Correio de Carajás

Estudantes do IFPA de Marabá se destacam nas áreas de ciência e tecnologia

Reportagem do Correio de Carajás visitou o IFPA e conheceu detalhes da instituição que forma jovens através do ensino técnico há quase três décadas

Atualmente, o IFPA oferece cinco cursos técnicos integrados ao Ensino Médio, beneficiando jovens de Marabá e região/ Fotos: Evangelista Rocha

A pesquisa “Potenciais efeitos macroeconômicos com a expansão da oferta pública de ensino médio técnico no Brasil”, realizada pelo Itaú Educação e Trabalho e divulgada em 2023, projeta que uma das saídas para o desenvolvimento do Brasil é o crescimento da educação técnica.

Conforme o levantamento, se o País aumentasse a oferta desta modalidade de ensino, o PIB (Produto Interno Bruto) subiria 2%, e também haveria redução da desigualdade social.

Em Marabá, o Instituto Federal do Pará (IFPA), Campus Marabá Industrial, há 28 anos fornece ensino técnico para jovens do município. E são os estudantes da instituição, quem melhor reflete o trabalho realizado por lá. Um lugar que se tornou berço de criatividade e inovação nas áreas de ciências e tecnologia, através de mãos jovens e mentes curiosas.

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Meninas no topo

Estima-se que apenas uma mulher para cada quatro homens consiga um emprego na área de STEM (sigla em inglês que significa Science, Technology, Engineering and Mathematics, ou Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português).

Os dados são do relatório “Uma equação desequilibrada: participação crescente de Mulheres em STEM na ALC (América Latina e Caribe)”, de 2021, que faz uma extensa análise sobre a desigualdade nessas áreas.

Nesse sentido, as estudantes do IFPA têm se destacado gradualmente em suas áreas de atuação. É o caso de Maria dos Santos Carvalho de Sousa, 19 anos, e Fernanda Jansen Teixeira, 18 anos, alunas do curso de técnico em eletromecânica integrado ao Ensino Médio.

Maria (dir.) e Fernanda mostram a armadilha criada para capturar mosquitos

Em uma visita do Correio de Carajás ao instituto, localizado na Folha 22, Nova Marabá, a reportagem conheceu um dos projetos desenvolvidos pela dupla. Uma curiosa – e engenhosa – armadilha para pegar mosquitos.

Construída com material reciclado, a arapuca é formada por uma lata de alumínio que serve para coletar os insetos; um cooler; uma placa de circuito e uma lâmpada colorida.

Maria e Fernanda explicam que a ideia é descobrir qual espécie de mosquito é atraída por determinado tipo de luz e também qual delas atrai uma maior quantidade de insetos. O projeto realiza testes com quatro variações de cores de luzes: azul, verde, violeta e vermelha.

“O mosquito é atraído pela luz e quando ele chegar nela, vai ser sugado pelo cooler. Temos a parte de baixo aberta para dispersar o ar”, detalha Maria.

Sérgio Souza Custódio Filho, professor e coordenador do curso técnico de eletromecânica, explica que já existem armadilhas comerciais semelhantes a essa. A perspicácia nesse caso vem da vontade de criar um recurso sustentável e acessível. Um objeto que as pessoas consigam reproduzir em casa, a partir de material reciclável.

“Essa armadilha fez parte de um projeto chamado ‘Meninas na Ciência’. No início do ano o nosso professor de biologia procurou a gente aqui da mecânica e falou que queria fazer um projeto para pegar mosquito”, conta.

Meninas se sobressaem na engenharia

Israel Peixoto Moraes, professor do curso de automação industrial, e Sérgio Souza Custódio Filho, ao comentar sobre o desenvolvimento técnico das alunas, ressalta que na área de engenharia, considerada masculina, a atuação feminina vem se sobressaindo.

No caso do IFPA, há um aumento na quantidade de mulheres que são estudantes nos cursos de eletromecânica e de automação também. No caso deste primeiro, em 2023 haviam oito meninas na turma, e 15 meninos. Esse número representa o dobro de alunas em relação à turma anterior, que possuía quatro.

