📅 Publicado em 10/09/2025 14h54✏️ Atualizado em 10/09/2025 17h31
Uma atividade pedagógica se transformou em gesto de empatia e cidadania na Escola Estadual de Ensino Jonathas Pontes Athias , em Marabá. Em solidariedade a Juliana Sousa, a mulher que foi covardemente agredida com 60 socos no rosto, em Natal, Rio Grande do Norte, estudantes escreveram cartas de apoio a Juliana. A iniciativa partiu da professora Aline Lima Pinheiro, que leciona Língua Portuguesa e Eletivas na instituição. Os envelopes serão entregues em mãos a Juliana ainda esta semana, em um momento que certamente será de grande emoção.
Em entrevista ao Correio de Carajás, Aline conta que a atitude nasceu da necessidade de voltar o olhar para a causa que comoveu todo o país. “A gente precisa, minimamente, estar formando cidadãos de bem, que sejam humanos ao olhar o outro, ao tocar o outro e ao escrever uma carta para o outro”, explica.

Ela conta que a ideia surgiu em agosto, durante as atividades de volta às aulas, quando os alunos participaram de uma dinâmica sobre saúde emocional e compartilharam experiências pessoais delicadas. “Eu pensei: já que sou professora de linguagens, tenho que realmente trabalhar isso de alguma maneira. E a infeliz coincidência é que, em pleno Agosto Lilás (mês de conscientização sobre a violência contra a mulher), tivemos o caso da Juliana”, relata.
Leia mais:A educadora conta que os estudantes foram convidados a escrever cartas de afeto e acolhimento, uma forma de exercitar o gênero textual no contexto de uma carta íntima. O resultado: mais de 100 mensagens, muitas ilustradas e decoradas, foram preparadas para serem enviadas a Juliana.
A professora ainda confidenciou a dificuldade de alguns alunos, que, por não se verem em lugar de fala, demonstraram receio em levar a mensagem. “Eu os orientei a escrever como forma de construir um mundo melhor para todo mundo”, diz Aline.
NÃO É SÓ UMA CARTA
A atitude envolveu turmas do 1º, 2º e 3º ano do ensino médio. Muitos alunos não tinham participado da dinâmica inicial, mas se comoveram com a história de Juliana. Em entrevista, a representante do 3º ano, Beatriz Rodrigues, descreveu o que sentiu ao escrever sua carta: “Eu quis mostrar que ela não está sozinha naquele momento. De alguma forma, mostramos apoio a ela”.

Beatriz diz que, mais do que apoiada, Juliana deve se sentir abraçada e não ter vergonha do que aconteceu. “Com essa atitude, mostramos que tanto homens quanto mulheres vão estar do lado dela. Nenhuma mulher merece passar por aquela situação”, reflete.
Assim como Beatriz, João Marcelo Oliveira, também do 3º ano, contou que a proposta foi um desafio. “No dia, foi um tanto inusitado, porque não esperava esse tópico e, na hora de escrever, me deu um branco, já que não tenho nenhuma conexão com a Juliana.”
Ainda assim, João fez questão de transmitir uma mensagem direta. “No último parágrafo, disse para ela fazer o que a razão e o coração mandam”, conclui

ENTREGA SIGNIFICATIVA
As mensagens serão entregues pessoalmente pela professora em Natal, no Rio Grande do Norte, onde Juliana vive. Além dos envelopes, Aline vai levar lembranças do Pará, como bombons e biscoitos de castanha, para apresentar a Juliana um pouquinho dos sabores do Norte.
Aline finaliza confidenciando o que espera do momento: “Nunca sofri violência, então seria ousado dizer que imagino a dor dela. Mas acredito que receber cartas de adolescentes aqui do Sul do Pará, atravessados pelo que aconteceu, será muito significativo. Talvez seja algo que ela nem espere, mas que pode tocar profundamente.”
Mais do que um exercício, a iniciativa mostrou como a escola pode ser espaço de humanidade. Além de trabalhar o gênero textual, os estudantes também tiveram a oportunidade de se colocar no lugar do outro e, acolher, mesmo à distância.