O subcomandante, Major Emmett, atendeu à equipe e informou que será instaurado inquérito junto à Corregedoria da Polícia Militar para investigação da ação policial.

O diretor da 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil, delegado Gabriel Henrique Alves Costa, também foi procurado para comentar o caso, mas afirmou por telefone apenas que “todo caso com intervenção policial é investigado e esse caso também será”. A Reportagem esteve na casa de Jorge e encontrou os irmãos dele, que preferiram não comentar o assunto.

A Reportagem pesquisou o histórico processual do homem junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Pará, onde constatou que ele respondia apenas a um procedimento por crime de trânsito. Já na página do Facebook de Jorge Brandão, com 1.387 amigos, alguns também teceram comentários questionando a morte.

No dia do ocorrido, a Polícia Militar informou à Polícia Civil que prestou imediato socorro ao indivíduo e o encaminhou ao Hospital Geral de Parauapebas, onde ele não resistiu aos ferimentos e morreu. A guarnição a que afirma ter apreendido com Jorge, um revólver calibre 38, com numeração raspada, e quatro munições, sendo que duas estavam intactas e duas haviam sido disparadas. (Luciana Marschall, Ronaldo Modesto e Theíza Cristhine)