Ainda que o desempenho de Maria e Fernanda se destaque, a insegurança vez ou outra dá as caras, momento em que as meninas se questionam sobre não terem aprendido determinados detalhes técnicos antes.

São os professores que rebatem a indagação: “Que meninas da idade delas, que estudam em outros lugares, têm conversas sobre circuito elétrico, resistores, e que entendem de coisas técnicas?”.

O futuro dessas meninas, nas áreas de STEM, tem tudo para ser grandioso.

 

Aluno constrói máquina para quebrar castanhas

Aos 20 anos de idade, Werdeson Messias Lopes Soares está matriculado no curso de mecânica e trabalha arduamente na construção de uma máquina para quebrar tucumã e castanha-do-pará. O projeto recebe incentivo do programa de Auxílio a Projetos de Inovação e Pesquisa Aplicada (APIPA), após ter sido selecionado em um edital.

O jovem veio de Irituia, distante cerca de 500 quilômetros de Marabá. Por lá, ele sempre lidou com questões do campo e produção rural. Daí sua inspiração para o desenvolvimento da máquina. “Quando se tornou nosso aluno, ele começou a visualizar coisas que podem ajudar sua comunidade”, compartilha o professor Israel Peixoto Moraes.

Messias tem origem em família carente e reflete que se tivesse permanecido em sua cidade, teria poucas oportunidades de estudo e trabalho. Aqui em Marabá ele mora com os tios e não pensa em voltar para a cidade onde foi criado. Atualmente, o garoto faz estágio na Sinobras e tem proposta para ser efetivado após concluir o curso no IFPA.

Aos 20 anos, Messias trabalha em uma máquina que pode beneficiar produtores de tucumã e castanha-do-pará

“Quando eu vim para cá, estava fazendo o 9º ano (Ensino Fundamental) e pagando matéria em outro. O que foi ruim né? Eu pensava em voltar. Mas passei na prova aqui (IFPA) e vim fazer o ensino médio”.

O menino e a máquina

Ainda que sua montagem esteja avançada, levará alguns meses para que a máquina fique pronta. A verba financeira para sua construção é escassa, apesar de Messias ter recebido financiamento da APIPA. A maior parte dos recursos foi utilizada na compra de placas solares, que serão responsáveis por gerar energia para colocar a máquina para funcionar.

Além desse material, o aparelho é composto por uma esteira, responsável por levar a semente até uma lâmina – muito afiada – que irá separar o fruto da casca (que será partida e não esmagada).

A máquina foi criada do zero, desde o seu desenho até sua fabricação. Israel ressalta que no instituto os alunos conseguem fazer tudo sozinhos, a partir de materiais reciclados/sucata de outras máquinas e aplicando os conhecimentos adquiridos nas aulas práticas.

O trabalho técnico e criativo desenvolvido pelos jovens iniciantes está no nível de engenheiros, mas é realizado por alunos do ensino médio.

Base do IFPA foi plantada há quase 30 anos em Marabá

 

O Campus Marabá Industrial iniciou sua história em 1995, quando a então Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) disponibilizou uma área para a construção de um pavilhão para a realização do curso Técnico em Edificações. De lá para cá, o prédio implantado na Folha 22 já passou por diversas transformações, incluindo seu nome.

Primeiramente conhecido como Unidade de Ensino Descentralizada de Marabá (UNED), também foi chamado de Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) e, por fim, em 2008, se tornou o Instituto Federal do Pará (IFPA).

O Correio de Carajás foi até o Campus para conhecê-lo e conversou com Everaldo Afonso Fernandes, diretor geral eleito nas últimas eleições (junho de 2023), que entrou em detalhes sobre o presente e futuro da instituição.

DESAFIOS

“Nós temos um tripé de desafios: financeiro, infraestrutura e quadro de servidores. Um orçamento maior resultaria em melhores condições de trabalho e desenvolvimento” reflete Everaldo Fernandes.

Ele observa que seria possível ofertar mais bolsas para estudantes, abrir mais turmas, melhorar a infraestrutura do campus e aumentar o quadro de professores.

“Nós não temos quadra de esportes e, por exemplo, nossos jogos estão sendo na quadra da Escola Jonathas Pontes Athias, aqui do lado. Nós não temos um local adequado dentro das normas da ABNT, para uma aluna que tenha que amamentar um filho pequeno. Isso são desafios que nós estamos trabalhando, temos alguns projetos que estão em fase de finalização”.

Somado a isso, a diminuição de recursos financeiros ao longo dos anos é um dos percalços que atravessam a gestão do instituto. Para Israel Peixoto Moraes, a instituição vem fazendo muito com pouco.

“Como impacto, nós não conseguimos melhorar a qualidade do que já temos. O instituto tem uma estrutura boa, uma qualidade boa, mas a gente ainda tem toda uma questão de equipamentos para fazer práticas com os alunos. Não tem recurso para comprar, porque quando vem é pouco e tem que atender todo mundo”, desabafa Israel.

Hoje o orçamento da rede é o mesmo de 2017, afirma Everaldo. Fator que não acompanhou o crescimento do campus, que atualmente possui um número de alunos e servidores quase três vezes maior. O gestor avalia que há um impacto grande no que diz respeito à assistência ao aluno e da infraestrutura do campus (tópico que é recorrente na conversa).

“Aí você pode perguntar, mas é culpa de quem? Culpa, de fato, de toda a gestão superior. Do próprio Ministério da Educação e Cultura (MEC), que ao longo dos anos vem diminuindo esse valor. Nós chegamos hoje em um patamar que nós estamos com o mesmo recurso de 2017”, diz Everaldo.

Campus industrial do IFPA em Marabá conta com mais de 750 alunos

RESULTADOS

Em 2023, mais de 120 alunos dos cursos técnicos integrados ao Ensino Médio se formaram. Estudantes de edificações, eletromecânica, informática e controle ambiental, que já saem da instituição prontos para o mercado de trabalho, afirma Everaldo Afonso Fernandes.

Mas chegar até esse momento de conclusão não foi fácil. Boa parte desses alunos são de turmas remanescentes da pandemia de covid-19 e vivenciaram tanto um período sem aulas, quanto de ensino remoto. A formatura dessas dezenas de jovens é vista pela gestão do instituto como um dos pontos positivos do ano que findou.

Além disso, também é observado um crescimento em relação às inscrições no processo seletivo da instituição. Resultado atribuído à ampla divulgação do vestibular e à retomada das atividades normais.

“Estou há pouco tempo na gestão, mas acompanho o campus há mais de sete anos e eu avalio que o ano de 2023 foi um ano muito bom em resultados, não só para o Marabá Industrial, mas para todo o IFPA”, comemora Everaldo.

Gestores e educadores do Campus do IFPA industrial em Marabá
Desafios para que o IFPA seja mais relevante ainda

Se depender da atual gestão, o futuro do Campus Marabá Industrial é otimista. O planejamento instrucional para os próximos cinco anos já está em andamento; haverá audiências públicas para ouvir a comunidade sobre necessidades e demandas. Como é o caso dos cursos técnicos subsequentes (atualmente pausados), que tiveram sua procura impactada pelo crescimento da siderurgia na região de Marabá e também da construção civil.

Everaldo Afonso reflete que os institutos federais têm como perfil o foco no ensino técnico, mas que ele acontece em conjunto com a educação humana e cidadã dos estudantes. Ele ressalta que dentre os fatores que colaboram para a qualidade da educação ofertada pela instituição, está a grade de professores, que é formada em sua maioria por mestres, doutores e pós-doutores.

“Nossos alunos participam de feiras, olimpíadas, são premiados, ganham medalhas. Eles têm projetos de pesquisa com disputa em edital de fomento, recebem bolsa de pesquisa e de permanência. Hoje nós temos três alunos surdos no campus, que recebem auxílio e temos intérpretes para eles e monitores para auxiliarem nas aulas. Esses são pontos muito fortes do IF em todo o Pará, não é característica só do de Marabá”.

Diretor geral recém-eleito, Everaldo diz que não tem posição firmada sobre a criação do Instituto Federal do Sul e Sudeste do Pará

Complementar ao desenvolvimento trabalhado internamente na instituição, há ainda uma nova parceria com a Prefeitura de Marabá. Com ela serão ofertadas cinco turmas de Ensino para Jovens e Adultos (EJA), com 30 alunos em cada uma. Será atrelada a esta modalidade, uma formação profissionalizante, que também é conhecida como curso de formação inicial ou continuada.

Além disso, outros dois grandes projetos estão encaminhados. A construção do refeitório, com estacionamento na parte de baixo e uma quadra de esportes em cima. Esse empreendimento deve custar em torno de R$ 4 milhões.

No segundo projeto, a pretensão é construir no terreno ao lado um bloco pedagógico, com três andares, salas de aula, laboratório, auditório. Ambicioso, esse plano tem um orçamento que gira em torno de R$ 12 a R$ 14 milhões.

Atualmente, o IFPA como um todo não tem esse recurso, mas Everaldo afirma que estão sendo buscadas fontes para custear os projetos, sejam elas parlamentares ou junto ao MEC.

Instituto Federal do Sul e Sudeste do Pará?

A criação do Instituto Federal do Sul e Sudeste do Pará é um tema constante em discussões atuais sobre a educação desta região. Seu desejo de criação é manifestado, principalmente, pela comunidade do Campus Rural do IFPA.

Questionado pela reportagem sobre sua opinião acerca do assunto, Everaldo Afonso afirma que sua função como gestor é ouvir a comunidade e fazer valer o que for decidido.

Hoje, se você perguntar se eu sou a favor ou contra, não sou nenhum dos dois. Atualmente, nós ainda estamos na fase de debate, conversas.  É algo que não envolve só a comunidade acadêmica, mas toda a comunidade regional, tanto Marabá quanto o sul e sudeste do Pará”.

O diretor conta que a instituição aguarda que haja uma evolução nessas tratativas para que então entre no debate. “Aí, sim, poderemos avaliar, ou darmos a nossa opinião, sobre essa possível criação”.

Para ele, um novo instituto traz uma nova cara para a região, resultando em uma nova identidade. “Esse debate vai acontecer em algum momento e nós estaremos prontos para isso”, finaliza.

  

IFPA EM NÚMEROS

Atualmente, o IFPA Campus Marabá Industrial conta com cinco cursos integrados: informática, eletromecânica, edificações, automação industrial e controle ambiental. Já cursos superiores são quatro, sendo duas licenciaturas: uma na área de informática e outra de letras. E dois tecnólogos, um em eletrotécnica industrial e o outro em gestão ambiental.

Duas especializações são ofertadas por demanda, uma em gestão da produção industrial, que é muito voltada para o mercado industrial, e outra para a formação de professores para o ensino técnico.

Há também um curso técnico subsequente de metalurgia com uma turma ativa. Entretanto, o instituto possui outros seis cursos subsequentes habilitados, ainda que não estejam sendo ofertados no momento: mecânica, química, edificações, automação industrial, eletrotécnica e agrimensura.

Em termos de estrutura, o campus conta com dez salas de aula, sendo que duas delas são improvisadas. No total, o instituto possui dez laboratórios, sendo um de cada curso (e dois de informática), detalha Josélio Rodrigues, diretor de ensino.

O quadro de servidores conta com 112 profissionais, no total. Deste montante, cerca de 70 são professores e outros 42 são técnicos.

Em torno de 750 alunos compõem o quadro discente atual, incluindo os regulares e aqueles que têm matrículas pendentes por algum motivo.

(Luciana Araújo)